Unidos do Tijucano adentra na floresta em seu enredo para o Carnaval Virtual 2020.

O GRESV Unidos do Tijucano apresenta seu enredo em busca do título do Grupo Especial do Carnaval Virtual com o enredo: “Mbaé cocar” de autoria do enredista Cleiton Almeida. A Arte do logo do enredo do ilustrador Igor Avelino.

 

FICHA TÉCNICA:

Presidente: Nícolas Gonçalves
Carnavalesco: Nícolas Gonçalves
Intérprete: Roberto Eloy
Enredista: Cleiton Almeida
Ilustrador da logo de enredo: Igor avelino

 

ENREDO:

Mbaé Cocar

Autor: Cleiton Almeida

Com o correr e o gritar do vento pelas matas, uma bromélia prenha desperta. Em seu ventre ela gera dois tipos de vida: uma física, material, palpável desde o princípio; e outra que nessa primeira etapa existe apenas como vazio, um corpo abstrato que desenha uma ausência do primeiro.

Na terra onde vegetal e animal são vidas de mesmo valor, a bromélia abre suas folhas lentamente e dá à luz um bicho de duas pernas, dois braços e coloração avermelhada como suas próprias flores. Acoplada à cabeça do ser parido, nasce uma semente. Não são a mesma vida, mas dois corpos que se constituirão juntos.

A floresta que abriga tal existência é morada de diversas formas de existir. Não há algo para além da natureza. Toda forma de vida é a própria natureza. Vegetais, animais e minerais se inter-relacionam de maneira fluida. Conversam entre si e incorporam-se.

Ao sair do ventre da bromélia, o bicho caminha em direção a um majestoso pássaro que mirava o mistério da vida. Ao se aproximar dos enrugados pés da ave, sente algo tocar sua cabeça. É uma pena que caiu lentamente e se encaixou à semente: forma-se, assim, o seu primeiro cocar. O pássaro pia e sela o destino do corpo do bicho ao do seu companheiro de jornada.

O vento sopra, a água corre… a floresta é polifônica e desperta curiosidades em seu novo habitante. No ninho da ave que o presenteou, ele percorre as curvas da trama da palha. Deixa-se escorregar no sobe e desce das linhas que, unidas, formam um abrigo. Ao tentar tocar novamente o chão, é impedido. Cai em cima de uma grande pena. O impacto da queda levanta as penugens ao redor, que criam uma colorida nuvem para envolver o visitante. Rapidamente, o bicho levanta os braços e captura algumas delas para acrescentar ao seu cocar e, dessa maneira, crescer espiritual e fisicamente. Debaixo da espessa camada que acabara de levantar, encontra inúmeras contas e sementes de texturas e tamanhos diferentes. Entusiasmado, ele adorna o corpo que leva em sua cabeça.

A dona do ninho se aproxima e com suas afiadas garras descasca alguns frutos, provocando uma chuva de matérias. O bicho bebe e come, mas principalmente aprende. Ele não têm o bico, as penas ou as garras da ave, mas tem a capacidade de reproduzir seus gestos utilizando-se de outras ferramentas. Todo o conhecimento é incorporado em seu cocar, o guardião do seu poder.

Em busca de outros saberes, o bicho sobe nas costas da ave e se aventura com ela em um voo sobre a mata. Acima das copas ele observa a grandeza do universo e percebe o quão pequeno ele é diante de tudo aquilo. Ele tem a consciência que ele serve à terra, e não o contrário.

A cada batida da asa o tempo passa em uma velocidade própria…

Ao pousar, o bicho só deseja conhecer mais profundamente a riqueza da vida e explorar as relações com os outros seres. Ele encontra algumas folhas atraentes e se alimenta delas para iniciar a nova etapa de sua jornada. Após alguns passos em direção ao horizonte e um forte amargor em sua boca, ele sente seu corpo mais forte, duro e limpo. Sua visão e seu cocar se expandem. Sensações novas afloram em sua pele.

A essa altura do trajeto, o bicho já entende que a vida é muito além do que flores e que nem todas as relações são mutuamente benéficas. Há também as competições. É preciso sobreviver em uma constante batalha de forças e estratégias.

Sua sabedoria é ímpar. Utilizando-se de poucos materiais ele fabrica ferramentas sofisticadas para caçar outros animais a fim de se alimentar e incrementar seu cocar. A experiência, os testes, os erros e os acertos o fazem descobrir as melhores formas de alcançar seus objetivos. Com um arco, uma flecha e muita concentração ele atinge alvos a grandes distâncias. Com uma lança afiada e uma jogada precisa, é possível garantir o sucesso. Lembrando-se das tramas do ninho, ele constrói redes e cestos para capturar vítimas mais frágeis. E para as mais difíceis, ele pensa em elaboradas armadilhas que podem enganar até mesmo os animais mais astutos.

Sempre com muito respeito e consciência, o bicho solidifica seu lugar naquele espaço e garante que todas as formas de vida continuem existindo. As lutas não têm como objetivo dizimar o outro. Mesmo a violência possui sua harmonia.

O bicho, ao absorver tantas energias, já possui um aspecto formoso, imponente. Seu cocar também exibe fisicamente os ganhos de cada processo. Carrega em sua corporeidade uma parte de cada etapa.

No entanto, toda boa história tem um pouco de drama. Ao caminhar pela floresta em uma noite de pouca luminosidade, o bicho, acidentalmente, pisa em uma cobra. A picada é imediata! O veneno invade suas veias e a dor o derruba no chão. A cobra passa por cima de seu corpo e abandona um pedaço de sua pele no cocar.

O bicho se contorce na terra. A dor é contínua. Sua visão fica embaçada e imagens inéditas se formam em sua mente. A poucos metros de seu corpo ele avista uma gigante preguiça descendo de uma árvore. Ela caminha lentamente e a cada passo seu forte odor fica cada vez mais insuportável. Ela pisa no bicho, mas ele não sente seu peso. Ela segue seu rumo sem se importar com o desgraçado que pena de dor. Deixa apenas alguns pelos que se enrolam às tramas do cocar.

O bicho grita de sofrimento, o efeito do veneno parece não passar. Sua boca aberta, porém, é um belo mistério a ser desvendado por um pequeno sapo que espreita a cena. Bastam apenas dois pulos para o sapo saltar dentro da boca do bicho, que rapidamente o prende em seus dentes, fazendo veneno ser espirrado para todos os lados. O que escorre pelas penas do cocar, altera todas as cores. O que escorre por sua garganta, age como um antídoto para o veneno da cobra. A dor é cessada, mas as visões distorcidas, aparentemente, não. Na esperança de melhorar, o bicho se alimenta de ervas que, assim como o veneno, também transformam as cores de seu cocar e, além disso, expandem sua consciência sobre o mundo.

Ao retomar sua caminhada com a impressão de ter superado as adversidades, ele se depara com o pior monstro que já encontrara: um ser coberto de panos, com pelos grandes no rosto, odor forte e grunhidos diferenciados. E não era apenas um, mas vários. Um bando que porta equipamentos desconhecidos e possui olhar sanguinário. Assustado, mas destemido, lança flechas contra o inimigo, fazendo-o recuar pela mata. O bicho aproxima-se da área em que os seres estavam e encontra algumas coisas que caíram na fuga. Ele as incorpora em seu cocar, que a cada experiência ganha mais forma e imponência.

Ao sair dali, por receio dos estranhos animais retornarem, ele reflete sobre a semelhança entre seu corpo e o daqueles bichos. Eles pareciam ser o mesmo tipo de vida. Uma mesma espécie. Contudo, ao mesmo tempo, eram muito distintos. Não se portavam da mesma maneira. Aqueles bichos não possuíam um cocar, não eram integrados às outras formas de vida.

Longe dali, após seguir a canção do vento por um longo período de tempo, o bicho ouviu um estranho canto. Não era o vento, não eram as árvores e nenhum outro animal conhecido. Ele, curiosamente, parecia ouvir sua própria voz ecoando. Aproximou-se do som e abriu o caminho para visualizar o que teria por trás das folhagens.

Para sua surpresa, vê novamente um bando de bichos cujos corpos assemelham-se ao seu. Dessa vez, entretanto, a semelhança é ainda mais intensa. Eles não trajam tecidos exóticos ou portam instrumentos desconhecidos. Pelo contrário, todas as coisas que ele vê são coisas que o próprio utiliza. Eles também têm cocares! Na fome pelo conhecimento, ele sai de trás das folhagens e saúda os demais bichos. Não dá nem três passos, é atingido por uma flecha e cai no chão. Será o seu fim?

O tempo mostra que talvez seja um recomeço. Os bichos que o atacaram cuidam de seus ferimentos e o acolhem em sua sociedade. De fato, são membros de um mesmo agrupamento de vida. O bicho aprende mais sobre as relações, sobre os elementos, sobre as entidades. Conhece novas energias e novas manifestações.

Entre tantos aprendizados, um se destaca. É lhe ensinado o tocar da flauta como ritual de agradecimento pelo alimento conquistado. Ele passa a ver os instrumentos não só como arma, mas como meio de gratidão. A musicalidade é primordial nessa configuração de vida que ele agora integra. Os corpos dançam, festejam e se conectam com diferentes espiritualidades. Balançam seus cocares, que absorvem a energia dos seres invisíveis que habitam a terra. Relações de conexão íntima.

Tantas experiências trazem a maturidade, tanto do bicho quanto de seu cocar. Os sentimentos pelos outros membros da sociedade se intensificam e há, então, a descoberta de um dos mais nobres: o amor. O ritual de união é um dos mais sagrados da vida dos animais. A união entre duas almas ocorre em uma grande celebração em que os cocares de ambos os envolvidos recebem uma camada com as maiores penas encontradas pelas matas. Dessa união nascem frutos, fertilizados pela penetração dos corpos. Uma semente de cada cocar se une no interior de uma bromélia para gerar um novo ser.

Passa o tempo, o vento, a vida. Toda carne tem seu fim. Certo de que cumpriu suas missões na terra, é hora de partir, em espírito, para outro plano. Hora de viver outras experiências. Para isso, seu cocar é retirado de sua cabeça. Finda-se a relação em que um corpo não vive sem o outro.

O bicho se vai em alma. Com o tempo, seus ossos são incorporados ao seu cocar que já não existe mais como vida, mas como relicário. É fonte de conhecimento, objeto sagrado que guarda respostas para os outros animais. O cocar torna-se presença.

 

INFORMAÇÕES DA DISPUTA DE SAMBA:

ATENÇÃO COMPOSITORXS!!

Pela primeira vez o G.R.E.S.V. Unidos do Tijucano abre as portas para disputa de samba-enredo. Quer participar da família Tijucano com seu samba? Dê uma olhada nas regras:

REGRAS

– Um mesmo nome só pode estar presente em no máximo 3 sambas concorrentes;
– Os sambas deverão ser enviados até dia 14 de maio de 2020 às 23h59 para [email protected];
– No e-mail, identificar no assunto: “Samba-Enredo Tijucano 2020”. Conter no anexo áudio em mp3, a letra do samba e nome completo dos compositorxs em PDF;
– Não há exigências para a gravação, contanto que letra e melodia fiquem compreensíveis;
– Fica ciente que poderemos realizar fusão entre obras, bem como fazer alterações no samba escolhido;
– Para retirada de dúvidas, entrar em contato pela página da escola no facebook. (https://www.facebook.com/unidosdotijucano/)

 

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