República das Ungidas protesta contra o agronegócio em seu desfile na Edição Especial do Carnaval Virtual

Logo oficial do enredo

O GRESCSV República das Ungidas apresenta seu enredo e samba para a Edição Especial do Carnaval Virtual que acontecerá no próximo dia 14 e 15 de Fevereiro deste ano. A escola irá revisitar seu carnaval de 2018 onde a escola apresentaria o enredo “O lamento do violeiro pelo cerrado brasileiro” porém por problemas de saúde do presidente e carnavalesco da agremiação impediu a apresentação.

A escola decidiu participar da edição especial por dois motivos: o primeiro motivo é por não ter participado da edição que ela se esforçou muito pra acontecer, devido a crise de saúde do presidente e carnavalesco. E o outro é que esse projeto, é um projeto que ele tinha um sonho que fosse apresentado, então a escola visualiza agora uma oportunidade para apresentá-lo.

A República das Ungidas é composta por Eduardo Tannús, como presidente e carnavalesco. Vice-presidente e pesquisador Murilo Polato. Diretor de Carnaval: Isac Ferreira. Diretor Artístico: Vitor Fernandes. Diretor criativo e musical: Victor Nowosh. E intérprete: Leandro Thomaz.

Confira o samba que embalará o desfile da agremiação na Edição Especial:

Confira a sinopse do enredo:

O lamento do violeiro pelo cerrado brasileiro

“Oh viola, só você quem me restou!”

Logo oficial do enredo

Lamentava um humilde lavrador, do seu banquinho em frente à sua casa de Pau-a-pique desbarrancando pelo rio, antes abundante, agora seco. Ele alertava e alertava, e hoje só tem a lamentar com sua viola. Somente um resistente sabiá para aguentar tamanhas intempéries ocasionadas na região. Pegou sua viola e começou a contar tudo que aprendeu. Desde o início de sua vida:

“Da água que aqui brotava, o solo da nação banhava
Trazia vida ao Cerrado do Brasil
Este cenário que o homem destruiu”

Uma história que começou muito cedo, quando nosso país fazia parte da Gondwana: no centro do continente, foram se formando imensas e complexos sistemas de cavernas, e um destes sistemas tornou-se o maior aquífero do mundo, que passou a alimentar 3 bacias hidrográficas que abasteciam metade da população da América do Sul; para a Argentina navega o lindo Rio Paraguay, rasgando o semi-deserto e fazendo o sertão virar pomar, Opará, o Rio-Mar, faz São Francisco abençoar o Nordeste. Por fim, um longo rio brotou para levar os ares da savana até às úmidas terras amazônicas, quando o Araguaia vira Tocantins e vai beijar o Rio Amazonas nas lindas ilhas Paraenses.

“Onde antes tinha mato, hoje em dia já não há
Onde antes tinha bicho, hoje em ia já não há
Já não mais se vê a sombra do frondoso jatobá
Já não mais se vê correr o feroz lobo-guará”

Com sua fauna e flora de tempos pré-cambrianos, a vida do cerrado habita todos os espaços. Lindos peixes habitam cavernas de nascentes, espaço de mil insetos e aracnídeos. Para seus rios, as mais diversas espécies de peixes, anfíbios, répteis e plantas. As veredas se abrem pelos planaltos para apresentar a grandeza dos Buritis e todo seu Esplendor, enquanto capivaras seguem plenas em sua sombra. Elas observam o movimento no cerradão. É tempo de frutescência dos Cajás e das Sibipirunas. Enquanto os morcegos e bugios semeiam junto às Maracanãs, as araras Canindé correm para os abricós. Mais adiante, em uma mata esparsa, pequizeiros e mais pequizeiros… Até que chegamos aos campos…. Que capim lindo! Parece de ouro! Nossa! Quantos animais de tocaia! Melhor ir mais adiante!

“O índio que é o dono da terra, legado à miséria e à escravidão
O branco é como uma peste, se espalha sem medo e traz destruição
E a natureza sofre com a exploração”

Uma terra tão grande, farta em comida e segura para se viver não poderia ser melhor para que Yanomamis, Karajás, Tupinambás, Cariris, Xingus, Goyazes, Pataxós, Kayowás, Kayapós e Guaranis, entre tantas outras centenas de povos, fizessem um lar próspero e muitas vezes já civilizado. Porém, uma doença extremamente feroz chegou ao Brasil: o branco.

No século 17, o branco, buscando o ouro, foi adentrando a terra alheia promovendo destruição e violência. Entre imposições culturais e extermínio quase ou completo de diversos povos indígenas, o branco começou a transformar um paraíso na savana em buracos envenenados de mineração. Mais tarde, resolveu começar a mudar completamente uma natureza que já era mais que o suficiente para alimentar uma população muito maior do que a já existente.

“A vegetação mudou (Oh meu deus)
O negócio quer lucrar (Oh meu deus)
Onde existia vida
Tem veneno em cada canto a devastar (Meu lugar)”

A peste branca, não satisfeita em exaurir todas as riquezas minerais de todos os estados banhados pelo Cerrado, decidiu por transformá-lo em apenas uma lembrança. Durante a ditadura militar e após a construção de Brasília, os mandatários do país acharam que promover projetos para povoar áreas do centro-oeste e norte do país, chamado “fronteiras agrícolas”, que nada mais era que derrubar a floresta para plantar latifúndios monocultores. O país mergulhou em um progresso às custas de sangue, uma vez que o retorno não vinha para todos. A ideia de “povoar” não vingou uma vez que a suprema maioria das cidades continuam minúsculas, mas o índice de violência e miséria em várias é impressionante. Enquanto isso, nos campos vemos verdadeiros núcleos de extermínio: plantas, animais e até pessoas são derrubadas, caçadas ou expulsas e assassinadas por grileiros. Por fim, tanta pressão da doença peste branca que hoje só resta 20% do Cerrado.

“Te suplico por favor (Oh meu Deus)
Me dê forças pra lutar
Ouça o canto das Ungidas
Não deixe o paraíso se acabar”

Uma terra que hoje resiste com tantos parques lindos, com uma riqueza tão grande que até o artesanato local ganha seu charme merece ser melhor preservado! Então, por que não propor a resistência? As Ungidas convidam vocês para conhecerem esses parques e lutarem para que eles cresçam, para que mais fazendeiros pensem em cultivo de plantas nativas, que a consciência ambiental passe a imperar mais na cabeça das pessoas.

Seja no Delta do Parnaíba ou na Serra da Canastra, seja no Jalapão ou no Xingu, Seja no Planalto Central ou nas chapadas Diamantina e Veadeiros, haverá sempre uma profissão de cores das pétalas de flores de ipê anunciando que: “Não importa o quanto a peste branca insista, a mãe natureza sempre saberá resistir!”

Comentários

 




    gl