Renovação de concessão pública da TV Globo já foi ameaçada durante a Ditadura

João Figueiredo. Foto: Reprodução da TV

As discussões em torno da renovação da concessão pública da TV Globo têm agitado os bastidores da política em Brasília.

“Vai ter que estar direitinho a contabilidade para que possa ser renovada. Se não estiver tudo certo, não renovo”, disse o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), em abril de 2020.

A licença atual de funcionamento, assinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2008, que era retroativa de 2007, tem validade de 15 anos e expira em 5 de outubro de 2022.

Segundo a legislação, é de competência do presidente da República renovar ou não este tipo de concessão. Independente da decisão, ela precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.

Mas esta não será a primeira vez que o Grupo Globo se vê sob ameaça de perder a autorização estatal para funcionar. Em 1984, o general João Baptista Figueiredo (1918 – 1999), último presidente da Ditadura Militar no Brasil, cogitou cassar a concessão se a emissora fizesse cobertura positiva da campanha pelas Diretas Já, movimento político com forte adesão popular de reivindicação de eleições diretas para presidente, algo que não acontecia desde o Golpe de 1964 e só voltou a acontecer em 1989.

“Ameaçaram tirar o canal do dr. Roberto Marinho”, relatou o então ex-vice presidente da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ao jornal Folha de S. Paulo. Na ocasião, Boni foi questionado pelo jornal sobre quem fez a ameaça: “O general Figueiredo”, respondeu.

Em 1989, a Globo ajudou contribuiu decisivamente para a eleição de Fernando Collor de Mello contra Lula, numa disputa que mobilizou o país no segundo turno.

Em entrevista recente, Boni admitiu a interferência da emissora na campanha: “Eu fui responsável pela preparação dele (Collor). O Doutor Roberto Marinho me pediu para ajudar nesse sentido. Ele acreditava no Collor”. Os diretores do jornalismo da Globo naquele período, também confirmaram em documentário da BBC uma edição do último debate entre Collor e Lula para parecer que o hoje senador das Alagoas fosse a melhor opção.

Hoje, Bolsonaro vê o Grupo Globo como um de seus muitos inimigos na mídia. Alega ser perseguido pela maior empresa de comunicação do Brasil e, repetidamente, entre outros adjetivos, chama o canal de “lixo”.

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