Mais quente que o inferno, debate na Globo não deve mudar a decisão de voto

Debate na Globo. Reprodução de vídeo

Debate na Globo. Reprodução de vídeo

Sete candidatos à presidência da República participaram do último debate antes do primeiro turno das eleições gerais no país, marcadas para o próximo domingo (2), na Rede Globo.

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Mediado pelo jornalista William Bonner, o debate reuniu os candidatos de partidos com representação no Congresso Nacional de, no mínimo, cinco parlamentares e sem impedimento na Justiça Eleitoral ou comum.

O posicionamento dos políticos no estúdio foi definido por ordem alfabética. Da esquerda para a direita, estiveram Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Padre Kelmon (PTB), Luiz Felipe D’Ávila (NOVO), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).

Quente toda vida, o debate não teve perguntas e respostas diretas entre os dois principais candidatos, mas, através de seguidos direitos de reposta, Lula e Bolsonaro se confrontaram. O duelo mexeu com as torcidas e base eleitoral, de voto já definido.

Com um Padre sem saber respeitar as regras, Ciro discreto, Tebet segura, Felipe tabelando com Bolsonaro e Soraya usando do bom humor, o encontro deve mexer pouco com a maioria do eleitorado brasileiro, já decidido em quem votar neste final de semana.

Em missão árdua para o mediador, a audiência recorde obtida pela Globo assistiu a clara guerra de versões e narrativas, que só os eleitores vão resolver, diante das urnas.


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Regras do debate

O programa teve quatro blocos: o primeiro e o terceiro, com temas livres; o segundo e o quarto, com temas determinados. Ao final do quarto bloco, cada candidato fez suas considerações finais.

De acordo com as regras estabelecidas pela emissora, os candidatos tiveram 30 segundos para fazer as perguntas e um minuto para a réplica, enquanto o candidato que respondeu teve três minutos, que pode dividir como quisesse, entre a resposta e a tréplica.

Em ordem sorteada previamente, as questões foram feitas sempre de candidato para candidato. Um participante perguntou para o outro, por sua livre escolha, entre os que ainda não tinham respondido naquele bloco.

Já no bloco de temas determinados, a dinâmica foi a mesma, com o mediador sorteando em uma urna, antes das perguntas, o tema que deveria ser abordado. Nos estúdios, o clima era de tensão. Lula, último a entrar no espaço reservado para o encontro, não cumprimentou Bolsonaro, nem Padre Kelmon.

+ Primeiro bloco:

Logo no primeiro confronto, Ciro chamou Lula. Abordando questões econômicas, o pedetista ouviu do petista que ele estava nervoso, que lhe ajudou ao ser ministro durante um período de seu governo e conseguiu destacar feitos das gestões do Partido dos Trabalhadores.

Depois, foi a vez da esperada tabelinha entre Bolsonaro e o Padre, que usaram o tempo para demonizar as esquerdas. Em seguida, o debate pegou fogo. Lula pediu direito de resposta por acusações de Bolsonaro, direito que foi concedido. Lula mandou Bolsonaro ter compostura e acusou o oponente da prática de rachadinhas. Bolsonaro, então, também pediu a fala como direito de resposta. Bolsonaro mandou Lula ter vergonha na cara. Lula pediu novo direito de resposta, concedido. Lula preferiu botar panos quentes na discussão que se encaminharia por inviabilizar o programa. Entre essas falas, o atual presidente ainda disse ter acabado com a “mamata da TV Globo”.

Felipe chamou Ciro e Lula foi o alvo. Na sequência, Bolsonaro chamou Tebet para tratar do caso do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado nos anos 2000. Tebet repreendeu o presidente, que acusou o ex de ser o mentor do crime, por trazer esse assunto ao debate e não ter a coragem de questionar Lula diretamente.

Lula, ganhou direito de resposta pela acusação. Ele pediu responsabilidade e que Bolsonaro parasse de mentir, além de falar de suas relações com o ex-prefeito, que era coordenador do programa de governo em 2002. Em seguida, Lula escolheu Soraya para tratar da fome, mas o assunto descambou para a corrupção. A senadora atacou os governos do PT e Lula defendeu-se citando as medidas tomadas nessa área.

Depois, um momento de humor. Soraya não acertou o nome do Padre, a quem, finalmente, chamou de Padre Candidato. O religioso não soube se comportar, e Bonner teve de orientar o Padre sobre as regras, já que ele interrompia a interlocutora. Soraya, perguntou se o Padre não tinha medo de ir para o inferno. No fim do tenso e intenso primeiro bloco, Tebet e Felipe, finalmente, trataram de promessas para o campo da saúde pública.

+ Segundo bloco:

Na abertura, Felipe confrontou Lula sobe desvio de dinheiro e o petista respondeu defendendo seus feitos. Tebet chamou Bolsonaro afirmando que seu governo é o pior quando o assunto é o desmatamento da Amazônia. Com voz baixa e tom irônico, o presidente disse que a floresta está igual quando da época do descobrimento e que o agronegócio o ama.

Em ritmo mais calmo, Ciro e Kelmon trataram sobre a educação. Kelmon foi chamado por Soraya para debater sobre a questão racial e o religioso aproveitou o espaço para atacar às esquerdas. A senadora usou de humor, chamou Bolsonaro de nem, nem, “nem estuda, nem trabalha” e chamou o Padre de “padre de festa junina”.

Bolsonaro, em sua vez, fugiu de Soraya e Tebet, e escolheu Felipe para discutir relações com o Congresso Nacional. Como era previsível, a troca de ideias foi morna. Nesse meio tempo, o Padre teve direito de resposta contra Soraya. Fechando o segundo bloco, Lula optou por Tebet, o tema era meio ambiente e a questão do clima foi abordada por ambos, de forma civilizada, e Ciro e Soraya falaram sobre o endividamento das famílias e emprego.

+ Terceiro bloco:

Felipe abriu o terceiro bloco e garantiu o sossego de Bolsonaro, para nova tabelinha. O tema, foi reforma tributária. Padre Kelmon, chamou Lula, não se portou novamente e interrompeu o petista quando respondia sobre corrupção. Bonner enquadrou o religioso. O clima esquentou, Lula, chamado de assassino, não se conteve e Bonner teve de interromper a discussão. O Padre foi duramente repreendido e marcou um dos momentos mais constrangedores da história dos debates no país.

Depois, Felipe e Tebet falaram sobre empreendedorismo e privatizações. Ciro e Bolsonaro trataram de corrupção no governo atual, Bolsonaro disse que o governo é limpo e orgulho nacional. Depois, foi a vez de Lula chamar Ciro sobre cultura e abordar o desmonte sofrido na atual gestão. Ciro aproveitou para alfinetar Lula.

No fechamento deste bloco, quis o destino, que Soraya só pudesse chamar o Padre. Habilidoso com as palavras, se vitimizou e fez uma pregação. Soraya, desconsiderou o teatro e voltou ao tema que propunha, educação. Tebet tabelou com a colega de Senado sobre educação aos jovens.

+ Quarto bloco:

Na abertura do bloco final, Soraya perguntou a Bolsonaro se ele quer dar um golpe de Estado e se havia se vacinado. Bolsonaro não respondeu nenhuma das indagações. Lula chamou Tebet e falaram sobre investimentos no estado natal da candidata, Mato Grosso do Sul. Depois, novamente, Bolsonaro se acovardou em chamar seus principais adversários, e escolheu o Padre, para tabelarem sobre Lei Rouanet, para demonizarem a legislação.

Soraya e Ciro falaram de bancos, juros e economia. Soraya lançou mão do humor novamente contra o atual governo, Ciro, citou estatísticas. Tebet e Felipe falaram de pacto federativo e funcionalidade da máquina pública.

Já na reta final e com os candidatos visivelmente mais calmos e cansados, o Padre e Felipe fizeram propaganda da ideias do governo Bolsonaro, num claro sinal da urgência de mudanças na legislação eleitoral. Ciro e Lula fizeram o duelo final, ameno e sem troca de ofensas, tratando de meio ambiente e produção agrícola.

+ Quinto bloco:

Já na madrugada de sexta-feira, foi o momento dos sete candidatos fazerem suas considerações finais com as tradicionais pedidas de voto aos eleitores indecisos.

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