Histórias negras serão contadas pela Belas Artes em 2022

Logo oficial da agremiação.

A escola de Curitiba, capital paranaense, a Belas Artes, levará o enredo Histórias negras separadas pelo atlântico sul. A escola presidida por Igor César Cine disputará o Grupo de Acesso 2, e trazendo um novo pavilhão para o ano de 2022. Confira abaixo:

Pavilhão oficial da agremiação.

Leia também a sinopse da agremiação:

No velho mundo
Um fabuloso império desponta
E em plena savana se encontra
Com uma África majestosa, guiada por um Rei

Um reino de riqueza e adoração,
Amor e união
De povo guerreiro,
Valente e justiceiro,
Que luta pela sua comunidade
Por paz e igualdade

Lealdade é o seu ideal
Dos Congos aos Males
Na busca por dignidade, afinal.

Abaixo da linha do equador
As mesmas águas que separam,
A África e Novo Mundo,
Fazem encontrar destinos na História
Em seu curso em desatino

No porto é um negro sonho a ser embarcado
Os olhos refletem a imensidão azul
Horizonte incerto do Atlântico Sul
Sobre mar de Yemanjá
Sobre mar de Olokun

Novas terras a povoar,
E vinha povo de todo lugar…
Benguela, Costa da Mina, Benin…
É a nação Banto
É a nação Yorubá

E ao deixar o tumbeiro para aportar
Nestas terras de alma e solo férteis
Sua cultura plantou,
Semente de forte valor
Na sua lavoura lágrimas, sorriso
Amor

Aqui foi açoitado, mas negro é filho de Zambi
Um Zumbi da cor
Que na Serra da Barriga lutou
Fez Quilombo, fez Império
Contra branca opressão
Palmares resiste em flor

E pelas terras de São Luís do Maranhão
Na Casa das Minas, rainha Agotime
Do seu povo Nagô
Rebatizada de Maria
Também é Mineira
Do vodum é Naê

E pela Bahia, neto de Aláàfim Abiodun
Herdeiro de Oyo, “Salvador” do povo
Dom Obá II
Letras e versos islâmicos
Para escrever um destino novo

Nos caminhos deste Brasil,
O meu canto ecoa no Rio
Um escravo vira Rei,
Ignácio Gonçalves Monte,
Rei dos Mahi destas terras daqui

Nas encostas dos Dois Irmãos,
Estava Seixas, português e branco de corpo,
Mas negro de coração
Camélias para a Princesa na libertação
A pena de ouro da abolição

E voltaram para terra negra em Ajudá
O povo de luta, o Agudá
É povo unido, codinome brasileiro
O destino separado foi unido pela Belas Artes.

Logo oficial da escola.

Confira a defesa da escola:

O Novo Mundo foi o nome dado pelos europeus na época da descoberta da América, por ser um continente novo para todos. O velho mundo seria no caso o que eles já conheciam: Europa, Ásia e, principalmente, o fio condutor do nosso enredo, a ÁFRICA.
Na Idade Moderna, sobretudo a partir da descoberta da América, houve um florescimento da escravidão. Desenvolvendo-se então um cruel e lucrativo comércio de homens, mulheres e crianças entre a África e as Américas. A escravidão passou a ser justificada por razões morais e religiosas e baseada na crença da suposta superioridade racial e cultural dos europeus.
O meio de transporte era essencialmente os navios negreiros, que navegavam pelo extenso oceano Atlântico, com condições precárias para a sobrevivência. Esse mesmo oceano guarda histórias de sofrimento e glórias, de superação e fortalecimento. Águas que de certa forma, juntam essas histórias e ligam momentos marcantes de dor, amor e grandes reinados.

O negro ao embarcar, deixava para trás todos os seus sonhos, sua história de vida, sua dignidade e passavam a serem tratados pelos brancos como mercadorias. Não imaginavam encontrar nada além do sofrimento e dor. Ao olharem pro horizonte, nada avistavam além do extenso Atlântico Sul. Uma vida cheia de incertezas aquelas águas traziam.
Na Mitologia Yoruba, Olóòkun ou Olokun – No Benin é considerado como do sexo masculino e em Ifé como sendo do sexo feminino, divindade do mar. Proprietário/a (Olo) dos Oceanos (Okun).
Na natureza Olokun é simbolizado pelo mar profundo e é o verdadeiro dono das profundezas do presente, onde ninguém jamais esteve.
No Brasil é cultuada como mãe de Iemanjá e dona do mar (Olokun).
Iyemanjá, Yemanjá, Yemaya, Iemoja “Iemanjá” ou Yemoja, é um orixá africano, cujo nome deriva da expressão Iorubá “Yèyé omo ejá” (“Mãe cujos filhos são peixes”)
Yemojá, que é saudada como Odò (rio) ìyá (mãe) pelo povo Egbá, por sua ligação com Olokun, Orixá do mar (masculino (em Benin) ou feminino (em Ifé)), muitas vezes é referida como sendo a rainha do mar em outros países. Cultuada no rio Ògùn em Abeokuta

O tráfico de escravos causou verdadeira sangria na África: alimentou guerras internas, abalou organizações tradicionais, destruiu reinos, tribos e clãs e matou criminosamente milhões de negros.
O Yorubá constitue o segundo maior grupo étnico na Nigéria, representando 18% da população total aproximadamente. Vivem em grande parte no sudoeste do país; também há comunidades de iorubas significativas no Benin, Togo, Serra Leoa, Cuba e Brasil.
Por volta de 2000 a.C., os primeiros povos chamados de bantos partiram do sudeste da atual Nigéria e se expandiram por todo o sul da África.

Tumbeiro é como os navios negreiros eram chamados. Os escravos eram marcados com ferro em brasa como se fossem animais. Os tumbeiros eram verdadeiras sepulturas, pois durante a viagem morriam, em geral 40% dos negros.
Os povos vindos da África, mesmo não pertencendo aos mesmos grupos étnicos, chegando aqui no Brasil, vivendo sob a condição desumana que lhes foi imposta, se agarraram as suas origens, deixando aos seus descendentes apenas a carga cultural que traziam na memória, no bater dos tambores, na comida, nas crenças, misturando essa carga cultural com a cultura européia trazida pelos portugueses, criando assim a cultura brasileira.
Traços fortes da cultura africana podem ser encontrados hoje em variados aspectos da cultura brasileira, como a música popular, a religião, a culinária, o folclore e as festividades populares. Os estados do Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados pela cultura de origem africana,
A música que foi criada pelos afro-brasileiros é uma mistura de influências de toda a África subsaariana com elementos da música portuguesa e, em menor grau, ameríndia, que produziu uma grande variedade de estilos.
A música popular brasileira é fortemente influenciada pelos ritmos africanos. As expressões de música afro-brasileira mais conhecidas são o samba, maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada e o maxixe.

O Quilombo dos Palmares (localizado na atual região de União dos Palmares, Alagoas) era uma comunidade auto-sustentável, um reino (ou república na visão de alguns) formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras.
Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Batizado ‘Francisco’, Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670 e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte e poucos anos.
Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por Antônio Soares, e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.
Agotime representa a força dos elementos naturais transformando a vida que se transforma em culto.
Desde tempos imemoriais se cultuava os voduns da família real do Daomé, hoje Benim. Um Clã mágico e místico iluminava o continente negro, numa época de uma África conturbada por guerras tribais em busca do poder.
Muitos reis passaram e o Daomé, que era apenas uma cidade, tornou-se um país.
No palácio Dãxome, reinava Agongolo. O rei tinha como segunda esposa a rainha Agotime e dois filhos (Adandozan, do primeiro casamento, e Gezo, nascido de Agotimé).
A rainha era conhecida em seu reino pelas histórias que contava sobre seus ancestrais e sobre o culto aos reis mortos. Guardava os segredos do culto a Xelegbatá, a peste. Detentora de tais conhecimentos, o novo rei tratou de mantê-la isolada, acusando-a de feitiçaria, e não hesitou em vendê-la como escrava.
O sofrimento físico da rainha, traída e humilhada, era uma realidade menor, pois o seu espírito continuava liberto e sobre as ondas a rainha liderou um grande cortejo, atravessando o mar.
A rainha Agotime chega ao Maranhão. Terra da encantaria e de forte representação popular. Os tambores afinados a fogo e tocados com alma por ogãs, inspirados por velhos espíritos africanos, ecoam por ocasião das festas e pela religião. Foi no Maranhão que Agotime, trazida para o Brasil como escrava, voltou a ser Rainha. Sob orientação de seu vodum, fundou a “Casa das Minas”, de São Luís do Maranhão, em meados do século XIX.

Cândido da Fonseca Galvão, ou melhor, Dom Obá II D’África, um líder popular afro-brasileiro das ruas do Rio, pioneiro do movimento da negritude e da luta pela igualdade racial no Brasil, que atuou no período de transição da escravidão para a Abolição. Dom Obá (que quer dizer “rei” em iorubá) nasceu na Vila dos Lençóis, no sertão da Bahia, por volta de 1845.
D. Obá se alistou e lutou na Guerra do Paraguai (1865-70), de onde saiu oficial honorário do Exército brasileiro, por bravura. De volta ao país, fixou residência no Rio, onde era tido pela sociedade de bem como um homem meio amalucado, uma figura folclórica e era, ao mesmo tempo, respeitado e reverenciado como um príncipe real por escravos, esfarrapados, libertos e homens livres de cor que viviam nesta África carioca.
Amigo pessoal do Imperador D. Pedro II, assumiu papel histórico importante no processo de Abolição, pois era o elo entre as elites do poder monárquico e a massas populares.

Considerado um rei entre seu povo, Ignácio ajudara a fundar a Congregação dos Pretos Minas do Reino do Mahi, localizada no interior da Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia. Eleito rei da congregação, era ele uma liderança entre os pretos minas. Seu prestígio e liderança também advinham do fato de ser neto de “Efuí Agoan”, segundo narra o seu testamento, um bem afamado soberano do Reino do Mahi, na Costa da Mina.

No Rio de Janeiro foi formado, então, o Quilombo do Leblon, que teve como seu idealizador o português José de Seixas Magalhães, um rico e moderno empreendedor que fabricava e comercializava malas e objetos de viagem, na Rua Gonçalves Dias, no centro da cidade e que já utilizava a máquina a vapor em suas fábricas. Além disto, Seixas investia também em terrenos na zona sul, tendo adquirido uma Chácara no Leblon com a cumplicidade dos principais abolicionistas da Capital do Império, muitos deles proeminentes da Confederação Abolicionista. Nesta chácara ele cultivava flores com o auxílio de escravos fugidos, formando o Quilombo do Leblon, um quilombo simbólico feito para objetos simbólicos – nele se cultivavam camélias – cujo uso passou a simbolizar a simpatia ao Movimento Abolicionista.
As camélias cultivadas no Quilombo do Leblon se tornariam símbolo do movimento e se destacavam nos vestidos de muitas senhoras da Corte, incluindo a própria Princesa Isabel e nos ramalhetes de camélias com os quais se presenteavam as pessoas. Enfeitavam também os jardins das casas, para identificar seus donos como abolicionistas.
Foi em 13 de maio de 1888, através da Lei Áurea, que liberdade total finalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil.

O processo da abolição da escravatura foi muito longo e com lentas conquistas. A luta e resistência dos negros durante todo o processo também foram fundamentais. Uma longa História marcada com muito sangue, perdas e grandes reinados.
Em 2022 a Belas Artes É AFRO! É QUENTE! É GUERREIRA!

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