Ojuobá! Conheça enredo do Império do Progresso para o Carnaval Virtual 2022

Logo oficial do enredo

Pavilhão oficial da agremiação

Quarta colocada no Carnaval Virtual 2021, a Império do Progresso divulgou o seu enredo para a disputa do Grupo Especial do Carnaval Virtual 2022.
A escola de Paraíba do Sul/RJ apresentará o enredo “Ojuobá – Milagres do Povo”, de autoria do seu presidente Diego Araújo, a ser desenvolvido pelo carnavalesco Romulo Roque.

Confira abaixo a justificativa e sinopse do enredo:

Justificativa

Quais milagres as mãos calejadas de homens e mulheres são capazes de produzir? E o quanto de saber está inserido no amalgama popular que forma o Brasil com a suas múltiplas formas de ser. Os milagres do povo são verdades!

As múltiplas africanidades dos povos trazidos a este país durante a diáspora negra são os pilares que assentaram nossa brasilidade tão profusa. As raízes foram fincadas nesta terra, e se fortaleceram, resistindo ao tempo e a crueldade imposta. E floresceram, feito baobá ou imbondeiro, e a luta que se renova a cada dia.

A S.R.E.S.V. Império do Progresso retorna à Passarela do Samba Virtual, e inspirada na canção “Milagres do Povo” de Caetano Veloso, orgulhosamente, apresenta seu enredo para o Carnaval Virtual 2022: “Ojuobá – Milagres do Povo”. Esta canção nasce de uma pergunta feita por Caetano Veloso a Jorge Amado em entrevista ao jornal “O Pasquim” quando o cantor quis saber se o escritor tinha fé no Candomblé. Jorge Amado respondeu que não acreditava por ser materialista, mas, que gostaria de ser místico como Dorival Caymmi. Ao fim, ainda completou: “Mas que eu já vi o candomblé fazer muitos milagres, isso eu já vi e são milagres do povo”.

“Ojuobá” é o cargo dado nos terreiros de tradição Ketu para aqueles que são incumbidos de zelar pelos elementos votivos ligados ao orixá Xangô. São eles os “Olhos do Rei”, os guardiões que fazem valer as ordens e a justiça do grande rei. É a partir do entendimento que traçamos a narrativa deste enredo que exaltará a ancestralidade, a força, a presença e a importância da presença da negritude na construção de parte da história do Brasil.

Os milagres irão se revelar na passarela emanando do povo a luta, fé, arte e cultura da negritude. As vozes negras não serão caladas, o punho cerrado está erguido. O que eles viram, nós veremos outra vez. Cantaremos outra vez…

“Ojuobá ia lá e via…”

Sinopse

“Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar […]”

Em um terreiro, o poente dos lampiões, o corpo arrepia,
Ao ver chegar o grande rei que há de nos valer!
Kabiesile! O grande trovão que ressoa pelos ares,
Kabiesile! O fogo que abrasa o chão pisado,
Kabiesile! A força, o poder e a realeza!
De tantos nomes que lhe deram os homens,
Dadá! Oba Afonjá! Obalubé! Ogodô! Obá Kossô!
Jakutá! Aganju! Baru! Oranian! Airá!
Nós te louvamos e evocamos sua presença!
Xangô! Venha ver seus filhos de pele preta!
Xangô! Venha ver o que eles viram!
É dia de justiça pela história dos teus!

“[…] Tudo chegou sobrevivente num navio
Quem descobriu o Brasil?
Foi o negro que viu a crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres de fé […]”

Por estas encruzilhadas, ladeiras e ruas,
Na baía de todos os santos e baianidades,
Onde baixam os deuses ancestrais do mundo,
Onde sobem a colina enfeitando o Bonfim.
Alfaiates e os búzios pela verdade,
Brasil independente, rascunho da nação,
Com seus caboclos, armadas e guias,
Ponteira do 2 de julho, estandarte nacional,
No livro de aço da Bahia, o “dono da terra”,
E a Santidade da libertação!

“[…] Obá
É no xaréu que brilha a prata luz do céu
E o povo negro entendeu que o grande vencedor
Se ergue além da dor […]”

Logo oficial do enredo

E por mais que o corpo estivesse cativo,
Foi a preta atitude de resistir que fez a história seguir.
Na lida da vida, o passo ao paço, servidão e ganho,
Pé de moleque descalço nas ruas com doces,
Moça bonita, pano da costa, flores e torsos,
Tem fruta e feira, sinhá! Ô iaiá, vem comprar!
Preta atitude, candeia da liberdade,
Insubmissão, Luiza luzindo a abolição.
E lá na beira do mar, maré mansa,
Saveiro de saudade, jangada e pescador,
Sol de quarar gerações, corações,
Bacias, balaios, amores em grãos de areia
Areal que vira imensidão de emoção,
Beirando a pedra alta dos Tupinambás,
Coqueirais de Itapuã, Abaeté misterioso,
Ô lavadeira, mãe d’água, sereia,
Conto de areia.

“[…] Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Xangô manda chamar, Obatalá guia
Mamãe Oxum chora, lagrimalegria
Pétalas de Iemanjá, Iansã-Oiá ia
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia […]”

Da negritude que encanta por todos os cantos,
“Roma Negra” diaspórica, “reconvexa” e resiliente.
Matriarca dos tantos brasis deste Brasil,
Rosário dos pretos, tambores de terreiro,
Aos olhos do mundo ogãs, yabás e yawôs.
Ébano do sagrado, tecedura profana,
Quem te viu te fez retrato ancestral,
Quem te sentiu fez dos traços sentimento,
Alecrim, alfazema e ervas pra purificar,
A Bahia perfumada de pimenta e dendê,
Onde abriram-se sete portas, sete encantos,
Patrimônio do povo, o gueto e a fé,
A minerva negra baila feliz na ladeira,
Candace do “Pelô”, mulher negra, rainha.

“[…] E paira para além da história […]”

Para se encantar nas linhas do homem genial,
Amado por muitos, Jorge do povo brasileiro.
Que fez da preta inspiração a “Tenda dos Milagres”,
Bênção das artes, bordando heróis em bonecos,
Pequeno palco de sonhos, verdade em cena,
De Zumbi e Chico Rei, Castro Alves, luta e poema.
E pelas ruas faz a anunciação da ancestralidade,
O Babalotim vai na frente, é cortejo, é ritual,
Afoxé, ijexá e axé pra toda essa gente.
Rememorando os reinados africanos,
Tá no sangue a herança e o orgulho,
Manifesto das ruas, raça e coragem,
Ergue o punho, mantém seu fundamento.
E se renova no sorriso dessa criançada,
Esperança, igualdade e futuro,
Imortalizando os milagres do povo,
Que aos olhos de Xangô, nesta avenida,
Estão presentes!

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