Imperatriz Itaocarense levará o bailado Iara para o Carnaval 2022

Loco oficial do enredo

O GRESV Imperatriz Itaocarense apresentou o seu enredo para o Carnaval Virtual 2022.
Disputando o título de campeã do Grupo Especial, a agremiação de Itaocara/RJ irá exaltar a cultura sertaneja através do enredo “Iara”, de autoria do seu carnavalesco Walter Gualberto Martins.

Confira abaixo a justificativa e sinopse do enredo:

JUSTIFICATIVA

Com estreia em 31 de julho de 1946, no Teatro Municipal de São Paulo, o bailado “Iara”, desenvolvido pelo Original Ballet Russo, marcou época ao levar para o palco uma história genuinamente brasileira e, sobretudo, por escancarar o descaso e abandono da população nordestina entregue à seca. Sua concepção teve contribuição de uma trinca de artistas modernistas brasileiros que com maestria souberam ousar e empregar habilidosamente os preceitos do movimento cultural de 1922. O texto desenvolvido pelo escritor Guilherme de Almeida explorou a versão indígena da origem da seca no nordeste atrelando aspectos culturais locais para contar a saga dos retirantes que por longo tempo estiveram abandonados à mercê da sorte e da fé. O desenvolvimento da musicalidade ficou por conta do maestro Francisco Mignone e os cenários e figurinos nas mãos do consagrado Cândido Portinari.

Pavilhão oficial da agremiação.

Como não poderia ser diferente, as apresentações impactaram a opinião pública, tanto na capital paulista como no Rio de Janeiro, capital federal, onde a estreia ocorreu em 16 de agosto de 1946. Mas nada causou mais rebuliço que a notícia da internacionalização das apresentações. Como poderia ser possível mostrar as mazelas do Brasil mundo a fora? A imagem da nação não poderia ser manchada de forma alguma. E foi assim, neste cenário de indignação, sobretudo da classe política, que o mundo conheceu um pouco mais do sertanejo nordestino e sua saga pelas terras do sertão brasileiro lutando contra o castigo da seca e o abandono da nação.

Baseado na história modernista contada neste espetáculo, a Imperatriz Itaocarense vem apresentar “Iara”, um enredo regional de exaltação à força e à resistência que nutre a alma do sertanejo nordestino.

SINOPSE

É noite e no alto do firmamento Jaci reina majestosa clareando as matas, as terras e águas do interior do nordeste brasileiro. A imagem de sua bela face a refletir no calmo rio vai aos poucos se embaralhando com as pequenas ondas que se formam no agitar das águas…Emerge Iara. Sua beleza encanta Jaci que a convida a dançar. Bailam no avançar das horas até que o céu se põe a empalidecer com o despontar de Guaraci no horizonte.

O dia raia, Jaci se despede e Iara se refugia nas profundezas do rio, fugindo dos cortejos de Guaraci. Sob a luz do sol o nordestino desperta e põe-se à labuta… A natureza em harmonia proporciona ao sertanejo o ambiente propício à fartura em suas lavouras, pastagens e criações. Há motivos de sobra para se comemorar e, no cair de mais uma noite, no entorno da pequena igreja iluminada, reúne-se sob um céu de balões e bandeirolas o povo a cantar, dançar, celebrar… Toca a banda, corre a criança, rodopia o boi, evolui a burrinha… As horas se vão e o sertanejo feliz festeja a vida.

Acontece que certa manhã, no alvorecer, Guaraci ainda mais enamorado oferece à Iara suas riquezas e seus encantos, conquistando a rainha das águas que docilmente se entrega à medida que os raios a domina e a aniquila. A água se escassa, o solo arde e a flora se desnuda. Morrem os animais, sucumbem as plantações, padece o sertanejo. No cenário de dor e lamento reina o sol, os espinhos, os cactos e o carcará a espreita de mais um moribundo a tombar.

Chora a criança com fome, berra o cabrito sem pasto, reza a mãe, desespera-se o pai… O sertanejo está só, esquecido no sertão, abandonado na seca e entregue à própria sorte. Retirantes partem em busca de novas terras, de novos horizontes… Os que ficam morrem ou se agarram à oração… Assim o sertão se torna palco de cortejos dos que partem da vida, dos que buscam nova vida e dos que depositam sua vida na fé. À frente das procissões está o beato a rogar clemência e a encorajar o povo a ficar, pois lá no horizonte Deus promete, na forma de um arco-íris, que a chuva há de chegar… Mas as cores pintadas no céu são apenas devaneios do homem santo que fraqueja e lança-se à poeira do chão abatido de insolação a delirar… Em seus braços vislumbra Iara a desmanchar-se em água que oferece aos seus que ainda tem fé e num ato derradeiro proclama que um dia o sertão ainda há de virar mar…

Loco oficial do enredo

O beato se vai e a seca permanece… Renova-se ano após ano fazendo do “sertanejo antes de tudo um forte”, capaz de lutar, de se adaptar, de vencer na teimosia o destino da morte… Eterniza sua luta nas obras de barro, no cordel em versos, nos acordes da sanfona… Recicla a vida e oferta à nação que o abandonou aspectos culturais singulares… O sertanejo no fundo sabe que por mais um ano o chão pode rachar, a chuva pode até insistir em não chegar, mas a verdade é que o sertão há muito tempo já é um imenso mar… de cultura e resistência!

Salve o nordeste!
Salve o sertanejo!
Salve a resistência e a cultura que emana do sertão!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA & DALE GALERIA DE ARTE. Cândido Portinari: Balé Iara. Youtube, 2021. Disponível em: <https://youtu.be/6VxTSePL55M>. Acesso em: 25 de fevereiro de 2022.

Balé Iara – Cenários e Figurinos de Candido Portinari. Disponível em: <https://artsandculture.google.com/story/8wXh_0vYnscwIg?hl=pt-BR>. Acesso em: 12 de fevereiro de 2022.

BENTO, A. O Bailado “Iára”. Rio de Janeiro: Diário Carioca, 1946. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/cache/1445301507488/I0025742-2-0-001954-001330-006783-004616.JPG>. Acesso em: 27 de fevereiro de 2022.

BENTO, A. Os retirantes. Rio de Janeiro: Diário Carioca, 1946. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/cache/5518509833599/I0025773-2-0001954 001330-006783-004616.JPG>. Acesso em: 27 de fevereiro de 2022.

CERBINO, A.L. & CERBINO, A. O Original Ballet Russe no Rio de Janeiro: memórias em movimento. Recife: X Encontro Nacional de História Oral, 2010. Disponível em: <https://www.encontro2010.historiaoral.org.br/resources/anais /2/1269198076_ARQUIVO_OOriginalBalletRussenoRiodeJaneiro-memoriasem movimento.pdf>. Acesso em: 25 de março de 2022.

CUNHA, E. da, Os Sertões. São Paulo: Editora Martin Claret, 2002.

MURICY, A. Pelo Mundo da Música – O Bailado Yara. Rio de Janeiro: Jornal do Commércio, 1946. Disponível em: < http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader. aspx?bib=364568_13&pesq=%22o%20Bailado%20de%20Yara%22&pasta=ano%20194&hf=memoria.bn.br&pagfis=32094>. Acesso em: 27 de fevereiro de 2022.

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