Sérgio Cabral cita propina para Aécio Neves e delata esquemas de corrupção

Sérgio Cabral. Foto: Reprodução de Internet

Sérgio Cabral. Foto: Reprodução de Internet

Preso desde novembro de 2016 e condenado a 198 anos e seis meses de prisão por processos da Operação Lava Jaro, o ex-governador do Rio de Janeio Sérgio Cabral do MDB foi ouvido nesta sexta-feira (5) na Justiça Federal. Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, ele citou o nome de seis políticos e contou que repassou R$ 1,5 milhão em propina para o deputado Aécio Neves para sua campanha presidencial de 2014.

“Eu tenho uma relação muito afetiva com o senador Aécio Neves, que naquela época disputava a Presidência da República e passava por fase de muita dificuldade com Marina (Silva) em segundo lugar nas pesquisas. Ele estava muito deprimido, muito pra baixo”, disse Cabral, explicando por que resolveu ajudar com o envio do dinheiro. “O Aécio não participou da reunião (em que o pagamento foi acertado), mas ele me ligou depois para agradecer.”

Cabral disse também que o prefeito do Rio, Marcelo Crivella do PRB, recebeu US$ 1,5 milhão para apoiar a candidatura de Eduardo Paes do DEM na eleição municipal de 2008. “O senhor me desculpe, mas eu comprei o apoio do Crivella”, contou Cabral a Bretas sobre seu diálogo com o então presidente, no Palácio do Planalto. Crivella foi o terceiro colocado. Paes, segundo Cabral, foi buscar o dinheiro na casa do empresário Eike Batista, ao lado do próprio Cabral e de Crivella.

Aécio Neves e Sérgio Cabral Filho. Foto: Wellington Pedro/Imprensa MG
Aécio Neves e Sérgio Cabral Filho. Foto: Wellington Pedro/Imprensa MG

Ele também afirmou que a Fetranspor, entidade que representa empresas de transporte urbano, pagou propina à Assembleia Legislativa do Rio desde 1987, no governo Moreira Franco do MDB, passando ainda pelos governos de Leonel Brizola, Rosinha Garotinho e Anthony Garotinho, que teria comprado uma afiliada de TV com dinheiro da propina.

A audiência desta sexta é sobre a Operação Ponto Final, que investiga irregularidades no setor de transportes. Logo no início da audiência o ex-governador afirmou que foi “com o coração aberto”. A Operação Ponto Final aponta pagamentos de R$ 260 milhões em propina a agentes públicos, feitos pelo setor de transportes.

O ex-governador também explicou como foi se envolvendo com o esquema cada vez mais: “A fronteira entre o legítimo e o ilegítimo vai se perdendo, você vai fragilizando seu conceito ético, seu conceito de regras e princípios, e foi isso que aconteceu comigo. Eu me sentia: ‘bom, estou dobrando o metrô de extensão, por que não receber um recurso pessoalmente e para meus companheiros e para a política? Estou fazendo Bilhete Único Intermunicipal.A corrupção é uma praga”.

O que diz a defesa de Aécio Neves

Em nota, o advogado Alberto Toron afirmou que “o deputado Aécio Neves desconhece qualquer pedido de apoio feito pelo ex-governador do Rio para a campanha presidencial do PSDB em 2014”. A nota ainda diz que “todas as doações realizadas àquela campanha estão devidamente declaradas e foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.”

Crivella chama de mentira o relato de Cabral

Em publicação feita no Facebook, Crivella chamou de “grande mentira” o relato de Cabral. “Amigos, fiquei sabendo há pouco que o ex-governador Cabral disse que há 10 anos teria comprado meu apoio ao Eduardo Paes. Mais uma grande mentira plantada para tentar desestruturar a minha gestão e minhas convicções como homem público. Jamais conseguirão manchar a minha honra”, diz o texto.

Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho se defendem

A defesa de Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho, afirmou, “com veemência, não haver uma única verdade no depoimento do ex governador Sérgio Cabral, sendo fantasiosas as acusações imputadas aos mesmos”. Segundo texto enviado pelos advogados do casal de ex-governadores, durante a gestão de ambos “nunca ocorreu, ou chegou ao seu conhecimento, o pagamento de propina ou qualquer atividade inidônea em relação ao setor de transportes, bem como a aquisição de emissora de televisão e rádio”. O texto também afirma que Garotinho reduziu passagens de ônibus na Região Metropolitana do Rio em “tendo tal ato revogado posteriormente por decisão judicial”.

Moreira Franco rebate acusações

Em nota, Moreira Franco disse que “em situação processual e jurídica difícil, com diversas condenações que lhes ultrapassam a existência, condenados – candidatos a delatores – sentem-se imunes aos riscos da calúnia e da difamação, assim, volta e meia ousam imputar algo, de forma leviana, a alguém. Espera-se que esse desatino não conte com oculto estímulo de acusadores, ou magistrados, que lhes acenam com vantagens futuras na execução da pena”.

Eike Batista

Também em nota, Fernando Martins, advogado de Eike Batista, informou que Eike Batista não é parte no processo e que sempre desenvolveu suas atividades empresariais dentro do marco da legalidade.

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