Carnaval Virtual: África domina a segunda noite do Acesso 2

A segunda noite de desfiles do Grupo de Acesso II do Carnaval Virtual 2021 manteve o alto nível estético apresentado na primeira noite. Nove escolas desfilaram e abrilhantaram a Passarela Virtual com desfiles deslumbrantes. Dentre os enredos apresentados, predominaram as temáticas relacionadas às africanidades, do Egito ao Maracatu pernambucano.

FOLGUEDO CAIPIRA

Abrindo a noite, a Folguedo Caipira trouxe o belíssimo enredo “Eros, em seu corpo a nossa alma” para a Passarela Virtual. A laranja e amarelo narrou a história da bailarina Eros Volúsia. Como destaca a sinopse, “Esquecida nos porões da memória nacional, […] mulher que nos libertou com seus movimentos sinuosos, ancestrais e atemporais”. Com uma bonita comissão de frente composta de bailarinas, a Folguedo exibiu um desfile colorido que usou bem as cores da escola. Destacaram-se o abre-alas, representando o “reino que pertence ao mar”, e a terceira alegoria, dando glórias à bailarina.  

ASA BRANCA

A Acadêmicos da Asa Branca desfilou o enredo “Canta Sinhá, Toca Sinhô, Abram Alas que o Baque-Virado Chegou”. Uma linda homenagem ao Maracatu Nação que surpreendeu pela pesquisa da carnavalesca. A argentina Natalia Amaro demonstrou intimidade com a cultura pernambucana e apresentou um ótimo projeto visual. O colorido desfile da tricolor de João Pessoa apresentou alas com figurinos imponentes e um grandioso abre-alas, representando “a coroação do Rei do Congo”. Merecem destaque ainda a ala das baianas, composta de fantasias multicoloridas variadas, e a alegoria 3, com a festa do Maracatu em si.

Carro 3 da Acadêmicos da Asa Branca.

TRITÕES DO GRANDE MAR

Aportando na Passarela Virtual direto de Saquarema/RJ, a Tritões do Grande Mar foi a terceira escola a se apresentar. Defendeu com muito requinte e bom gosto o enredo “Ipsis litteris, ipsis verbis”, uma “homenagem à Literatura Brasileira enquanto manifestação de “culturas” escritas e orais”, conforme explica a sinopse. A bonita comissão de frente, com tritões trovadores azuis, nos convidou a mergulhar no desfile vibrante, no qual brilharam a ala das baianas, “Mar de Letras”, e a segunda alegoria, homenagem à Semana de Arte Moderna de 1922.

Carro 2 da Tritões do Grande Mar.

UNIÃO DE SEPETIBA

A União de Sepetiba nos brindou com o enredo “Egito – do nascer do mundo ao pós-vida”. Quarta escola a se apresentar, abriu a sequência de desfiles com temáticas afro que dominaram a noite. Compôs uma ode mitológica cantando, como diz a sinopse, “todo o misticismo do Milenar Egito”. À frente da escola, após a comissão de frente, o primeiro casal representava belamente o Rio Nilo. O desfile também teve como pontos altos os tons fortes e vibrantes das fantasias e a segunda alegoria, “Um novo dia há de chegar”.

Primeiro Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira.

ACADÊMICOS DA PRIMAVERA

A Acadêmicos da Primavera apresentou o emocionante enredo “Santa Negra Anastácia – O florescer da voz”. Como a sinopse explica, trouxe “para a passarela virtual o fundamento da mensagem que a vida de “ANASTÁCIA” nos inspirou em grandeza na concretização da magnitude divina e infinita”. Um potente clamor por respeito e igualdade, como afirma a letra do samba. Destacaram-se a comissão de frente, representando a beleza da mulher negra; o abre-alas, um mar de lamentos e dor; e o terceiro carro, homenageando várias mulheres negras.  Excelente enredo, desenvolvido em opulento conjunto visual de alegorias e fantasias que credenciou a agremiação à disputa do título.

Carro 2 da Acadêmicos da Primavera.

VILA BETÂNIA

Os tambores continuaram ecoando durante a passagem da Vila Betânia. A agremiação abordou em seu enredo as sagradas invocações das forças da natureza na religiosidade afrobrasileira. A abertura do desfile impressionou pela grandiosidade do carro Abre-alas. Destaque ainda para as Baianas da agremiação, que trajavam um belo figurino em diferentes tons de verde para homenagear Ossain, Orixá das ervas e plantas medicinais sagradas.

Ala 5 da Unidos de Vila Betânia.

IEPA

Sétima escola a se apresentar, a Império da Estação Primeira da Alegria prosseguiu na temática afro e saudou Ewá, “A senhora das possibilidades”. O ótimo conjunto de fantasias foi o ponto alto do desfile imperiano. Um dos destaques foi a Ala 7, em referência à arte e aos artistas que tem a divindade como padroeira. A parte superior do figurino era confeccionada em palha e tons neutros, realçando a saia composta por tecidos com variadas estampas étnicas. A Ala 10 também se destacou por apresentar soluções originais para a fantasia em homenagem a Oxumaré.

Ala 7 da Império da Estação Primeira da Alegria.

PORTO CARAMBEÍ

A agremiação paulista abordou em seu enredo o processo de  modernização da capital do país no início do século passado e as suas consequências para as populações pretas do centro da cidade. Problematizando o Rio que queria ser Paris, a sinopse homenageou ainda Hilário Jovino Ferreira. As referências visuais à Belle Époque conferiram elegância e glamour ao espetáculo. Dentre as fantasias, destacou-se a Ala 4, em referência à chegada do automóvel. Embalada pelo excelente samba-enredo, a Porto Carambeí encerrou seu desfile afirmando na última alegoria a africanidade de um Rio que jamais será Paris.

Carro 3 da Porto Carambeí.

ENCANTADOS DA SERRA

Última escola a se apresentar, a Encantados da Serra entrou na Passarela Virtual decidida a retornar ao Grupo de Acesso I. O enredo “Atunbi” mostrou não só a força do renascimento, mas também a superação da própria escola após o descenso em 2020. O imponente Abre-alas não deixou dúvidas de que a agremiação veio para sacudir a poeira e dar a volta por cima. No conjunto de fantasias, destacaram-se os belos figurinos de ambos os casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Carro 1 da Encantados da Serra.

Texto elaborado coletivamente pelos pesquisadores do Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NesCaFe (@necf.ufrj):

Clark Mangabeira é pós-doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ); enredista das Escolas de Samba (U. de Vila Isabel, U. de Padre Miguel e Mocidade Alegre); antropólogo, professor da Universidade Federal de Mato Grosso e pesquisador do NesCaFe/CNPq.

Leo Jesus é doutorando em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ); professor substituto da Escola de Belas Artes – UFRJ; professor convidado da Pós-graduação em Figurino e Carnaval – UVA; carnavalesco da Acadêmicos do Engenho da Rainha e pesquisador do NEsCaFe/CNPq.

Verônica Valle é mestranda em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ); designer, atua com concepção visual e artística em cenografia e desenvolve projetos conceituais e artísticos para escolas de samba do Rio de Janeiro; pesquisadora do NEsCaFe/CNPq.

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