Artigo: Qual o valor da Floresta Amazônica?

Queimadas na Amazônia. Foto: Agência Brasil

Num momento em que se discute a preservação da Floresta Amazônica, cabe pensarmos melhor qual o valor que essa floresta tem.

Em Economia do Meio Ambiente, um ecossistema como a Floresta Amazônica apresenta quatro tipos de valores diferentes, que de maneira simplificada, são descritos abaixo.

Valor Direto – este valor, de mais fácil de quantificação monetária, diz respeito aos recursos naturais contidos na floresta que têm valor de mercado precificado. Por exemplo: a quantidade de madeiras, o látex das seringueiras, as espécies vegetais usadas atualmente na fabricação de medicamentos, cosméticos, alimentos, os minerais valiosos, o pescado, ….

Podemos acrescentar nesta conta também o chamado valor de oportunidade, isto é, caso a floresta fosse desmatada em prol de atividades tradicionais como agricultura e pecuária, quanto renderiam tais atividades.

Valor Indireto – diz respeito aos serviços ambientais que a floresta proporciona. Em escala regional podemos citar a produção de água, a contenção de cheias, a manutenção da fauna e flora, a preservação do solo fértil, …. Já em uma dimensão maior temos por exemplo a manutenção da temperatura e umidade de regiões que recebem os rios voadores produzidos pela floresta e até mesmo a manutenção do clima planetário com a permanecia do carbono contido na floresta.

Valor de Opção – é o valor direto futuro que ainda é desconhecido e não pode ser quantificado no momento. Não conhecemos grande parte das espécies de nossa fauna e flora que poderiam ser usados para novos medicamentos, cosméticos, alimentos, …. Por exemplo: o látex da seringueira não tinha maior valor até a necessidade da produção de pneus com o aparecimento do automóvel. Dessa forma podemos optar em preservar a floresta para estuda-la melhor e conhece-la.

Valor Intrínseco – trata-se do reconhecimento de um valor novo e mais complexo das sociedades modernas pós revolução industrial. De natureza, ética, estética, poética e/ou espiritual, não pode ser quantificado monetariamente. Por exemplo, o valor ético/espiritual que somente nós humanos temos, em reconhecer que diversas espécies têm o mesmo direito de habitar o planeta, tal como a nossa espécie tem. Desta forma não temos o direito de as levarmos a extinção. Outro exemplo: o reconhecimento da beleza estética (também poética e espiritual) de uma árvore secular, de um vale ou montanha ou das águas e cachoeiras límpidas de um rio.

Assim, mesmo sem considerar o valor intrínseco da Floresta Amazônica, consumi-la de forma destrutiva apenas pelo seu valor direto atual não é vantajoso do ponto de vista econômico, pois os prejuízos climáticos e ambientais de médio e longo prazos para todo o planeta iriam exceder aos benefícios de curto prazo para a região e para o país. Além de destruir sua biodiversidade não conhecida.

Por outro lado, num país com populações pobres como o nosso, não podemos abrir mão de quase 40% do território brasileiro para uma preservação com custos e sem rendimento econômico. Sejamos realistas, se insistirmos nesse caminho, não haverá fiscalização que consiga segurar madeireiros, grileiros de terras, garimpeiros clandestinos, biopirataria, tráfico de animais silvestres e outras práticas que, sem técnicas de produção sustentável, destroem clandestinamente a floresta e ainda por cima não pagam impostos para o poder público.

É importante a exploração do valor direto da Amazônia feito com técnicas sustentáveis modernas que levem em consideração questões sócio ambientais, feito por empresas eficientes sob concessão e regulação pública e pagando impostos.

Importante também é que haja pesquisas científicas que tragam descobertas importante para o uso direto da biodiversidade ainda desconhecida, isto é, do valor de opção. E que tenhamos processos e incentivos para que tais pesquisas, não fique paradas em teses e em institutos de pesquisa e sim tragam consequências práticas reais no mercado, trazendo interesse empresarial, empregos, impostos e produtos para a vida moderna.

Por fim e não menos importante, penso que quando admitimos os valores indiretos da natureza, os chamados serviços ambientais de ordem global, faz-se necessário a compensação por estes serviços num nível internacional. Se reconhecemos e aceitamos que ecossistemas estão interligados em várias escalas e que os benefícios ambientais são de ordem climática planetária, porque os custos de manutenção, preservação, fiscalização, … devam recair somente para os governos brasileiros?

Recentemente por inabilidade do governo federal perdemos receitas importantes de fundos de preservação oriundos na Noruega e da Alemanha. Porém tais fundos repassavam valores insignificantes frente aos serviços climáticos prestados e hoje reconhecidos pela comunidade científica internacional. E porque somente dois países contribuem?

Um Fundo para Amazônia (e outras florestas tropicais relevantes) deveria ser de responsabilidade da ONU com contribuição de todos os países. Afinal o tripé da sustentabilidade inclui também o econômico e não é por coincidência que a palavra tem o mesmo prefixo eco (casa) de Ecologia.

Enfim trata-se de uma questão importante para o Brasil e para o mundo que deve ser focada com base na ciência incluindo as ciências econômicas e não por paixões ideológicas e vaidades políticas.

*Cezar Luiz França Pires é coordenador do curso Engenharia Ambiental da Universidade Veiga de Almeida

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