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Segurança pública: uma reflexão

Brasil: país do futuro. Até quando continuaremos sendo o “país do futuro”? Quando é esse “futuro”?

A considerar os anos ou décadas em que escuto esse prenúncio, nos próximos séculos, as diversas gerações continuarão a viver a mesma expectativa, uma vez que parte considerável dos políticos brasileiros e seus filhos perpetuam-se na política partidária, como se na época das Capitanias Hereditárias vivêssemos. E suas atitudes repetem-se sistematicamente: traem a nação, em termos genéricos, e os eleitores, de modo específico.

Nossos políticos não nos representam. Não defendem interesses coletivos e vivem de sugar o nosso suor, o nosso sangue, a nossa vida. Salvo algumas exceções, locupletam-se roubando-nos, traindo-nos, escravizando-nos e, em contrapartida, a ação por nós adotada cinge-se à indignação extravasada num comentário entre amigos e nada mais… Leniência total, absoluta.

Em 1994, Jaerson Lucas Bezerra (Orçamento e democracia. Estado e Sociedade… Fundação Ford, FINEP P.I. 1994) já dizia que “nas últimas décadas, o Estado é visto como uma instituição que defende interesses parciais, representa grupos privilegiados e é incompetente para implantar e administrar um projeto capaz de garantir o bem-estar da população”.

O texto é muito atual e ousaria acrescentar que não é apenas uma questão de gestão incompetente, mas de gestão marcada por falcatruas, como o superdimensionamento das faturas de obras, num verdadeiro descalabro de roubo, calcado na certeza da impunidade.

Nesse diapasão do desvio do nosso dinheiro, temos o exemplo clássico de um ex-governador do Rio de Janeiro, que assolou os cofres públicos, numa roubalheira sem precedente, deixando falido o segundo estado da federação em termos de arrecadação. Não bastasse a indignidade dos seus atos, declara, cinicamente, à Justiça que a ganância lhe subiu à cabeça, como se essa declaração o livrasse dos males que praticou, entre os quais, o de tirar a vida de muitas pessoas, na medida em que faliu o setor da saúde, deixando a rede hospitalar desassistida de toda a parte logística, como leitos, ambulâncias, medicamentos, além de material humano, restando usuários do sistema desumanamente desprovidos de assistência.

O Brasil, a depender da sua extensão territorial, da fertilidade de suas terras, do potencial agrícola, da sua riqueza mineral, vegetal, hidráulica e da disposição de sua gente para trabalhar, para produzir, já teria deixado de ser o país do futuro e já estaria na vanguarda dos países mais desenvolvidos e prósperos do Planeta. Alguns detentores dos Poderes da República, no entanto, movidos pela ganância, boicotam esse crescimento, uma vez que canalizam para si próprios as vantagens econômico-financeiras, deixando-nos à mingua e matando parte considerável da população, a mesma que, ingenuamente, os coloca no poder tantas quantas vezes se candidatem a cargos eletivos.

Mais uma vez avizinham-se as eleições. Estamos, pois, no período das promessas, das mentiras, das enganações, das ilusões… Estamos no período das visitas, dos apertos de mão, dos abraços, enfim, das falsidades que se repetem a cada dois anos…

Estamos no período em que muitos vendem seu voto, portanto, sua dignidade, seus valores, seu pudor, sua vergonha. Assim não fosse, políticos profissionais, sabidamente traidores da nação, não se reelegeriam. Mas, sabemos, reelegem-se várias vezes. Sobretudo os políticos das regiões brasileiras onde o povo é menos esclarecido, onde o povo é mais humilde, onde não se sabe que cada dentadura trocada por um voto custará, mais adiante, parte da vida do vendedor.

No nicho dos desmandos e do desavergonhamento, encontramos o descaso e a miséria nos setores mais nobres, como educação, saúde, segurança, transporte, saneamento, habitação, trabalho, entretenimento…

No nicho dos desmandos e do desavergonamento, veem-se detentores e representantes dos Poderes da República, locupletando-se à custa do trabalho do povo representado.

“Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão. Um povo que aceita passivamente a corrupção e os corruptos, não merece a liberdade. Merece a escravidão. Um país cujas leis são lenientes e beneficiam bandidos, não tem vocação para a liberdade. Seu povo é escravo por natureza” Nicolau Maquiavel.

Nesse cenário, a insegurança pública encontra terreno fértil para suas ações de retirada de patrimônio e, sobretudo, de vidas inocentes e honestamente trabalhadoras. Ato contínuo, restam as cobranças dirigidas e atribuídas, rotineiramente, a quem não atua nas causas mas, apenas e tão somente, nos efeitos do crime: a polícia. A ela, sobretudo a militar, toda culpa, toda cobrança, toda carga de adjetivos pejorativos, a começar pelo de incompetente.

Não bastasse a atribuição de tais adjetivos, acrescente-se o descaso à morte de policiais, verdadeiros guerreiros da paz, que morrem para salvar vidas de pessoas que não conhecem. Missionários. Esse sim, o adjetivo correto a lhes ser atribuído.

O caso Marielle, a vereadora assassinada, que tão grandemente comoveu a população do mundo, entendemos que deve ser apurado com o rigor da lei. Assim também deveria ser com relação ao assassinato de todo ser humano. Sentimos falta da comoção do povo pelos assassinatos de quase trezentos policiais militares do Rio de Janeiro, desde janeiro de 2017 até agosto de 2018. O que se vê, de fato, é um verdadeiro descaso por parte da sociedade quando se fala em morte de policiais. O que se vê é uma grande hipocrisia, a começar pela atitude dos integrantes das diversas comissões de direitos humanos, que são incapazes de, sequer, visitarem uma única família de um policial militar assassinado no cumprimento da árdua, mas não menos nobre, missão de defender a sociedade com o sacrifício da própria vida. Sociedade da qual fazem parte os integrantes das referidas comissões,

Já é passado o tempo de se gritar em alto e bom tom que chega de hipocrisia! Que chega de descaso com a vida! Que chega de roubalheira! Que chega de descaso com a coisa pública, que é nossa! Que o Brasil deve ser não mais o país do futuro, mas o país do presente!

Até quando continuaremos sendo o “país do futuro”? Quando é esse “futuro”? A resposta depende de cada um de nós. Levantemo-nos do “berço esplêndido”! Lutemos e brademos que somos uma nação livre composta de homens e mulheres de bem e do bem.

E viva o Brasil! E abaixo todos os corruptos! E viva a vida!

*Coronel Fernando Belo é presidente da Associação de Oficiais Militares do Estado do Rio de Janeiro.

Coronel Fernando Belo*

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