Império da Praça XI lança seu enredo para o Carnaval Virtual 2022

Logo Oficial do enredo.

Pavilhão Oficial da agremiação.

Após o sucesso do seu último e premiado desfile, o G.R.E.S.V. Império da Praça XI renovou com toda sua equipe e lançou, no dia de sua fundação, o enredo que levará para a disputa do Grupo de Acesso I do Carnaval Virtual em 2022. A escola também reformulou o seu brasão e pavilhão.

Viajando até o norte do Peru, o Império da Praça XI busca o campeonato com o enredo “O Resgate da Luz”, de autoria de seu enredista, e diretor artístico, Lucas Guerra.

A escola encomendou o seu samba-enredo e em breve divulgará a obra.
Confira abaixo a sinopse do enredo:

“O RESGATE DA LUZ”

As montanhas sagradas andinas guardam memórias dos nossos ancestrais. Aos pés dessa cordilheira, está uma lendária história do guerreiro que se tornou herói e divindade para o seu povo. Há muitos anos atrás, a costa Norte peruana foi habitada por uma civilização guerreira que marcou a história dos povos andinos. Os Moche, ou Mochicas, dominavam vales entre o mar e a Cordilheira dos Andes. Dentre as diversas habilidades desenvolvidas pelos Moche, a cerâmica e a ourivesaria são as grandes marcas deixadas por essa civilização pré-colombiana.
Os Mochicas tinham na natureza o seu ponto de fé; os deuses por eles cultuados se ligavam à elementos naturais como o Sol e a Lua. Também eram conhecidos por sua força e bravura na defesa de suas terras e no fortalecimento de seus vales. Nas batalhas em que entravam, os Moche costumavam amedrontar seus inimigos com grandes armas de guerra, como tacapes, arpões e adagas de metal.

Na história Mochica um guerreiro se destacou por um grande feito que mudaria a sua vida e a do seu povo. O bravo guerreiro conhecido como Ai Apaec, vivia no alto das montanhas rochosas que cercavam os vales e só descia de lá em tempos de batalhas e culto à grande Lua. Do alto da montanha, Ai Apaec reverenciava o poderoso e reluzente Sol que brilhava e levava luz para o seu povo, fortalecendo e revigorando-os para as jornadas que iriam futuramente enfrentar.

Certa vez, Ai Apaec viu o poderoso Sol ser aprisionado pelas águas salgadas do oceano, fazendo com que toda luz que tocava os vales Moche sumisse e a escuridão fosse despertada, trazendo consigo o medo, a fome e a morte. O guerreiro então, decidiu partir junto de seus companheiros com quem dividia a vida nas montanhas, o cachorro manchado e a astuta lagartixa, que sempre estavam prontos para ajudá-lo em qualquer situação, para resgatar o poderoso Sol. Pegou sacolas de couro com feijões pretos e brancos – um tesouro abundante nos vales -, que seriam usados como moeda de troca na jornada, visto que os Mochicas acreditavam que as marcas nos grãos carregavam mensagens dos deuses. O guerreiro então montou no urubu de cabeça vermelha e sobrevoou as montanhas até a praia, o umbral entre os mundos terrestre e marinho.

Ao anoitecer e pisar nas areias que cercavam as águas, o guerreiro viu emergir os sábios guardiões que protegem e permitem a entrada de qualquer ser nas águas salgadas. Ai Apaec então, explica sua missão e oferta um punhado do tesouro que trouxe, fazendo com que os guardiões lhe dessem uma semente misteriosa para respirar embaixo da água e o alertassem sobre as águas profundas, onde o guerreiro deveria encontrar a narigueira dourada para adentrar as profundezas.  As ondas bateram com mais força a mando dos guardiões, que permitiram a sua entrada no grande mar, e delas surgiu o encantado pórtico de Ni, por onde o guerreiro adentrou as águas salgadas.

O mundo marinho era até então desconhecido pelo guerreiro, mesmo sabendo que iria enfrentar batalhas para o resgate do poderoso Sol, ele se encantou com as belezas das águas rasas de Ni, o mar. Diversas criaturas habitavam os coloridos e orgânicos corais repletos de vida. Adentrando nas águas, o guerreiro chegou à sua primeira batalha. Para encontrar a luz, Ai Apaec precisaria enfrentar o gigante caranguejo escudeiro e derrotá-lo para que a habilidade de suas fortes patas seja conquistada e o ajudasse a caminhar pelas pedras e areias debaixo d’água; o guerreiro conseguiu vencer o crustáceo, e seguiu sua jornada sabendo caminhar pelas rotas marinhas de Ni.

Rumando ainda mais para o fundo, Ai Apaec é surpreendido pela revelação da grande arraia do fundo das águas. Com suas asas, o animal anuncia que novos perigosos serão enfrentados pelo guerreiro se continuar a descer ao fundo das águas. Ele então, entra em combate com a arraia para que ela não o fira com seu ferrão e atrapalhe a sua missão. Vencendo a grande arraia, o guerreiro pega as habilidades de se movimentar rapidamente e de maneira sigilosa de sua rival derrotada, podendo se camuflar junto às pedras e areia do mar. Agora, Ai Apaec está ainda mais forte para seguir sua jornada, sabendo se camuflar, andar sobre os penhascos e ser veloz em caso de perigo.

Depois de vencer as batalhas do pórtico das águas salgadas de Ni, o guerreiro segue sua jornada pelo mar em busca do poderoso Sol. Seu próximo desafio será enfrentar os guardiões do oceano desconhecido, e o primeiro encontro acontece quando o guerreiro se depara com o homem-ouriço e seus espinhos afiados e letais. Em sua narina, Ai Apaec viu a narigueira dourada mencionada pelos guardiões das areias, o guerreiro então oferece uma de suas sacolas de couro com o tesouro dos vales trazidas por ele, em troca da joia e de seus espinhos. O homem-ouriço, encantado pelas marcas nos grãos, aceita a oferta e entrega ao guerreiro a narigueira e os espinhos, que seriam usados como defesa por ele no momento certo.

Após o encontro com o homem-ouriço, o guerreiro vai em busca do homem-baiacu, o último guardião com quem negociaria. Habitando águas mais escuras, o homem-baiacu carregava uma coroa com olhos de coruja, fazendo com que ele enxergasse tudo que estava a sua volta. Também usava grandes brincos protetores de ouvidos, que protegiam a aguçavam a audição embaixo d’água, fazendo com que escutasse até mesmo o mais sutil movimento. Ai Apaec então oferta ao guardião baiacu a sua última sacola com os feijões pretos e brancos em troca dos objetos que lhe dariam mais habilidades para seguir em sua missão. As trocas são feitas e o guerreiro agora conta com todas as habilidades necessárias para concretizar sua jornada. Ele agregou em si, todos os pontos adquiridos pelos habitantes das águas salgadas.

A caminhada do guerreiro chega em águas abissais, habitadas por mistérios jamais revelados por ninguém. O cerne de Uka Pacha, o mundo submerso, é cercado por abismos desconhecidos e de pouca luz, somente criaturas-quimeras vivem nessas águas. No mais fundo ponto da escuridão, Ai Apaec avista um feixe de luz e parte atrás dele na crença de que lá estava aprisionado o poderoso Sol. Lá, o guerreiro encontra uma criatura guardando a entrada de uma caverna carregando o sagrado símbolo espiralado para reencontrar a luz. O caracol gigante vivia entre penhascos no fundo do oceano, sua casca espiralada era como uma armadura forte e quase impenetrável, e dentro dela estava o desafio de Ai Apaec. O caminho espiralado da concha forma um labirinto escuro e misterioso, tal qual a espiral representa todo o ciclo da vida e renovação na cultura Moche. Para que o Sol e toda sua luz fosse encontrada, o guerreiro precisou adentrar a concha do gigante caracol e enfrentar os desafios que lá estavam. Uma grande batalha é travada e o guerreiro derrota a criatura usando arpões feitos com os espinhos do homem-ouriço. Ai Apaec consegue a sagrada concha onde os Mochicas acreditam ser possível escutar os deuses falando através das espirais da vida e da regeneração.

Logo Oficial do enredo.

Derrotando o caracol sentinela, Ai Apaec entra na caverna e vê a mais poderosa criatura dos oceanos, e que também seria a sua mais difícil batalha. Entre as paredes rochosas e ossos espalhados pelo chão, o guerreiro fica frente a amedrontadora quimera da escuridão, que se tratava de uma criatura com cabeça de leão-marinho, asas e ferrão de arraia e dentes de tubarão. O guerreiro acreditava que a poderosa criatura estava com o Sol e trava uma grande batalha com a mesma. A dura luta entre a quimera e Ai Apaec finda com a morte do guerreiro, decapitado com uma adaga de ossos. No mesmo momento, seu corpo se transforma ganhando um aspecto cadavérico, mostrando que Ai Apaec já não pertencia mais à Kay Pacha, o mundo terrestre.

Percorrendo as escadas-caminhos entre os mundos, o espírito de Ai Apaec escuta os gritos e agouros que precedem a entrada do reino de Fur, o temido senhor da morte. Assim como as espirais, os degraus marcam a divisão entre os mundos para o povo Mochica, agora o guerreiro desceu ao mundo dos mortos e encontrou as almas de outros grandes guerreiros em meio a sagrada dança dos mortos. Em dado momento, Ai Apaec começou a perder a visão e tudo ficou escuro, sem conseguir enxergar, o guerreiro entrou em uma espécie de transe onde sentia seu corpo flutuar.

Por sua valentia, força e coragem, Ai Apaec foi resgatado do reino de Fur por um urubu-rei e a grande atobá, as aves mensageiras de Hanan Pacha, o mundo dos deuses.
Em meio as nuvens e os deuses, o guerreiro foi ressuscitado pelas mãos da Lechuza, a sacerdotisa xamã das divindades. Ai Apaec se depara com um lugar completamente diferente, repleto de luz e vida e logo questiona como havia toda essa vida por lá se o Sol estava no fundo do oceano. A sacerdotisa então explica que ao vencer o gigante caracol, Ai Apaec já havia conseguido cumprir com seu objetivo, dentro da sagrada concha espiralada estava o poderoso Sol e toda a sua luz, que junto ao seu corpo, foi trazida para Hanan Pacha e lá libertada para voltar a brilhar e iluminar os mundos andinos.

Após a explicação, o guerreiro desejava voltar para sua montanha, para o seu povo, mas a poderosa xamã explica que sua missão ainda não estava finalizada, antes de regressar para Kay Pacha Ai Apaec precisava assegurar, junto à Pachamama, a deusa mãe da terra, que a vida fosse regenerada. Ele então, caminhou pelo mundo dos deuses em busca de Pachamama, para juntos formarem o enlace vital para a regeneração da terra e do mundo. Do encontro entre o guerreiro e deusa da terra, brotou o ulluchu, a árvore sagrada da vida Mochica. Dos frutos do ulluchu, brotaram as sementes divinais dos deuses, as quais foram abençoadas para germinarem em todos os vales do seu povo. Pachamama o consagrou como o patrono dos frutos germinados, aqueles que fornecem o alimento, o sustento e vida para todos os Moche.

A finalização da missão de Ai Apaec aconteceria em seu mundo, e agora, após o encontro com Pachamama o guerreiro estava pronto para o seu regresso à Kay Pacha, e partir carregando com ele a sagrada concha espiralada. Os Mochicas aguardavam ansiosamente seu guerreiro que agora se tornou herói do seu povo. O guerreiro das montanhas retornou e foi celebrado com honrarias, oferendas e festejos ao seu feito. Mas sua missão ainda não estava concluída. Com o desaparecimento da luz, os vales sofreram com a escassez de alimentos e das chuvas, Ai Apaec precisava pedir junto ao poderoso deus da montanha que as sagradas chuvas retornassem a cair sobre os vales. O guerreiro subiu novamente as montanhas junto aos seus dois leais companheiros e chegou ao templo do deus da montanha, lá ele ofereceu a sagrada concha espiralada e clamou que a divindade permitisse que as águas dos céus descessem sobre as paredes rochas e molhassem novamente o solo dos Mochica. O pedido de Ai Apaec foi atendido e as nuvens carregadas de chuva começaram a se formar no alto da montanha, trovoadas anunciaram que um novo de tempo de fartura e abundância estava chegando aos vales entre a mar e a cordilheira andina. Sementes germinaram, o barro novamente se formou, a vida se regenerou em fartura e abundância.

O poderoso e imponente Sol enfim retornou a brilhar do alto da montanha, o guerreiro que enfrentou os mais diversos perigosos concluiu a sua missão e assegurou para o seu povo o retorno do sustento, da vida e da natureza. O temido guerreiro agora é louvado nos vales como o guerreiro do Sol. Ai Apaec se transformou em figura endeusada pelos Moche como o deus principal da existência. Sem ele, os Mochica teriam sido exterminados pela fome, medo e escuridão. O resgate da luz foi concluído, a agora divindade segue reinando do alto das rochosas montanhas da cordilheira, de onde todos os dias avista o mar e relembra a trajetória de luta e coragem nas águas salgadas de Ni. No primeiro raio de Sol, o bravo Ai Apaec permanece reverenciando o poderoso Sol que surgirá até o fim dos dias iluminando e revigorando os Moche e todas as civilizações andinas.

REFERÊNCIAS

AI APAEC, el héroe Mochica. Museu Larco – Produção de Erika Nakō e Jaime Farias
Pueblo Libre Lima, Peru, 2020. 6 episódios. Disponível em: https://www.museolarco.org/miniserie/ai-apaec/
Acesso em: 10 jan. 2022.

BARS, Cássia Rodrigues. A Coleção Mochica do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP: testemunhos materiais da cosmovisão andina. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, [S. l.], n. 20, p. 345-359, 2010. DOI: 10.11606/issn.2448-1750.revmae.2010.89940. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revmae/article/view/89940
Acesso em: 24 jan. 2022.

BARS, Cássia Rodrigues. O Felino na Iconografia Mochica: Análise dos Padrões de Estilização na Cerâmica Ritual. Orientador: Drª Maria Beatriz Borba Florenzano. 2009. 280 folhas. Dissertação (Mestrado) – Arqueologia, Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, SP, 2009.

JUNIOR, A. A. S. COSMOVISÃO E RELIGIOSIDADE ANDINA: UMA DINÂMICA HISTÓRICA DE ENCONTROS, DESENCONTROS, REENCONTROS. INTERAÇÕES, v. 4, n. 5, p. 149-162, 11.

MUSEO DE ARTE PRECOLOMBINO CUSCO. Museo de Arte Precolombino Cusco,2022. Diversas páginas. Disponível em: <https://mapcusco.pe/>. Acesso em: 12 de jan. 2022.

 

Comentários

 




    gl