Tamarineira cantará o Vale do Paraíba no Carnaval Virtual 2022

Logo Oficial da escola.

A escola de Jundiaí falará sobre as riquezas do vale do Rio Paraíba do Sul. O desfile se inicia na riqueza do próprio rio e sua importância, passa pela prosperidade da época do café na região e segue pela riqueza imaterial, com a cultura do povo caipira.

O enredo é de autoria de Marcos Felipe Reis. Rayner Pereira, membro da equipe da Sociedade Rosas de Ouro, com passagens por Gaviões da Fiel e Águia de Ouro, segue renovado como carnavalesco para 2022. O logo de autoria de Adalmir Menezes.

Confira abaixo a sinopse oficial:

Pavilhão oficial da agremiação.

Um Vale de Riquezas

Ah, o Vale do Paraíba do Sul! Um dos berços históricos de nosso Brasil atravessou épocas distintas, sempre demonstrando sua força ao longo dos tempos. Vale que é abraçado pela Mata Atlântica, abrigando toda a exuberância da fauna e flora, além dos indígenas e espíritos encantados da floresta. A mata faz parte da Serra do Mar, protegendo nascentes e o encontro dos rios Paraitinga e Paraibuna, de onde nasce o Rio Paraíba do Sul, que nutre e abastece as duas grandes regiões de São Paulo e Rio de Janeiro. O Paraíba do Sul é lar também de grandes peixes que enriquecem a fauna local e alimentam a população ribeirinha. O rio tem vida e dá vida a esse grande vale de riquezas.

“Olhando o rio de frente
a extensão é igual à graça
do berço em que sua alma
adormecida sob a calma…
Eternamente ficou.
Para além cresce a serra
Quanta magia e segredo!
Cantam as águas revoltas
Que na trilha deste Vale
Fluem livremente soltas”
(DONATO, Jozé)

O Vale do Paraíba do Sul abriga muita história. Do passado recente do Brasil, traz a memória do café. Desde pouco depois da chegada da Família Imperial, o vale teve suas terras rabiscadas pelo verde dos cafezais, que se tornou uma das marcas do Império, sendo o principal produto do país. Quem cuidava dessas terras era o Visconde do Rio Preto, que tinha centenas de escravos a seu trabalho nos milhares de pés de café. Os grandes casarões refletiam a riqueza da corte, trazendo para dentro do vale a riqueza da capital Rio de Janeiro. Mas toda essa prosperidade era manchada pelo sangue dos escravos. A escravidão tingiu mais ainda as terras já vermelhas da região por anos, mesmo depois da lei de liberdade que foi só para inglês ver mesmo, no meio das plantações dos morros do Vale. O povo negro era como peças do mercado, sendo comercializado e desumanizado, separado de suas origens e de quem eles eram. Muitos dos escravizados que conseguiam fugir do açoite, para serem guiados pelas matas adentro, precisavam das batidas altas dos tambores que acompanhavam o canto que ressoava dos quilombos que se formavam pelas entranhas da Serra da Beleza. É deste batuque pela liberdade que nasce o jongo da região, tocado em roda nos dias de santos para manifestar fé, gratidão e amor à terra do vale no Quilombo São José da Serra.

Logo Oficial completa da escola.

“Quando eu morrer não precisa me enterrar
Me joga no Paraíba, deixa as água me levá
A carne os peixe come, os ossos deixa afundá”
(“Quando eu Morrer” jongo de Mãe Zeferina, do Quilombo São José da Serra) 

O Quilombo de São José da Serra, protegido pelo seu jequitibá centenário, pela força de seus habitantes e pela sabedoria do Preto Velho, resiste até hoje em suas raízes africanas, com muita música e boa comida.

E esse misto de religiosidade, festa e culinária se espalhou pelo vale e se estende até hoje no que compõe a riqueza imaterial desta terra, a sua cultura. Todos são recebidos com uma cozinha única, uma mesa farta, com leitão assado e a tradicional farofa de formiga, iguarias culinárias da região. Tudo isso temperado pelo toque encantador da viola e de manifestações culturais locais, como a Catira. Este povo festeiro e acolhedor já foi descrito por Monteiro Lobato como preguiçoso e “parasita da terra”.

“Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças.” (LOBATO, Monteiro)

Mas aí chega Mazzaropi e resgata o orgulho de ser caipira, que ganhou ares de esperteza, passando a ser o grande vencedor de suas demandas. Nada de preguiça, passou a prosperar e a dar força para sua cultura e sua gente.

A religiosidade também é forte neste povo caipira, que parte em romaria à Aparecida, para pedir paz e prosperidade à Mãezinha negra do Brasil.

“Sou caipira pirapora
Nossa Senhora de Aparecida” (TEIXEIRA, Renato)

E tantas outras manifestações atravessaram o tempo trazidas pelas famílias em suas tradições. O Moçambique e o congado para o Divino hoje em dia são formas de agradecimentos às preces atendidas. A Folia de Reis também é forte na região, com muita música e dança. Aliás, o samba de São Paulo também teve muita influência dos cantos de lavoura e da musicalidade da fé caipira em seu andamento, muito chamado de “samba rural”. E, coroando o sincretismo entre tradições católicas e matriz africana e toda a simbiose fé-comida-música, a Festa de São Benedito, santo negro padroeiro dos cozinheiros, anunciada pela Cavalhada.

Enfim, o Vale do Paraíba do Sul está sempre de portas abertas para quem quiser se entregar à cultura caipira, às bençãos de São Benedito, ao aroma e sabor do café e às forças do rio. E a Tamarineira faz hoje um convite, mesmo que virtual, para que todos possam conhecer um pouco deste grande Vale de Riquezas. Embarque conosco nesta viagem!

SETORES:
SETOR 1: O Ouro Azul – a bacia do Paraíba do Sul
SETOR 2: O Ouro Negro – o Vale do Café
SETOR 3: O Ouro Imaterial – a cultura caipira do vale

Referências:
DONATO, Joze. Poema e poesias. Rio Paraíba do Sul. Jun. 2010. Disponivel em: http://m.jozeddonato.webnode.com.br/news/rio-paraiba-do-sul-/. Acesso em mar. 2022.
Guia Vale historico. História do Vale Histórico. 2022. Disponivel em: https://guiavalehistorico.com/historia-do-vale-historico. Acesso em mar.2022.
INCRA. Coleção Terras de Quilombos. Comunidade Quilombola São José da Serra. Rio de Janeiro. 2016. Disponível em: https://www.gov.br/incra/pt-br/assuntos/governanca-fundiaria/sao_jose_da_serra.pdf . Acesso em mar.2022.
Jongo do Quilombo São José. Mãe Zeferina. Quando eu morrer. Disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=fDDyoFx9FaI. Acesso em mar.2022.
LOBATO, M. J.R. Urupês. Velha praga. O Estado de São Paulo. 1914. Disponivel em: https://queimadas.dgi.inpe.br/~rqueimadas/material3os/mlobato.htm Acesso em mar. 2022.
MESTRINEL, F.A.S. O samba e o carnaval paulistano. Governo de São Paulo. Publicado em fevereiro de 2010. Disponível em: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao40/materia06/. Acesso em jan. 2022.
Rede Globo de televisão. Agronegócio. Globo Rural. Globo Rural retrata o Vale do Paraíba em especial de 42 anos. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10195958/programa/. Acesso em jan. 2022.

Regras do concurso de samba-enredo:

Os interessados em inscrever sua obra devem gravar o samba com duas passadas, à capela ou com instrumentos, e enviar tanto o arquivo de áudio como a letra do samba (em .doc) para [email protected], até o dia 10 de maio. O mesmo e-mail vale para compositores que queiram sanar dúvidas.

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