Carnaval Virtual: Começa o Hiperespetáculo do Grupo Especial

Núcleo de Estudo de Carnavais e Festas – NEsCaFe no Carnaval Virtual

Nesta sexta-feira, começaram os desfiles do Grupo Especial do Carnaval Virtual. Nove agremiações abrilhantaram a passarela. Verdadeiro hiperespetáculo de muito samba e tecnologia com estilos estéticos bastante diversificados. Dentre os destaques da noite, a Ponte Aérea bailou um tango em ritmo de samba; o mar de rosas da Caprichosos do Boa Vista inundou a Passarela Virtual; e a irreverência do Dzi Croquetes sacudiu a avenida com Saudade. Confira como foram os desfiles, a seguir.

BROTOS DA FLOR

Com o enredo “Brotos da Flor nos jardins de Burle Marx”, a Brotos da Flor abriu a noite cantando a obra e a vida de Burle Marx. Com maestria, a escola trouxe alegorias com poéticas florais dos jardins do artista. Semeou bom gosto com um enredo que destacou a natureza e a obra urbanística e paisagística do homenageado. As alas dialogaram bem diante da propositura do enredo. A escola integrou as pluralidades dessa personalidade multifacetada e excêntrica, como paisagista, pintor, desenhista, designer, escultor e cantor, representados na avenida virtual. 

Ala 03 e Tripé 1 da Brotos da Flor.

CORAÇÕES UNIDOS

Já a Corações Unidos trouxe para a Passarela Virtual o enredo “Prece das Águas”. O lindo enredo passeou pelo reino das águas, destacando as culturas ribeirinha e cabocla, com suas lendas e superstições. As levezas das alas e as cores escolhidas para desenvolver o enredo surpreenderam a quem assistiu. A alegoria da piracema trouxe uma forte representação do imaginário ribeirinho. As leituras fluviais contribuíram com a unidade da escola e os adornos das alegorias foram pontuais.

Carro 3 da Corações Unidos.

TIJUCANO

Terceira escola a desfilar, a Unidos do Tijucano trouxe para a Passarela Virtual o encantador enredo “A Cuca vai pegar? “. A escola entrou forte cantando o folclore brasileiro, apresentado em uma sinopse belamente escrita em forma de conto. O desfile valorizou o universo onírico infantil, brincando em seu enredo, alas e alegorias que traduzem o lúdico  e o imaginário da criança. O conjunto da escola traz personagens da literatura infantil de Monteiro Lobato e, sobretudo, os encantamentos e medos da infância: sono, escuro, boi da cara preta, bicho papão, cuca e muitos outros. Destacaram-se os diversos efeitos de movimentos nas alegorias. Este foi o mundo onírico infantil dos Tijucanos!

Pede passagem da Unidos da Tijucano.

PONTE AÉREA

A vermelho, verde, branco e ouro catarinense trouxe o enredo “Manifesto por um tango negro” para a Passarela Virtual. A escola cantou a “efervescência da negritude em Buenos Aires e que ajudou a criar o estilo musical que é símbolo de seu país: o tango”, segundo a sinopse. O opulento conjunto visual foi um dos melhores da noite e traduziu a temática com clareza e competência. As alegorias impressionaram pelo belo trabalho de iluminação. Merece destaque a inédita proposta de trazer a Velha Guarda como guardiã do casal de Mestra Sala e Porta Bandeira, seguidos pela ala das Baianas.  Inovação que valorizou a ancestralidade, tanto do tango quanto da própria agremiação. A Ponte Aérea deu um baile na Passarela Virtual: desfilou com elegância e perfeição e disse adiós ao público na certeza de que está na disputa pelo título.

Carro 2 da Ponte Aérea.

CAPRICHOSOS DO BOA VISTA

A Caprichosos do Boa Vista trouxe o emocionante enredo que homenageou o cinquentenário da escola de samba Rosas de Ouro. Cantando a tradição da agremiação paulistana, a Caprichosos encantou, como diz a sinopse, ao “balançar a roseira que se cobre de ouro para festejar seus cinquenta desabrochar”. E não se intimidou com a boa apresentação que lhe antecedeu: a abertura já mostrou força com uma Comissão de Frente arrebatadora. O enredo foi muito bem desenvolvido através de suas alegorias e alas com efeitos de danças sincronizadas, que trouxeram dramaticidade ao enredo. Destaque para a ala das Baianas, a Ala Freguesia para Nossa Senhora do Ó, com muita irreverência criativa, e a ala 13, que fazia referência aos travestis. O destaque de chão para a componente da  Velha Guarda carregava o simbolismo das tradições das escolas de samba.

Ala de Baianas da Caprichosos do Boa Vista.

SAUDADE

Com humor refinado e afiado, a Saudade chegou à Passarela Virtual com o enredo “Mamãe, eu quero ser Croquetchy!”. A escola encantou exaltando Dzi Croquettes, contando, em uma sinopse em forma de carta, que quer “inventar outro jogo”, dando um “Xeque-mate no CIStema!”. A arte do burlesco foi muito bem representada e permeou todo o desfile. Irreverência definiu um dos melhores desfiles da noite na passarela virtual. A Comissão de Frente impactante prenunciou alegorias e fantasias divertidas em um colorido muito bem construído. A estética das guerreiras medievais aliadas ao punk contemporâneo deu samba no inovador trisal de Mestre-sala e Porta-bandeira – “A Queda do binarismo” – com perfeição literal. A democracia, em sua totalidade, se revela na Alegoria 3, dente outras, com um desenvolvimento estético perfeito e arrebatador. Quebrou tabus!!!

Carro 3 da GRES Saudade.

INDEPENDENTES

A Independentes entrou forte na Passarela Virtual,  com o enredo “Do barro à salvação! As viúvas do vale do Jequitinhonha”. Louvou as artesãs do Vale do Jequitinhonha e seu artesanato e desenvolveu o enredo com uma fácil leitura. Com uma paleta de cores alegre e um trabalho de animação incrível do início ao fim do desfile, a agremiação não só empolgou como emocionou durante toda a apresentação.  “O enredo da GRESV Independentes através das Zefas, Antonias e Marias se transformou em uma linda homenagem a todas as mulheres guerreiras desse Brasil”,  como previu a sinopse. 

Carro 3 da Independentes.

IMPÉRIO DO RIO BELO

Com uma homenagem dupla, a Império do Rio Belo abrilhantou a noite com o enredo “Buda Nagô”. Já no início do desfile a escola deu o tom do que estava por vir, com fantasias e alegorias ricas em detalhes, brindando o público com um espetáculo visual incrível. A escola louvou as vidas e obras de dois grandes mestres da cultura brasileira, apresentando, como diz a sinopse, “Um enredo dedicado à Bahia de São Salvador, ao Rio de Janeiro e aos nossos Budas Nagôs: Dorival Caymmi e Gilberto Gil”. O carnavalesco soube casar muito bem os tons quentes e frios proporcionando para além do colorido espetacular uma opção estética muito agradável aos olhos do espectador. 

Ala 2 da Império do Rio Belo.

FLOR DE LÓTUS

Defendendo o título de campeã, a Flor de Lótus fechou a primeira noite do Grupo Especial com maestria. Apresentou o enredo “Sorria Pierrot, um palhaço não deve chorar”. A escola de Goiás encantou apresentando, na letra da sinopse, “diversos personagens que antecederam e influenciaram na origem do Pierrot”, destacando com emoção, ainda, a necessidade do humor diante das fragilidades da vida. Temática bastante pertinente à representação carnavalesca que foi muito bem desenvolvida em um ótimo conjunto de fantasias e alegorias, no qual se destacou o belo carro abre-alas.

Carro Abre-Alas da Flor de Lótus.

Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores:

Clark Mangabeira – Pós-doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Enredista da U. de Vila Isabel, U. de Padre Miguel e Mocidade Alegre. Antropólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso. Pesquisador do NesCaFe/CNPq.

Leonardo Morais Lopes – Mestrando Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Professor de Historia. Pesquisador e produtor de carnaval. Pesquisador do NesCaFe/CNPq.

Sílvia Maria Monteiro Trotta – Pós-graduanda em Figurino e Carnaval (UVA). Historiadora (UFRJ). Integrante da comissão de carnaval da Império de Petrópolis. Pesquisadora da LUPA Carnaval – UFRJ.

Wádson Pereira Rocha – Doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Artista visual/Pesquisador do NEsCaFe/CNPq e NUPPE/CNPq.

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