Na busca do acesso ao Grupo Especial, Dragões Lendários aposta em um desfile conscientizador.

O ano era 2008, o dia 19 e o mês agosto, exatamente nesta data era fundado o Grêmio Recreativo Escola de Samba Virtual Dragões Lendários. Sua sede, São Gonçalo/RJ e suas cores, o preto, amarelo e branco.

Segundo Victor Fernandes, nosso entrevistado, “a Dragões surgiu em uma conversa com algumas pessoas sobre o carnaval virtual numa comunidade no antigo Orkut. A ideia sempre foi de brincar o carnaval de maneira mais ativa, já que, naquele momento, trabalhar no carnaval real era uma coisa muito distante para todos nós ainda.”

Completar 12 anos com a Dragões é gratificante, não seria possível sem a ajuda todos, o primordial sempre foi o respeito e o comprometimento com que tratamos o nosso trabalho. Sempre estamos abertos ao diálogo, sempre foram muitas pessoas ajudando, até mesmo pessoas que não fazem parte do quadro oficial da escola.

Conhecida por inúmeras vezes ter ficado na sexta colocação, a agremiação adotou este número para si, o que lhe rendeu o enredo de 2015 que possuía o título “Seis”. Coincidência ou não, a Dragões possui, neste ano, seis membros em sua equipe, são eles, Victor Fernandes, presidente e fundador da agremiação, Isac Ferreira, como carnavalesco, Núbia Hirose, assumindo o microfone oficial da agremiação, Victor Nowosh, na direção musical, Marlene Martimiano, pesquisadora e autora do enredo junto ao carnavalesco Isac Ferreira e por fim Odirley Isidoro, o qual participa com a responsabilidade de aconselhar a agremiação em suas decisões.

Com o enredo “Mercadores da Fé”, de autoria de Isac Ferreira e Marlene Martimiano, a agremiação apresentará na avenida a evolução da comercialização em templos religiosos. Nas palavras de Isac Ferreira, “o tema surgiu de um antigo enredo da agremiação que abordava as mazelas do mundo na época, mazelas que continuam nos assolando ainda hoje com maior ou menor intensidade.”

Ainda segundo Ferreira, no desenvolver deste enredo de 2020, a agremiação optou por focar em apenas uma das mazelas que o antigo enredo abordava, assim “neste momento vemos as questões religiosas se misturarem com as questões governamentais, sociais e, por que não, financeiras do nosso país. Quando nos aprofundamos na pesquisa desta relação entre governo e religião vimos que esta inter-relação quase nunca beneficia a população. Logo, desde o início da civilização humana se está atrelada a questão de benefícios obtidos às custas da população. Com a urbanização causada pela revolução industrial, a fragilidade emocional se tornou muito maior e, com isso, as promessas de consolo ou de uma vida melhor após a morte se baseavam em contribuições para que houvesse uma intercessão dos astros ou do divino, assim, tornando-se cada vez mais comuns.”

Com o intuito de transmitir uma mensagem significativa ao público com seu carnaval, a Dragões explorará a ideia de que não são as religiões que conduzem a mercantilização da fé e sim os que a conduzem. De forma consciente, nosso segundo entrevistado, Isac Ferreira disse ser “importante que o fiel tenha consciência de como seus atos podem afetar o próximo e que saiba respeitar a forma de pensar do outro, que em boa parte dos casos pode ser discordante da sua. A crítica do enredo em si, se volta para a falta de empatia com que muitos dos chamados “religiosos” e “esotéricos” tratam seus fiéis, colocando as necessidades da religião muito acima das necessidades, muitas vezes imediatas, dos seus seguidores. Por isso, por mais que por muitas vezes apontemos as manipulações que ocorreram em alguma religião específica, fica claro que não são os fiéis e a religião em si que são criticados, e sim aqueles que muitas vezes às conduzem para que tenham benefícios para si.”

Por fim, o presidente da Dragões Lendários estendeu o convite a todos para acompanharem os desfiles virtuais, sendo a Dragões a 10° agremiação a desfilar no dia 26 de setembro, sábado e último dia de desfiles do Grupo de Acesso do Carnaval Virtual.

E finalizou dizendo de forma bem clara e mais uma vez consciente, “Podem esperar uma escola renovada, que aprimorou seu estilo de fazer carnaval e que vem passar uma mensagem importante, com o nosso toque irreverente, mas muito responsável. Tentamos ter muito cuidado pra atacar quem precisa ser atacado, sem precisar ter que culpabilizar as religiões nesse processo. Queremos deixar bem claro que nossa crítica é aos homens que tentam usar a fé do próximo para seu benefício próprio. O erro não está na religião que o fiel venha a seguir, e sim no homem que a conduz. Também não queremos aqui generalizar as coisas, o que estará no desfile, é o que vemos acontecer de uma maneira mais recorrente, o que não significa que todas as igrejas passem pelo mesmo processo. É importante que assistam nosso desfile com essas ideias bem formuladas, não somos contra a fé, pelo contrário, entendemos que ela seja primordial pra construção do ser humano. O que nós queremos fazer, é denunciar qualquer tipo de situação em que essa fé seja desrespeitada, seja pelo motivo que for.”

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