Samba de Bumbo Paulista é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil

Foto: Acervo Samba do Pé Vermelho/gov.br/iphan

Foto: Acervo Samba do Pé Vermelho/gov.br/iphan

O Samba de Bumbo Paulista foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil nesta quinta-feira (9), durante a 104ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.

O órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), aprovou, por unanimidade, a inscrição do bem no Livro de Registro das Formas de Expressão.

O Samba de Bumbo Paulista é uma forma de expressão que articula aspectos musicais, coreográficos e poéticos em torno de agrupamentos de tradição familiar que têm como objetivo o congraçamento coletivo, a devoção religiosa, o pertencimento e a manutenção de laços de solidariedade e articulação entre seus praticantes.

O pedido de registro foi apresentado em 2013 pelo Fórum para as Culturas Populares e Tradicionais (FCPT). Naquele momento, eram citados 14 grupos em atividade, localizados em nove municípios paulistas.

O dossiê para instrução do processo de Registro do Samba de Bumbo Paulista engloba as modalidades Samba de Bumbo, Samba-Lenço, Samba-de-Lenço, Samba de Roda e Samba Caipira e identificou outros agrupamentos praticantes destas modalidades de Samba, somando 27 grupos.

O requerimento está relacionado ao reconhecimento das manifestações culturais que possuem raiz na musicalidade afro-brasileira, uma pluralidade do que “se convencionou chamar de sambas do Brasil, embora praticantes destas várias manifestações não utilizam o termo samba, mas batuque, jongo, tambu, caxambu, tiririca, dentre outros”, afirma o documento.

“O registro do Patrimônio Imaterial de bens culturais do segmento afro possibilita a valorização e o reconhecimento dessa população, além de atuar no enfrentamento das lutas contra diversas intolerâncias que esses detentores pretos e pretas sofrem devido ao racismo sistêmico existente em nossa sociedade”, destaca em seu parecer a conselheira e relatora do processo de reconhecimento, Alessandra Ribeiro Martins, doutora em Urbanismo e historiadora pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, detentora e liderança da comunidade Jongo Dito Ribeiro.

Samba de Bumbo Paulista

Segundo o dossiê, os instrumentos utilizados no Samba de Bumbo Paulista são, além do bumbo, a zabumba, o pandeiro, a caixa, entre outros. As maneiras de cantar, bem como os santos de devoção dos grupos e as festas que mobilizam as “redes de visitação” identificadas na pesquisa – encontros entre as comunidades de diferentes municípios para a realização de apresentações, celebrações e rodas de conversa – também se distinguem entre os grupos.

A dança se divide em três modalidades principais: em fileira ou em roda, com ou sem lenço, com ou sem umbigada. “Enfileirados os instrumentistas, com o bumbo ao centro, todos se aglomeram em torno deste, o geral inclinado pra frente como que escutando uma consulta feita em segredo”, descreveu Mário de Andrade, então chefe do Departamento de Cultura e Recreação de São Paulo, em texto de 1937 sobre o “Samba Rural Paulista” na cidade de Pirapora (SP), publicado na Revista do Arquivo (nº 41).

O Samba de Bumbo Paulista se desenvolveu nas fazendas de café do interior do estado no século XIX e tem sua origem entre populações africanas deslocadas forçosamente para o continente americano durante o período da escravidão.

Sua distribuição territorial, sobretudo na região centro-oeste do estado de São Paulo, está relacionada à expansão da lavoura cafeeira, partindo do Vale do Paraíba em direção às principais bacias hidrográficas da região: rios Tietê, Piracicaba, Itapetinga, entre outros. A manifestação foi levada à capital, São Paulo, na passagem para o século XX, período em que ex-escravizados migraram do interior.

“O Samba e Bumbo Paulista é um dos pilares para garantir unidade de várias comunidades afro-paulistas na região Centro-Oeste do estado que mantêm suas memórias e histórias ligadas aos seus antepassados, ao período da escravidão e às transformações ocorridas e conquistas realizadas desde então”, avalia a relatora Alessandra Martins.

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