Ungidas traz o cerrado para o carnaval Virtual em seu enredo

O GRESV Ungidas anunciou seu enredo para o Carnaval Virtual 2019, que disputará o grupo de acesso, a escola apresentará o enredo: “O lamento do violeiro pelo Cerrado brasileiro” que abordará a destruição do cerrado brasileiro ao longo dos anos. A figura de um violeiro conduzirá o desfile da escola, seguindo sua linha de enredos críticos, para ressaltar a importância deste bioma e gritar que a manutenção e preservação do cerrado está nas mãos de cada um.

 

FICHA TÉCNICA

Presidente: Eduardo Tannus
Vice: Murilo Polato
Carnavalesco: Eduardo Tannus
Diretor de carnaval: Marcos Felipe Reis
Intérprete: Leandro Thomaz
Corte de Bateria: Netto Gomes e Duda Maciel
Primeiro casal de Mestre-sala e Porta-bandeira: Brayan Andrade e Lee Shona Poc
Primeiros destaques: Isac Ferreira e Dani Cabral

 

O Lamento do Violeiro pelo Cerrado Brasileiro

Apresentação: Lamento pelo leite derramado

“Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei, ao Deus do Céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por falta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão”
(trecho da canção Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Nelson Gonçalves)

Ah, cumpadi! E todos os dia o violeiro cantava essa musica aqui ó, enquanto oiava o mato, que está quase que desaparecendo. Antes aqui era tudo rio, tudo verde, mas aí um povo da cidade levou tudo embora né. Agora tudo é seco, faz muito calor, não tem mais bicho, só tem seus osso. Um tempo atrás era tudo tão bonito, a gente sabia a hora de chover, a hora de estiar, os bicho que vinha comer e quais frutas eles vinha procurar.
O que o pobi violeiro, que nunca quis que sua mata se transformasse em areia, podia fazer era só cantar, cantar e lamentar pelo leite derramado. Cantava na beira do lampião, sentado no tronco do ipê que ainda restava, as música que choravam seu paraíso que foi lá pelas bandas da ganância humana.

Setor 1: Das profundezas, o reservatório da vida aflora para a explosão da vida
”Tanto que choveu
Tanto que molhou
Coração se encheu de amor e transbordou
Água que correu ribeirão levou
Foi pro oceano e lá se evaporou”
(Água que Correu, Almir Sater)

Não é todo mundo que sabe dos causos que hei de contar, mas no Cerrado tinha muita água para brotar. Três grandes bacias hidrográficas que banham nosso país nasciam na região – Araguaia-Tocantins, São Francisco e Prata – e “invinham” levando a vida por onde seguiam. E, ainda por cima, grandes rios que abraçam o Amazonas nasceram no nosso “cerradin”. Tudo isso devido à fartura em aqüíferos em seu subsolo, dentre eles, o Guarani que alimentava as nascentes e nos traz vida. Ai, quando “merguiei” junto às águas deu pra ver uma imensa variedade que me “assusto”, que fez do cerrado o grande coração pulsante desse nosso país, minha gente, onde todos os caminhos irrigavam dum jeito especial o continente com de água pura e “potáver”.

Tanta água pulsante criou vida ao redor. Dentro das suas curvas podemos ver “socas”, cascatas, ilhas fluviais, praias fluviais, alagadiços e uma terra que era tão fértil para brotar as matas ciliares dos “cerradões”. As plantas brotavam e “davam fruto” em condições impressionantes. E daí os animais chegavam: era tempo de ver o que a natureza tinha de “mior” a oferecer, ver a água invadir a terra e firmar nas veredas o equilíbrio perfeito entre si, em alagadiços cuja beleza é vista muitos alqueires de distância pela imponência dos buritis.

Setor 2:a vivacidade das matas douradas
“Oh, seriema de Mato Grosso teu canto triste me faz lembrar
Daqueles tempos que eu viajava, tenho saudade do teu cantar

Maracajú, Ponta Porã, quero voltar ao meu Tupã;
Rever os campos que eu conheci, a ciriema eu quero ouvir”
(Ciriema, Tonico e Tinoco)

E quando chegávamos na terra firme, na selva da América do Sul, a gente via o coração dourado do continente. No meio de tanta planta, por um “cerradão” de Jatobás, Ipês, e Unhas-de-Vaca, fomos andando nos Pequizeiros, nos cajazeiras e cupuaçus, tinha léguas e léguas de capim-dourado, dourado como ouro, subindo os morros e as serras.
Por essa flora bonita por demais, surgia um montão de animais, como lagartos, marsupiais e mamíferos, assim como o grande rei do cerrado: o lobo-guará.
Lá no “arto” do céu tinha uma diversidade de aves, que sempre buscavam por suas flores. Dava pra ver uma “mistureba” de vida nessa imensa savana. Os planaltos centrais eram coroados pela exuberância da Serra Dourada, o grande Olimpo nacional.

Setor 3: e chega o homem…
“Choro da cascata, caia no grotão
A lua de prata, ouvindo a canção
Voz da serenata, o gemer do violão

Sino da capela, dobra em oração
Cigarra cantando tarde de verão
Cabocla sambando, noite de São João

Esse é o Brasil Caboclo
Esse é o meu sertão”
(Brasil Caboclo, Tonico e Tinoco)

Os primeiros homens a “entrar” no cerrado foram os Paleoíndios do Roncador, na região do Mato Grosso. Várias tribos povoaram a região em suas imensas ramificações com diferentes hábitos, mas sempre em sintonia com o ambiente. No Maranhão “viero” os papagaios amarelos da França, que deixaram os Guajajaras em coisa ruim, que “piorô” com os holandeses. Infelizmente, aquela união “bunita” e sagrada da natureza com os homens não foi respeitada, a grande oca sumiu mais e mais nas mãos sangrentas dos “invasô”. Quando o Maranhão foi povoado, sobrou “pros índio lutar” para não haver a escravidão.
Os bandeirantes pareciam até cupins e formigas, misericórdia, tomados tudo de ganância e pensando só em “cavucar” essas trincheiras e túneis em busca ouro, turmalina, ametista e esmeralda. Em Goiás, Bartolomeu Bueno – o “terríver” Anhanguera – foi o cabra que “espaiou” o mal para os Goyás, os Avás-Canoeiros, entre outros vários da família Jê que povoavam a região, no Mato Grosso, a “Vila Bela” que “num” tinha tanta formosura assim com os Xavantes, donos da terra, por causa do isolamento ou de escravidão.

Setor 4: A Ruralização Daninha
“Entre águas poluídas vejo lágrimas correndo
São as lágrimas do povo pelo rio que está morrendo
Eu também estou chorando e a tristeza não acaba
Eu choro por ver morrendo o rio de Piracicaba.”
(Adeus Rio Piracicaba, Tião Carreiro e Pardinho)

Até o século XX, após o fim do ciclo do ouro, a região que não tava povoada, foi toda obrigada a dar espaço “pro pessoal” no interior. Com a construção de Brasília, a ocupação do “cerradão” começou a ameaçar a região. A Ditadura Militar incentivou as Frentes Pioneiras, no qual pessoas de áreas mais longe fizeram grilo nas suas terras pra construir “terra pra mais de metro” que colocavam em cheque a mata nativa, fazendo com que em 25 anos o Cerrado perdesse 50% de sua mata.
Mesmo após a redemocratização do Brasil, o agronegócio continuou “forte pra daná”, se arrastando pelas veias “dos cafundó” do país, abraçando, sufocando e sugando toda a natureza. Os “invasô”, em busca da grana, transformaram tudo em pé de soja, de cana e milho que pareciam erva daninha, repletos de venenos. Uns “bicho se espaiavam” bem rápido, era o boi pra corte com a pecuária intensiva, extensiva e acima de tudo invasiva para exportação de carne. Todos os estados que antes eram abraçados pelo Cerrado possuem hoje uma economia baseada em muita coisa no agronegócio. Além da destruição da natureza, tiveram mão nas ruindades sociais como o trabalho escravo e verdadeiros massacres de comunidades pobres, ribeirinhas e indígenas. Hoje em dia, apenas 20% do território original do Cerrado sobrevive com mata nativa.

Setor 5: Resistir é preciso! Sobreviver é obrigatório!
O Cerrado é o ecossistema brasileiro menos protegido por parques nacionais. Porém, por mais poderosos que sejam os coronéis latifundiários, a resistência existe: Além dos índios, a ciência também exige muito de plantas nativas da região, por propriedades medicinais como o Araticum, a Pata de vaca, o Cipó São João, o Murici, o Cambará e a Gabiroba; Artesanais como o Capim Dourado até mesmo propriedades combustíveis como o Pequi.
Inúmeros esforços têm sido feitos e parques tem sido criados para preservar o que restou. Sem o Cerrado, as quatro principais bacias hidrográficas do país ficariam sem água.

A Chapada dos Veadeiros, patrimônio natural da humanidade, é a coroa que clama por dias melhores e pela necessidade de preservação da região. A grande questão é: quanto tempo o Cerrado vai resistir depois de tanta degradação? Dependerá da humanidade, que tanto destruiu, replantar a semente da esperança para que ele exista para sempre? Ou, como o violeiro anuncia, lamentaremos pelo deserto que a América do Sul se tornará?

A escolha é nossa!

Setor 1: do subterrâneo o aquífero que vira os rios (carro rio araguaia)
Setor 2 dos rios migrando pras terras (tripé veredas)
Setor 3 a exuberância das matas (carro o coração dourado da América do Sul)
Setor 4: o início da ocupação humana (tripé dos cupinzeiros às esmeraldas)
Setor 5: as fronteiras agrícolas e suas consequências (carro sojal daninho)
Setor 6: as batalhas pela resistência (carro chapada dos veadeiros)

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