A compreensível dificuldade das autoridades e dirigentes das escolas de samba do Rio e de São Paulo anunciarem oficialmente que o Carnaval 2021 não será realizado no primeiro trimestre do ano impede resolver o problema com antecedência. Mesmo com a existência de uma vacina contra o coronavírus, a realização da maior festa popular brasileira é praticamente impossível. Ouvimos em confiança pelo menos seis fontes graduadas que não esconderam a preocupação.
O governador do Rio, Wilson Witzel, aliado do Carnaval carioca, está sob fogo cerrado de um processo de impeachment que, dificilmente, ele conseguirá escapar de perder o mandato. Sua mulher, a advogada Helena Witzel, é uma ardorosa amante da festa e, dentro de casa, era a certeza que o marido não a desapontaria e que faria das tripas coração para ajudar na busca de patrocínios. Ambos, agora, estão arrolados também em séria investigação na Polícia Federal.
Na capital, se o evangélico Marcelo Crivella vencer, não será o melhor parceiro, até por conta do comprometimento dele na tentativa de amenizar os danos mortais da Covid-19. Se qualquer outro vencer, inclusive o preferido de 20 entre 20 escolas de samba, Eduardo Paes, ele não teria tempo hábil para liberar os recursos necessários para ajudar na montagem do espetáculo.
Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas já disse em conversas reservadas com dirigentes que, se não houver o anúncio de uma vacina viável contra a doença até setembro, simplesmente ele não liberará a realização do Carnaval.
Uma fonte seis estrelas do Grupo Globo afirmou que a crise sanitária e publicitária são impedimentos reais para sair o apoio ao Carnaval no primeiro semestre. Lembre-se que a parcela de patrocínio da emissora, paga sempre religiosamente em dia, é uma tábua de salvação para as escolas.
“Ora, se estamos com cuidado redobrado quanto ao nosso próprio pessoal, inclusive seguindo o protocolo no que trata de gravações de novelas e shows – justamente para evitar aglomerações – não teremos tempo para vender as cotas do Carnaval. A crise é grave. Sem chances!”.
Em entrevista a Cleo Guimarães do site “Veja Rio”, o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, foi direto ao ponto: “Eu defendo a ideia de que só poderemos fazer quando houver segurança total, mesmo que a gente chegue ao extremo de ir direto para 2022”. “Não consigo pensar em uma coisa que não sei nem quando nem como será”. completou o artista.
Durante o isolamento social imposto pela pandemia, Leandro está se dedicando a escrever um livro falando sobre a abordagem crítica cada vez mais presente nas escolas de samba.
Leandro Vieira não é o único que comunga da mesma posição. O medo de contrair a doença não irá se dissipar em velozes seis meses.
É impossível acreditar que milhares de desfilantes sejam vacinados a tempo. Até porque o Governo Federal teria dificuldades de realizar vacinação em massa, lembrando que nem a distribuição de ajuda emergencial para parte da população ele ainda não conseguiu.
As autoridades que cuidam da saúde no Brasil não devem correr o alto risco de liberar uma festa que reúne artistas na pista e plateias lotadas sem que a segurança seja total. “Temos responsabilidade. Fora de cogitação”, comentou um secretário de Saúde.
O Carnaval não se restringe somente à exibição das escolas nos Sambódromos do Rio e São Paulo, e o de rua. No início do mês o governador da Bahia, Rui Costa do PT, reforçou que, se não houver uma vacina para a Covid-19, não haverá Carnaval em 2021 no Estado. Costa afirmou que o poder público não pode autorizar grandes eventos se há risco de aumentar ainda mais a contaminação pelo novo coronavírus. Segundo ele, seria “desumano e cruel admitir 5 mil, 10 mil mortes” para fazer a festa.
As escolas de samba nada decidirão sem autorização dos poderes constituídos, isto é certo. Há semanas, Gabriel David, da Beija-Flor, foi perguntado se teria ocorrido uma reunião de presidentes pelo adiamento: “Não é verdade. As escolas estão mais preocupadas em ajudar suas comunidades, a cidade, o estado, o país”, disse Gabriel David em vídeo. “Pensar em Carnaval vem em segundo plano”, completou o dirigente.
O fato é que, naquele momento, muitos pensavam estar diante de uma “gripezinha” e o que se vê agora, com mais de 43 mil mortos no Brasil, e quando ainda não se sabe quando será o pico da doença, surge a necessidade de um alinhamento de informação.
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