A máscara que esconde o riso não apaga a chama viva do samba

Selminha e Claudinho, na Beija-Flor. Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação

Selminha e Claudinho, na Beija-Flor. Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação

Nesta quinta-feira (2) o Brasil celebra uma importante data do seu calendário; o Dia Nacional do Samba.

Não é feriado, nem ponto facultativo, nem está relacionada ao nascimento de Pixinguinha, nem com Martinho, nem com Noel. Também não tem ligação com a gravação do primeiro samba de que se tem conhecimento; “Pelo Telefone”, de Donga, em 1916:

O Dia Nacional do Samba surgiu por iniciativa de um vereador baiano chamado Luis Monteiro da Costa, para homenagear Ary Barroso.

Ary Evangelista Barroso, nascido em Ubá, em 7 de novembro de 1903. Compositor e autor de Aquarela do Brasil, considerado o primeiro samba-exaltação da história. Ary foi também indicado ao Oscar de melhor canção original com a música Rio de Janeiro, trilha do filme Brasil, em 1944.

Morreu no Rio, em 1964, de cirrose hepática decorrente do alcoolismo, e está enterrado no Cemitério de São João Batista.

A data e as motivações, porém, não são tão importantes. O momento de exaltar este gênero musical tão brasileiro é que realmente trata-se de algo superlativo.

Hoje é dia do samba, a principal expressão da música de raízes africanas surgida no Brasil, provavelmente, originário do nome angolano semba, um ritmo religioso, cujo nome significa umbigada, devido à forma como era dançado.

Hoje é dia do samba de partido alto, do pagode, do neo-pagode, do samba de breque, do samba-canção, do samba-exaltação, do samba-reggae e do samba de enredo.

Assim como o próprio estilo musical, seus praticantes e admiradores, de Ary pra cá, foram, por tantas vezes, duramente perseguidos.

Sambistas e sua música sofreram, principalmente pelas mãos de setores de uma elite diversa em conceitos da sociedade brasileira, todo o tipo de preconceito e se seguraram em resistência para não serem jogados na desejada, pelas elites, marginalidade.

Mas se por aqui, como quase tudo que é genuinamente brasileiro é massacrado em detrimento de uma cultura importada, considerada sempre mais sofisticada, lá fora, por décadas, gringos e troianos reconheciam o Brasil como a capital mundial do samba e do futebol.

Foi em Mangueira, terreiro sagrado do samba nacional, que o então homem mais poderoso do planeta esteve, ao lado do rei da bola, Pelé, em 1997:

E neste mais de um século contando histórias de amor, de saudades, da boa malandragem e histórias da própria histórias, o samba resiste.

Assim como resistiu a perseguição de autoridades, de delegados e cabos de ocasião, agora enfrenta um outro inimigo.

Este ainda mais silencioso, mas que age maliciosamente para esconder um dos melhores atributos dos sambistas e do que o samba provoca; o sorriso. Como o sorriso negro, cantado por Dona Ivone Lara.

A pandemia obrigou a todos o uso de máscaras, chatas e nada carnavalescas como as criadas em Veneza.

Mas nem um vírus foi e é capaz de apagar a chama da alegria que se acende ao primeiro acorde de um cavaco ou ao toque de um surdo. Como escreveu um de seus frutos mais ilustres, Nelson Sargento; “Samba, agoniza, mas não morre”:

“Samba,
Agoniza mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro.
Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro.
Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu.
Samba,
Agoniza mas não morre,
Alguém sempre te socorre,
Antes do suspiro derradeiro.
Samba,
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro.
Samba,
Inocente, pé-no-chão,
A fidalguia do salão,
Te abraçou, te envolveu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu,
Mudaram toda a sua estrutura,
Te impuseram outra cultura,
E você não percebeu”.

Comentários

 




    gl