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Por que jornalistas são agredidos, por Sidney Rezende

MP-SC diz que analisa imagens; bolsonaristas fazem apologia ao nazismo. Reprodução de vídeo

MP-SC diz que analisa imagens; bolsonaristas fazem apologia ao nazismo. Reprodução de vídeo

Jornalista não é notícia. Mentira. O repórter tem que estar onde os poderosos não querem que ele esteja. Verdade. Violência física contra quem está exercendo seu ofício é inaceitável. Verdade. As autoridades devem relevar a prática dos agressores, porque normalmente estão nervosos. Mentira.

O crime deve ser apurado e levado à Justiça para ser julgado e dada a pena proporcional ao seu dano.

Jornalistas são agredidos porque incomodam, contrariam ao narrar fatos incontestáveis. Como muitos não querem que se jogue luz sobre algo que participam, isto dá margem e liberdade de movimento a golpistas, fanáticos, pessoas agressivas que, amparadas por poderosos e financiadores, sabem que podem tirar sangue de outro ser humano no exercício da sua profissão porque nada acontecerá com elas.

Existem interesses políticos e econômicos que atuam como escudo para se agredir a parte mais fraca, a do profissional de campo.

Nesta semana, uma equipe de reportagem da Band Minas foi atacada por manifestantes em frente ao Comando da 4ª Região Militar do Exército, na avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte (MG). Um repórter teve o celular furtado durante a cobertura e um jornalista do O Tempo também foi perseguido. Tudo isso registrado em vídeo. Os colegas estavam cobrindo a desmontagem de acampamentos bolsonaristas no local.

Outro dia, uma equipe da CNN Portugal foi atacada por apoiadores de Jair Bolsonaro em Brasília. De acordo com relato de testemunhas, os insultos e as ameaças começaram logo após a chegada do repórter
Nelson Garrone, que estava a serviço da CNN Portugal e do também canal de televisão português TVI. Todos foram insultados e atirados ao chão. E, em seguida, empurrados, agredidos e obrigados a deixar o local. Além de tapas, socos e pontapés, foram ainda arremessadas pedras contra os trabalhadores. Nenhum colega revidou. Ainda bem. Os policiais militares presentes ajudaram a facilitar a fuga.

O ódio estimulado pelo poder

A escalada de agressões físicas a jornalista aumentou exponencialmente durante o Governo Bolsonaro. O ano de 2022 foi um dos mais violentos para os profissionais de imprensa no Brasil, de acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). No ano passado, em pouco mais de seis meses, foram registradas 66 agressões graves, que envolvem episódios de violência física, destruição de equipamentos, ameaças e assassinatos. Esse número representa um crescimento de 69,2% em comparação com o mesmo período de 2021, que teve 39 casos.

Ainda de acordo com a Abraji, “o cenário geral de ataques também se agravou: de janeiro a julho de 2022, foram identificados 291 alertas totais de violações da liberdade de imprensa — 15,5% a mais do que nos primeiros sete meses de 2021. Esses casos incluem, além das situações mais críticas, ocorrências de discursos estigmatizantes, processos legais, restrições na internet, restrições de acesso à informação e uso abusivo do poder estatal, que vitimaram jornalistas, comunicadores, meios de comunicação e a imprensa de modo mais amplo”.

A violência contra jornalistas se torna parte de um projeto de enfraquecimento da imprensa no Brasil.

A entidade acompanha de perto o crescimento da violência e, também, o perigo da impunidade. “Entre os episódios mais graves registrados em 2022, há o ataque do vereador Paulo Luiz de Cantuária (MDB), de Ouro Fino (MG), que lançou pedras contra o jornalista Alexandre Megale, e o atentado contra jornalistas da GloboNews, que foram ofendidas e quase atropeladas por um homem não identificado em São Paulo (SP). As situações ocorreram em maio de 2022 e abril 2022, respectivamente”, registra a Abraji.

“Nossa análise mostra campanhas frequentes para descredibilizar e desacreditar os profissionais. Nesse contexto, a violência contra jornalistas se torna parte de um projeto de enfraquecimento da imprensa no Brasil”, avalia Rafaela Sinderski, responsável pelo monitoramento.

O risco do afrouxamento da democracia

O continente americano nunca viveu um quadro de tanto ódio contra a imprensa e os seus profissionais. Na Colômbia, os jornalistas enfrentam um novo surto de violência, que ameaça transformar novamente o país em uma zona de matança para jornalistas e trabalhadores da mídia. Lá como aqui a luta é pelo fortalecimento da democracia e o esforço para impedir o avanço de radicais autoritários.

Em geral, governos que não têm apreço pela liberdade, trabalham para calar a imprensa. Barrar este pensamento não é uma obrigação exclusiva dos jornalistas, por ser de interesse de toda a sociedade que preza a paz, o respeito às instituições e não quer ver a proliferação de criminosos agindo livremente pelas ruas do país.

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