República das Ungidas traz o Saara e os imigrantes árabes no Rio de Janeiro

Logo oficial da agremiação.

A República das Ungidas, escola sediada em Barra Mansa, cidade da região sul do estado do Rio de Janeiro, trará o enredo S.A.A.R.A. – A dádiva do Rio de Janeiro de autoria de seu carnavalesco e presidente, Eduardo Tannús. A vermelho e amarelo buscará com seu enredo vencer o Grupo de Acesso 2 e, consequentemente, voltar ao Grupo de Acesso 1.

Confira abaixo a sinopse da agremiação:

Logo oficial completo da agremiação.

“Wadaeaan ya lubnana! wadaeaan suria! wadaeaan falastina! wadaeaan ya masra! wadaeaan ya almaghrba!” (adeus, Líbano! Adeus, Síria! Adeus, Palestina! Adeus, Egito! Adeus, Marrocos!)

Assim diziam os árabes tentando escapar dos horrores promovidos pelo império Otomano no Oriente Médio. Como o Império tomava toda a região, minorias eram feitas de prisioneiras e tinham 3 destinos: a escravidão, a morte ou o exílio. 

E preferindo a opção que rendesse liberdade e vida, milhões de árabes, fossem eles muçulmanos, judeus ou cristãos, começaram a reviver a veia artística dos ancestrais dos mares: os fenícios.

E com a bênção dos deuses fenícios, os árabes começam a chegar no Brasil. Mas o ealim jadid (novo mundo) não era exatamente o que os “turcos” esperavam: o contraste cultural, o idioma…

Não demorou para os recém-chegados buscarem formas de sobreviver em um país que não ligava muito para sua população. O jeito foi se adaptar. O mascatismo começou a virar uma forma de ensinar sobre a cidade e a sociedade cariocas.

Enquanto isso, as poucas lojas de tecido e mercearias da região começaram a precisar dos serviços desses imigrantes, que já sabiam como convencer bem a clientela. E assim, de uma área perigosa e relativamente abandonada, a Rua da Alfândega, juntamente com as adjacências, ia se tornando um centro comecei acolhedor e interessante para a classe ascendente da cidade. Não era de luxo não era caro. Mas sempre tinha a melhor qualidade. Tecidos, armarinhos, cafés, restaurantes e uma verdadeira feira de Baghdad surgia no coração da cidade, dando novo ar aos prédios antigos lindos.

Porém, o governo quis extirpar a beleza do centro da cidade, cortando-o ao meio com a horrenda avenida Presidente Vargas. 

“Vão acabar com a Praça XI…” cantavam saudosistas todos que viviam pela região. Afinal, ali era onde aconteciam grandes eventos e era um marco importante para a história da cidade. Mas nem tudo foi destruído, graças a muita luta dos moradores e profissionais pelos seus direitos. 

Após essa dura cicatriz ser deixada no coração da cidade, gerando uma série de edifícios tão horrorosos quanto a avenida, a SAARA resistia, até receber uma nova leva de imigrantes: desta vez vindos da China, do Japão e das duas Coreias. Os ramos alimentícios, de tecidos, de roupas e de variedades foram revolucionados por esses novos irmãos. A região floresceu com suas casas históricas, comércio de qualidade e espaço de comunhão e perfeita convivência entre povos completamente diferentes (Até rivais). Enquanto árabes eram mortos pelos sionistas no Oriente Médio e tentavam se vingar, promovendo diversos conflitos, aqui a comunhão entre as religiões era consolidada. A região era tão íntima, que judeus, ortodoxos, apostólicos e muçulmanos, além dos brasileiros, criaram a Sociedade de Amigos da Rua da Alfândega e Adjacências: 

S.A.A.R.A 

Os anos foram se passando e, a cada luta por sobrevivência na “Terra Brasilis”, seguia de acordo com a instabilidade no país. Até que um duro GOLPE aconteceu em toda a nação: a renúncia do presidente João Goulart e a implantação da ditadura militar no Brasil. 

Isso foi um verdadeiro pesadelo para o comércio do país, que tinha que lidar com juros altos e a inflação altíssima, precisa do fazer mágica pra conseguir manter as portas abertas.

Porém, isso levou a muitos dos vendedores a mudarem o ramo de seus estabelecimentos. Em tempos de tanta tristeza, tanta melancolia e tanta violência, o jeito era literalmente afogar as mágoas na vida privada. E foi assim que o ramo de festas surgiu e floresceu na região. 

Com isso a S.A.A.R.A. acabou se tornando literalmente uma região de mercado popular. A Ditadura fez muitos comerciantes começarem a vender material barato e até mesmo de qualidade duvidosa. Porém, tais vendedores não se tornaram os protagonistas do lugar graças à força que a sociedade da S.A.A.R.A manteve para evitar que o local virasse um espaço de contrabandistas.

O empobrecimento da região foi determinante para o fechamento de muitas lojas, restaurantes e cafés tradicionais, ao passo que lojas de artigos para o dia-a-dia iam surgindo, como lojas de artigos de couro, lojas de artigos elétricos, empresas de serviços de manutenção e brechós. Além desses tantos golpes, a ditadura finalizou por demolir, em 1973, o prédio da Escola Nacional de Belas Artes, transferindo a Escola para o Fundão. Somente em 1984 os tempos iriam mudar.

Depois que a democracia voltou, muito mudou, muito se oscilou. De inflação a tempos bons, de tempos bons a tempos ruins, algo sempre esteve presente cantando nessas vielas: Samba!

Uma coisa que juntou, misturou e ficou: a interatividade e cooperação da SAARA em ser determinante para a confecção dos desfiles das escolas de samba desde os primeiros anos. Nos anos de liberdade, surgiram as lojas pra artigos de carnaval. 

Podia ter Impeachments ou não, a SAARA agora já estava consolidada: era um dos maiores centros de comércio popular do país, com uma variedade imensa de produtos no atacado e no varejo. O mais interessante? É que nesse espaço também sempre se celebrou. 

Celebrou o carnaval, as festas cristãs, as judaicas, as muçulmanas e as de religiões de matriz africana. Do Ramadã ao Bar Mitzvah, da Quaresma até a alvorada de São Jorge, do Carnaval até São Cosme e Damião, uma realidade sempre irá reinar naquele espaço: 

A PAZ ENTRE POVOS QUE TANTO ALMEJAMOS

Shukham-lak ya aynny,
Eduardo Tannús. 

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