Carnaval Virtual: Equilíbrio marca a segunda noite do Grupo de Acesso 1

Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NesCaFe no Carnaval Virtual

A segunda noite de desfiles do Grupo de Acesso I do Carnaval Virtual 2021, novamente contando com doze escolas, confirmou a força carnavalesca que todo o Grupo de Acesso I possui. Mais doze belíssimos desfiles que abrilhantaram a festa na Passarela Virtual, com temáticas variadas. As apresentações mostraram-se bastante equilibradas, mantendo o alto padrão de qualidade da noite anterior.

IMPERIAIS DE MADUREIRA

A Imperiais de Madureira abriu os desfiles e apresentou o fantástico enredo “Manifesto Crespo”. A essência africana foi representada em ricas e coloridas fantasias e alegorias de extremo equilíbrio estético. Com um desfile-manifesto, a escola trouxe, nas palavras da sinopse, o clamor de que “Precisamos coroar um futuro que nossos cabelos crespos possam se enraizar e crescer de forma como queiram”. O destaque do desfile foi a ala Lei de Tignon, com o tripé Turbantes de extremo conjunto visual. A Imperiais de Madureira, conseguiu representar de forma rica e direta a importância da representatividade dos cabelos crespos.    

Ala 12 e Tripé da Imperiais de Madureira.

ASTRO REI DA FOLIA

Segunda escola a desfilar, a branco e dourado apresentou o enredo “Boemia”. Trazendo a história da boemia e figuras boêmias, da Europa ao Brasil, muito bem representadas nas fantasias e alegorias, com maestria e no domínio na escolha das cores. As alegorias com volumes bem distribuídos e mostrando a opulência digna do povo cigano. A Astro Rei ainda defendeu, brilhantemente, segundo a sinopse, que “O carnaval é boemia genuína”. Destaque para a ala O poeta mambembe, a alegria dos componentes era embalada pelo movimentos das tiras e os pompons da fantasia. 

Ala 14 da Astro Rei da Folia.

 FILHOS DO TIGRE

Com o enredo “O Pagador de Promessas”, a vermelho e branco enveredou pelos mistérios da literatura e da arte exaltando a obra de Dias Gomes. O belo desfile ainda contou com uma pergunta advinda da sinopse: “Quantos por aí, somente querendo alcançar um estado de graça para vencer suas dificuldades?”. Com uma estética inovadora, a escola apresenta em sua abertura a cor da agremiação, o vermelho nas fantasias, no pede passagem e no abre-alas. Na “segunda parte da promessa”, as cores e estampas transitam pelas fantasias de forma equilibrada. O destaque do desfile está em dois momentos: as Baianas, sendo muito bem representadas, da forma mais tradicional, que inclui o tabuleiro na cabeça e os detalhes da fantasia e a terceira alegoria, com os fiéis  representados como bonecos de barro.

Ala das Baianas da Filhos do Tigre.

IMPÉRIO DA PRAÇA XI

Quarta escola a desfilar, a Império da Praça XI trouxe o bonito enredo “Floresta de Sonhos”, traçando a história do sonho e do movimento de nordestinos em direção à floresta amazônica. A luta pela sobrevivência no sertão, representado na abertura da escola. A comissão de frente impactante com o “Doloroso cortejo das penas” e o tripé com uma releitura da famosa escultura Pietà de Michelangelo.  A passagem das cores entre os setores, ocorreu de forma harmônica dando uma continuidade ao enredo. Da relação entre o norte e o nordeste, diz a sinopse que “Do Norte e Nordeste sou a mistura, da minha vida fiz minha luta e da floresta fiz o meu sonhar”. Por fim, destaque para a alegoria Floresta dos Sonhos, que, jus ao enredo, levou seus grandes protetores em homenagem.

Alegoria 4 da Império da Praça XI.

MOCIDADE NEGRA

Quinta escola a desfilar, a verde e preto da Ilha do Governador aportou na Passarela Virtual com o lindo enredo “Carukango”. A luta do negro foi representada com grandeza na passarela. O samba transcreveu o enredo com perfeição, viva a mãe África! Com uma abertura exuberante, a escola a apostou na cor preta para abrir sua apresentação. A comissão de frente trouxe as forças celestiais africanas na essência de suas raízes. O vermelho reinou na ala “Ilhas do sofrimento” e na segunda alegoria, “Ilha do sofrimento, a cor sangue reverberou o sofrimento dos escravos em tons fortes. Destaque para o elemento cenográfico – reis e rainhas não escravos mostrando a beleza da liberdade e na força visual da terceira alegoria – enfim a liberdade.

Alegoria 4 da Mocidade Negra.IMPÉRIO IGUAÇUANO

O Império Iguaçuano trouxe um desfile que apostou nas cores para contar o enredo “O senhor da sétima onda do mar”, contando a devoção e história de Ogum Beira Mar. No mesmo tom da sinopse, o emocionante desfile foi um “cortejo negro de fé e respeito a São Jorge/Ogum e seus falangeiros”. Com um samba bem cadenciado a escola se banhou nas águas de Ogum beira mar. Bela representação do senhor da sétima onda do mar, Ogum Beira Mar. A comissão de frente vestida no azul bailou em movimentos que animou a arquibancada. A escola trouxe o senhor da espada de fogo abrindo a saudação ao público. Cores muito bem definidas na divisão das alas, tendo em cada setor uma dominante, destacando a Alegoria 1 – cortejo, alvorada e romaria. Na mistura do azul frio ao vermelho quente sua a ala 9 “bateria Swing Iguaçuano”, em uma estética perfeita. As baianinhas da ala 24 foram um show a parte no desfile.

Ala 15 da Império Iguaçuano.

RECANTO DO BEIJA-FLOR

O Recanto do Beija-Flor veio à Passarela Virtual com fantasias criativas e coloridas para contar o enredo “Tudo que uma pessoa pode imaginar outras podem tornar realidade”, destacando as obras e a imaginação das viagens de Júlio Verne. Com um tom crítico, seguindo a sinopse, o desfile propôs que “lutemos contra a imbecilidade e sejamos felizes”, destacando a importância da ciência e tecnologia a partir da obra de Verne. A agremiação voou alto na defesa do enredo em homenagem ao escritor francês. Destaque para o belíssimo corte das fantasias do mestre-sala e porta-bandeira. A ala “Atlântica” apresentou muitos detalhes cênicos, enquanto a ala “Senhora da onda” veio com formas sinuosas de muita beleza estética. Com uma linda estética as alas trouxeram muitos das histórias de viagens do conquistador. A escola mandou seu recado para a consciência humana e a inovação da ciência, tudo que nosso país precisa, destacando a ala “consciência ecológica”

Tripé 2 da Recanto do Beija-Flor.

COLORADOS DO SAMBA

A Colorados do Samba pisou forte na Passarela Virtual com o enredo “Donzela Theodora: Só a educação liberta!”, mostrando a importância da valorização da educação. A partir da história de Theodora, o desfile destacou, como diz a sinopse, que “estará ela, a educação, como o único caminho para a vitória”. Defendendo a educação,  a escola chegou animada, alertando que com ela a escrava Theodora conseguiu quebrar as correntes. Uma bela aquarela de cores invadiu a passarela. Destacaram-se a divertida ala 13 “Educação na primeira infância”, a força do figurino das baianas e por fim, a alegoria 3 “Só a educação liberta”, que trouxe Paulo Freire regando o ensino, arrasou Colorados.

Alegoria 3 da Colorados do Samba.

PAU NO BURRO

A simpática Pau no Burro propôs no seu desfile uma bonita viagem pelo Agreste, com o enredo “Tieta”. Homenagem a Jorge Amado e às aventuras de sua personagem Tieta, a sinopse encantou com “Uma história, um romance muito ousado, E com honra e alegria magistral, Pau no Burro vem exaltando Jorge Amado”. Em um desfile leve a escola trouxe o universo nordestino. O luar do Mangue Seco reinou misturado a elementos do agreste, com muita sensualidade. A ala “Dunas”, conseguiu traduzir bem, através de movimentos, uma difícil representação plástica. A alegoria 2 “Bem vindo a Santana do Agreste” , retratou a cidade com uma paleta alegre, tendo seu cenário inspirado em artistas locais. Intertextualidade pura!

Carro 2 da Pau no Burro.

IMPÉRIO DA ALEGRIA

A vermelho e dourado trouxe para a Passarela Virtual o envolvente e importante enredo “Muito obrigado, Axé!”. Focando na palavra Axé, a Império da Alegria, como defende a bonita sinopse, cantou que “O Axé é a mais bela fusão da religiosidade com a alegria de um povo festeiro”. Com muito Saravá ou Kolofé, a agremiação levou bênçãos para a arquibancada. Ao remelexo de vários ritmos musicais, resgatou a essência do samba com maestria. A ala das baianas, representando as mães de santo, se juntou às demais, em um lindo quadro estético.  Destaque para a Ala da bateria, tendo como rei Michael Jackson em um rebolado carnavalesco. E, o carro Abre-alas com caveira de óculos ray-ban em perfeito estilo New Wave. Um trabalho visual com combinação de cores e texturas perfeitos.

Carro Abre-Alas da Império da Alegria.

ALTANEIROS DO SAMBA

Vindo à Passarela direto do Maranhão, a Altaneiros do Samba trouxe a história da renda, com o enredo “Olê muié rendeira, Olê muié rendá! Tu me ensina a fazê renda, que eu te ensino a samba!”. A escola destacou o ofício da rendeira, que vive “produzindo sua arte, ao mesmo tempo, com um pé no presente e outro no passado”. Todos os tipos de rendas encantaram o público nesta segunda noite. A escola mostrou segurança e muita competência técnica em sua apresentação.  No requebro da muié rendeira, veio a bela dança da comissão de frente. A Altaneiros desenvolveu bem o enredo, com belas alas, muito bem costuradas, destacamos a Ala das baianas vestidas em perfeita beleza plástica. 

Alegoria 4 da Altaneiros do Samba.

IMPÉRIO DE NITERÓI

Fechando os desfiles do Grupo de Acesso I, a Império de Niterói emocionou com o enredo “Noh, Kyogen, Kabuki e Bunraku: Os quatro tradicionais teatros japoneses”. A escola desfilou a mitologia japonesa que é “repleta de mistério e misticismo que se disseminaram em diversas expressões artísticas cultuadas até hoje”, como diz a sinopse. Com muito gingado a escola apresentou a grandiosidade do teatro, recheados de dramas e comédias, um espetáculo de sensações visíveis. O ponto alto do desfile foi a clareza na transmissão do enredo.

Ala 2 da Império de Niterói.

Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NesCaFe (@necf.ufrj):

Alexandre Gonçalves – Doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Especialista em Figurino e Carnaval – UVA. Especialista em Carnaval e Cultura – Universidade Estácio de Sá. Julgador de Alegorias e Adereços no Grupo de Acesso do Rio de Janeiro. Integrante da comissão de carnaval da Império de Petrópolis. Pesquisador do NEsCaFe/CNPq. 

Carlos Carvalho – Doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Professor substituto da Escola de Belas Artes – UFRJ. Professor convidado da Pós-graduação em Figurino e Carnaval – UVA. Pesquisador e vice-líder do NEsCaFe/CNPq. 

Clark Mangabeira – Pós-doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Enredista da U. de Vila Isabel, U. de Padre Miguel e Mocidade Alegre. Antropólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso. Pesquisador do NesCaFe/CNPq.

Du Carmo Vido – Doutoranda em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Professora de Artes do Município do Rio de Janeiro. Professora convidada da Pós-graduação em Figurino e Carnaval – UVA. Pesquisadora do NEsCaFe/CNPq.

Leo Jesus – Doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Professor substituto da Escola de Belas Artes – UFRJ. Professor convidado da Pós-graduação em Figurino e Carnaval – UVA. Carnavalesco da Acadêmicos do Engenho da Rainha. Pesquisador do NEsCaFe/CNPq.

Verônica Valle – Mestranda em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Designer, atua com concepção visual e artística em cenografia e desenvolve projetos conceituais e artísticos para escolas de samba do Rio de Janeiro. Pesquisadora do NEsCaFe/CNPq. 

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