Flor de Lótus conta a história do banho na Edição Especial do Carnaval Virtual

A grande campeã do Carnaval Virtual 2020 apresenta seu enredo e samba para a Edição Especial do Carnaval Virtual que acontecerá em fevereiro deste ano. O GRESV Flor de Lótus fará uma releitura do enredo “No Chuveiro da Alegria Quem Banha o Corpo, Lava a Alma na Folia” apresentado pela Beija-Flor de Nilópolis em 2009.

A escola optou por participar da Edição Especial pois acredita que “o Carnaval Virtual sempre foi uma forma de preencher o “vazio” deixado pelo Carnaval Real em uma parte do ano após os desfiles de fevereiro/março. Como não haverá desfiles em fevereiro do ano que vem no Carnaval Real, a Flor de Lótus gostou da iniciativa do Carnaval Virtual de promover uma edição nessa data e por isso decidiu participar.”

Diferente do último carnaval que a escola se consagrou campeã do grupo especial, a Flor de Lótus está preparando seu desfile para a edição especial com um nova formação, Osvaldo Junior reassume a presidência da escola para a edição, e também assume o posto de  desenvolvimento do enredo, e o artista Theo Neves como carnavalesco.

O presidente da agremiação Osvaldo Júnior conta que a escolha de fazer uma releitura do enredo da Beija-Flor de 2009 partiu da vontade de utilizar o samba concorrente derrotado na disputa da escola que é muito apreciado pelos membros da escola, “vários membros da escola sempre foram apaixonados por diversos concorrentes derrotados do Carnaval Real, entre eles o samba da parceria de Cláudio Russo para a disputa da Beija-Flor em 2009. Como foi permitido a reedição de sambas de concursos de escolas reais, foi uma boa oportunidade para dar uma releitura para esse enredo apresentado pela Beija-Flor, a partir desse samba.

 

Confira o samba que embalará o desfile da agremiação na edição especial:

 

Confira a sinopse do enredo:

 

“Quem banha o corpo lava a alma, e toma um banho de axé”

Autor: Osvaldo Júnior e Theo Neves

No ano de 2009, a Beija-Flor de Nilópolis, então atual campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, levou para a Marquês de Sapucaí o enredo “No Chuveiro da Alegria, quem banha o corpo, lava a alma na folia”, de autoria de Alexandre Louzada.

Na justificativa do enredo, a escola afirmava que a “nossa relação com a água remete a nossa própria existência”, e que “a cada época e lugar sentimos essa incontrolável necessidade de se relacionar com esse elemento da natureza”. Partindo de tais premissas, a escola se propôs a contar a história do banho, uma vez que ele está diretamente associado à história e à cultura das mais diversas civilizações. O ponto de partida foi o Egito Antigo, onde teria surgido o hábito de se banhar, chegando até os dias atuais, passando pelos diversos períodos da humanidade, inclusive aqueles em que esse hábito foi suprimido. A fim de contar essa história milenar, a escola buscava “banhar-se de alegria e beleza, agitando as águas da história e envolvendo a todos com uma suave espuma de prazer e felicidade”.

Em razão das restrições impostas pela pandemia da COVID-19, o Carnaval do Rio de Janeiro, tradicionalmente realizado entre fevereiro e março, foi adiado no ano de 2021. O Carnaval Virtual, por sua vez, realizará uma edição especial no feriado de carnaval de 2021. A Flor de Lótus, assim, resolveu apresentar, nesse desfile, uma releitura do enredo apresentado pela Beija-Flor de Nilópolis em 2009, a partir do samba concorrente da parceria de Cláudio Russo, J. Veloso, Leleco, Carlinhos Detran e Marquinhos, que participou e não venceu a disputa de sambas da escola naquele ano.

Se, de fato, “quem banha o corpo lava a alma, e toma um banho de axé”, como afirma o samba oficial da Beija-Flor de 2009, a Flor de Lótus vem nessa edição especial do Carnaval Virtual de 2021 tomar um banho de axé, e banhar a avenida virtual com uma nova leitura da história do banho.

 

Sinopse

Logo oficial do enredo

No Carnaval de 2009, para contar a história do banho, a Beija-Flor dividiu o seu desfile em oito partes, a partir de uma narrativa cronológica da história a ser contada, iniciando-se com a origem do banho, no Egito, seguindo pelas grandes civilizações onde esse hábito se propagou (como Babilônia, Turquia, Grécia e Roma), a sua proibição durante a Idade Média, a sua retomada com o Renascimento, a sua valorização como ferramenta de saúde, com a ideia de “corpo limpo, corpo são”, os banhos diversos (de sol, de lua, de gato, de cheiro) e, por fim, o banho de fé dos orixás.

Ao escolher o samba concorrente da parceria de Cláudio Russo, J. Veloso, Leleco, Carlinhos Detran e Marquinhos para o desfile de 2021, a Flor de Lótus optou por dar uma nova roupagem ao enredo apresentado pela Beija-Flor, apresentando a história do banho a partir de suas relações com o sagrado e o profano.

Ao longo de toda a história da humanidade, o banho – e as águas de maneira geral – sempre estiveram relacionados às questões de fé. Nas religiões afro-brasileiras, a água possui uma grande força simbólica, associada diretamente à ideia de vida. Os banhos, por sua vez, são rituais extremamente importantes nessas religiões, que podem servir para elevação, limpeza astral, ou para equilibrar o indivíduo. Diante de tal importância, a Flor de Lótus abre o seu desfile “nas águas de Oxalá”, dando um banho de fé e lavando a alma na avenida.

Partindo dessa associação entre banho e fé, a escola mergulha nos banhos sagrados, “lavando a alma da humanidade”. Nesse momento, são apresentados os banhos egípcios que serviam para purificar a alma, os banhos gregos onde os homens se aproximavam dos deuses, e os banhos romanos, onde o sagrado se junta com o profano e é descoberto o prazer de se banhar.

Se em Roma ocorre essa aproximação, é a partir da ascensão do cristianismo que os banhos são proibidos, por estarem associados aos prazeres da carne, em contraponto ao que deveria ser o corpo, um verdadeiro templo de Deus. Nesse período, predominam os “banhos de gato”, limitados à limpeza das partes íntimas com paninhos úmidos, sendo a sujeira considerada, inclusiva, símbolo de santidade, por monges, eremitas e santos que viviam em estado de não ter sido banhado. A única exceção à proibição do banho durante a Idade Média, por meio de um ritual religioso, era o batismo dos recém-nascidos e o banho das noivas antes do casamento.

Considerando que no desfile da Flor de Lótus “proibição não quero, não, tá liberado”, é a partir das cruzadas, com a expansão e do cristianismo para o oriente, que o banho é redescoberto. A partir da invasão desses novos territórios, os cristãos redescobrem o hábito de se banhar, a partir de rituais de banhos muçulmanos, nas casas de banhos turco-árabes. Também é nesse período que os cristãos descobrem que os judeus que não morreram por causa da peste não eram bruxos, mas apenas sobreviviam mais em razão de uma recomendação religiosa que seguiam, de lavar as mãos antes e depois das refeições, bem como tomar banho, no mínimo uma vez por semana.

Com o advento do iluminismo, o banho ganha um pouco mais de espaço. Entretanto, é somente a partir do século XVIII que ele se torna, de fato, um hábito. Antes desse período, apenas “renasce o perfume no ar”, com as cortes europeias escondendo os maus odores com os perfumes. 

Embora os portugueses e espanhóis tenham descoberto, na colonização da américa, populações que tomavam bastante banho, especialmente os indígenas brasileiros, esse não era um hábito comum entre a alta sociedade, especialmente entre a corte portuguesa. Narrativas históricas contam que Dom João VI achava muito estranho o hábito dos índios de tomar banho, e que teria tomado apenas dois banhos em toda sua vida: um quando nasceu e outro por indicação médica. Segundo registros históricos, quando rasgavam ou tinham algum defeito, as roupas do monarca eram costuradas vestidas em seu corpo, de tão pouco o costume que ele tinha de tirá-las. Uma das poucas exceções ao hábito de não se banhar da corte emporcalhada eram os banhos de mar, que a família real realizava às vezes, por recomendação médica a Dom João VI.

Ao contrário da corte, entre os populares, o banho era mais comum, por influência da miscigenação com os índios. Essa mistura resultou, inclusive, em festa e brincadeira: o Entrudo, uma brincadeira de carnaval onde diversos grupos jogavam nas pessoas nas ruas os chamados limões de cheiro, balões cheios de água perfumada, ou às vezes água mal cheirosa. Essa brincadeira foi, inclusive, ilustrada por Debret, em gravura do início do século XIX, onde um folião joga água, com uma bisnaga, em uma vendedora ambulante.

Como a folia carnavalesca evoluiu, depois do entrudo, dos ranchos e das grandes sociedades, um hábito que fez a alegria de muitos foliões na primeira metade do século XX foram os famosos “banhos de mar à fantasia”, onde blocos de foliões, vestidos com fantasias de papel crepom sobre roupas de banho, após desfilarem pelas ruas ao som de marchinhas, entravam no mar, tendo as fantasias totalmente levadas pelas águas e saindo do mar prontos para retomar a festa.

Após o seu banho de mar à fantasia, a Flor de Lótus termina o seu desfile “feito um rio de magia que deságua luxo e cor”, banhando o povo como fez a Beija-Flor em seu desfile no Carnaval de 2009!

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