Beija-Flor quer denunciar monstros contemporâneos, diz carnavalesco

Cid Carvalho

Revelado neste domingo (30), a Beija-Flor apostará em um enredo que mistura o terror do período gótico da literatura britânica com problemas sociais contemporâneos. Para seu desfile no Carnaval de 2018, a escola celebrará os 200 anos do livro “Frankenstein” e usará o clássico monstro como metáfora para alertar sobre os “monstros atuais”. O enredo, entitulado de “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”, foi divulgado durante feijoada na quadra da escola, em Nilópolis.

O tema polêmico marca também o retorno de Cid Carvalho à Beija-Flor. Após onze anos afastado da escola, o carnavalesco volta com a missão de conquistar o título de escola campeã em um ano conturbado no âmbito financeiro do Carnaval do Rio de Janeiro. “Eu não acredito que seja coincidência. É uma inspiração, se é que podemos chamar o descaso e o abandono de inspiração. Na verdade, esse cenário de descuido não é só com o Carnaval, mas [também] com outras manifestações culturais e tudo que a gente vê nesta nossa cidade. O desamor, o descaso e o descuido são fomentadores de monstros da nossa sociedade. E esse é o nosso foco. Acho que ‘Os filhos abandonados da pátria que os pariu’ é um pouco isso. O povo está se sentindo abandonado pela sua própria pátria”, afirmou.

Cid comentou que o enredo traz diversos questionamentos que servirão como fio condutor para contar uma história no desfile. “Quem é o verdadeiro monstro? Será que é o menor [de idade] que está no sinal? Será que é o religioso que tem a sua fé assaltada e se revolta contra isso? Quem é o monstro de verdade? Tem essa confusão porque, [por mais que o nome esteja relacionado ao monstro], Frankstein é o médico que criou o monstro. Então o monstro é quem criou ou a criatura? Quem é o verdadeiro monstro: quem abandona, ou quem é abandonado? São essas questões”, revelou.

Quando questionado se o tema do enredo pode causar um clima pesado na Marquês de Sapucaí, o carnavalesco acredita que a Beija-Flor provocará um efeito contrário. “Uma parte da sinopse diz que somos um povo que debocha. O carioca debocha da situação ruim e, se precisar, afoga a tristeza com uma cerveja bem gelada. Este é o clima: denunciar, apontar problemas, apontar falhas e falcatruas. No entanto, falar com bom humor, sem um tom de tragédia”, explicou.

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