Império da Praça XI se prepara para conhecer uma floresta de sonhos

Logo oficial da agremiação.

A preto e dourado apresentará no carnaval virtual 2021 o enredo Floresta de Sonhos de autoria de Lucas Guerra e Rainer Canto. A escola carioca pretende com esse enredo retornar ao grupo especial após sua queda no ano anterior. Para isso, a escola fez modificações importantes para a construção do próximo carnaval, como por exemplo, a chegada de Guerra, autor da sinopse e também diretor artístico da escola e a revelação de Rainer Canto como seu carnavalesco.

Confira abaixo a apresentação de introdução e a sinopse da escola:

APRESENTAÇÃO

Logo oficial completo da agremiação.

Quando eu fui embora da minha terra estava buscando o meu sonho, o peito cheio de esperança em uma vida mais leve que a do meu sertão. Me aprumei rumo ao Norte, subi na boleia e o que era seco virou úmido, molhado. Cheguei no tal “país das águas”, também conhecido como Amazônia e foi aí que tudo aconteceu.

Me fizeram escravo, na lei dos barões da borracha eu e tantos outros fomos presos em seringais no meio da floresta. Sustentamos toda região, da nossa labuta é que vinha a prosperidade da sociedade que continuava nos prendendo e explorando, até que tudo quebrou.

Sobrevivi durante anos, olhava para o céu e via as estrelas que alumiavam meu chão. Arigó abandonado, escravo esquecido e jogado no mato. Em noite de lua cheia, cantava de saudade ao redor da fogueira, conheci e celebrei as lembranças dos outros cativos, lado a lado moldamos nossa cultura. Foi no beiradão que surgiu nossa tradição. Sonhei com as árvores de pé, não precisa derrubar para explorar, esse é o legado que aprendi por lá. De longe ouvi a voz dele ecoar por essa ideologia, era uma luta pela preservação e respeito dos seringueiros e dos seringais. 

A mata que me abrigou e ouviu meu choro de tristeza também me ensinou e transformou o que sou. Sou o caboclo da mata que desce o beiradão e vai pro igarapé, sou ribeirinho valente, forte e guerreiro que, apesar de tudo, permanece de pé. Do Norte e Nordeste sou a mistura, da minha vida fiz minha luta e da floresta fiz o meu sonhar.

Hoje venho aqui, nesse Império de nome Praça XI, a minha história contar, não sou artista, muito menos professor. O que vou te contar é tudo aquilo que, um dia, o cabra da peste sonhou. De uma diáspora com muitos encontros e desencontros, sente, preste atenção que você vai conhecer a grande “Floresta de Sonhos”. 

SINOPSE 

Nordestino sertanejo, filho do Sol e do chão rachado
Trabalhador de fé, sonhador da ilusão, chefe de roçado
O rosto marcado guarda minha história
No meu “padim Ciço” imploro por minha vitória
A poeira do pau de arara chega trazendo uma luz
É a boleia, rumo ao “país das águas”, que o meu sonho conduz
Um sonho onde a seca não maltrate tanto o meu corpo
E vida do dia a dia não tenha mais o amargo gosto
Sonho esse onde o choro seja apenas de alegria e esperança
E que da terra brote mais felicidade no olhar de cada criança
O peito cheio de lembranças e o coração em pedaços
Por esse chão difícil e árido que estão os meus laços
Rumo ao meu sonho pego a bagagem
No caminho a lágrima já escorre de tanta saudade

“Trouxe na bagagem toda a esperança
Sorriso veio junto, acho igual de uma criança”

Dia vai, noite vem e a paisagem começa a mudar
A trajetória até lá me fez cada vez mais sonhar
As histórias contadas nas noites de insônia
Fizeram eu me encantar pela Amazônia
O forte barulho das águas soa como um recital
Troncos, galhos, árvores e cipós guardam a capital
Chego na terra úmida de nome Manaus
Mal sabia que a minha vida seria aprisionada no seringal
Aqui as árvores dão leite e fazem a vida prosperar
O meu sonho de uma vida melhor vai ter que esperar
Jogado na floresta com índios e negros fugitivos
Uma simples cabana de palha era nosso único abrigo
Fui explorado, maltratado e escravizado
Pelos grandes barões meu sonho foi aprisionado
O luxo e esplendor da Belle Époque era selecionado
Quem de fato sustentava tudo era privado
O progresso trouxe modernidade e muito gabo
De almas presas aos dormentes fez-se a ferrovia do diabo
O suor da escravidão da borracha teve um marco
Em cima de muitas vidas se ergueu um grande teatro 

“Com o meu suor se ergueu monumentos
Teatro feito por vidas, do Norte e Nordeste
Minha história foi escrita”

Um grande golpe nos barões deixaram suas vozes estridentes
O esperto e velho inglês roubou das terras 70 mil sementes
Do outro lado do mundo a seringueira também brotou
E aqui na floresta a vida da alta sociedade desabou
Toda pompa e extravagância dos ricos foi cortada
A indústria e exploração da borracha estava quebrada
A falência dos barões escancarou todo o desmazelo
Seus sonhos de riqueza e fortuna se tornaram um grande pesadelo
Feito mercadorias sem serventia fomos deixados de lado
Presos nas florestas e seringais, os arigós estavam abandonados
A saudade da minha terra trazia a vontade de chorar
Lembrava dos costumes, de toda minha herança e começava a cantar
O tempo no seringal me aproximou do negro e do nativo
As correntes que nos ligavam nos fizeram de cativo
Com eles aprendi, ensinei e chorei
Contando sobre o sertão a minha cultura finquei
Na floresta juntamos nossas festas e celebrações
Do negro, do índio e nordestino fizeram-se as consagrações
Ribeirinhos que rogam aos céus em nome da fé
Caboclo que embarca no rio rumo ao igarapé
Tradição criada e recriada no beiradão
Batuque, dança e cantoria para o meu São João

“Na bagagem também veio, fé, cultura e tradição
Festa de Bumba-Meu-Boi, aqui o Boi virou paixão”

Depois de tanto sofrimento voltamos a sonhar
A verde floresta, agora sim, era o nosso lugar
Talha a árvore, escorre a seiva e começa a explorar
Acende a fogueira, faz a borracha e segue sem desmatar
Passamos para nossos filhos nossos conhecimentos
De geração em geração, nossa memória foi perpetuada com discernimento
Se um dia sonhamos com a floresta preservada
De longe ouvimos dizer que com esse menino ela estava assegurada
Chico cresceu, sonhou e lutou pelos seringais
Conseguiu os direitos, a verdade e dignidade com seus ideais
Gritou pelas floretas, pela vida e preservação
Seu legado é fruto do amor que sentia pelo seu chão
O seringal que me abrigou também me ensinou
As marcas físicas mostram que somos um povo que lutou
Os caminhos percorridos foram difíceis e desafiantes
Como bom nordestino, aprendi que sempre devo seguir adiante
Subi no pau de arara, encarei o pesadelo na busca da vida melhor
Fui aprisionado na seringueira, sofri o que tinha de pior
Abri novos caminhos, desafios enfrentei
Sou Caboclo Ribeirinho e a minha história eu sei
Do sertão para a mata, um novo mundo adentrei
Da minha luta fiz a vida, e da vida minha lei
A “Floresta de Sonhos” me ensinou que vale a pena sonhar
Pois o caboclo que não sonha deixa de caminhar 

“Do Nordeste vieram, a esperança trouxeram
Na bagagem o sonho
Amazônia… Amazonas, o seu novo lugar”

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