Especial 17 anos: Lá em 2018, uma análise da dinastia tucana em SP
Mário Covas. Reprodução de vídeo
O portal SRzd completa 17 anos no ar neste 23 de maio de 2023. Nesta semana, você relembra reportagens especiais produzidas pela nossa equipe ao longo destas quase duas décadas de jornalismo independente e comprometido com seus milhares de leitores.
Relembre reportagem que avaliou a dinastia do PSDB no estado de São Paulo. O texto foi publicado em abril de 2018, antes da eleição de João Doria.
O Brasil vai às urnas em 2018. Serão escolhidos o presidente da república, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. O portal SRzd inicia sua cobertura do processo eleitoral, programado para os dias 7 (primeiro turno) e 28 de outubro (segundo turno).
Eleitorado: 32.715.058 – Atual governador: Márcio França (PSB)
As eleições de 2018 no mais populoso Estado do país terão características bem peculiares, e se desenham imprevisíveis.
Em jogo, uma longa hegemonia; desde 1994 a chamada “joia da coroa” está nas mãos do PSDB. Geraldo Alckmin, o representante vivo de maior destaque da “dinastia” tucana, abriu mão dos últimos meses de mandato para se lançar, novamente, na disputa presidencial, pela segunda vez.
Acervo/PSDB
O eleitorado conservador, sobretudo o do interior, se depara com um cenário diferente daquele vivido nas últimas décadas; nada de caciques.
Tradicional berço de políticos maiores que seus mandatos, independente de acusações e deslizes cometidos na vida pública, São Paulo terá de apostar numa novidade. Nas urnas, não estarão disponíveis símbolos e estilos muito particulares de fazer política, características marcantes nas disputas no Estado. Nada parecido com Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf, Orestes Quércia ou Mário Covas. O resultado das urnas, obrigatória e, talvez, forçadamente, vai revelar um novo momento e um novo perfil no comando do Palácio dos Bandeirantes.
Eleitorado conservador e a resistência
Desde a redemocratização do país, em 1985, nenhum candidato de esquerda conseguiu reunir maioria e vencer as eleições em São Paulo. Nem mesmo a força do Partido dos Trabalhadores, nas disputas onde o ex-presidente Lula surfava em alta popularidade e era o principal cabo eleitoral dos petistas, foi suficiente.
Foram eleitos, além dos peessedebistas nestes últimos 24 anos, políticos do mesmo grupo que originou o próprio PSDB e estiveram juntos, em algum momento, desde a ditadura militar. O primeiro deles, Orestes Quércia, em 1986, apoiado pelo então peemedebista Mário Covas.
Acervo/PSDB
Com altos índices de aprovação, Quércia elegeu seu sucessor, Luiz Antônio Fleury Filho. Marcado por acusações de corrupção e de equívocos ao autorizar a invasão da PM que resultou no massacre do presídio do Carandiru, Fleury pode ser apontado como um dos responsáveis pelo declínio do “quercismo”.
Após os oito anos de comando do PMDB, Mário Covas, já em pele tucana, venceu em 94 denunciando a quebradeira do Estado promovida pelos então aliados antecessores. Sua gestão foi marcada por greves e problemas crônicos, sobretudo, na área da segurança pública.
Já na reta final de seu mandato, surgiu a manobra nacional da reeleição, comandada por FHC, da qual se dizia e posicionava-se contra. Voltou atrás, aceitou concorrer novamente e foi reprovado. Conseguiu uma vaga no segundo turno, pregando voto útil contra seu rival histórico, Paulo Maluf. Na abertura das urnas, com pouco mais de 70 mil votos na frente, superou Marta.
Mesmo com alta reprovação, foi brilhante ao explorar as fragilidades de Maluf, favorito daquele pleito, tanto no horário eleitoral, quanto nos debates televisivos. Venceu, mas não concluiu o mandato. Vítima de câncer, morreu em 2001. Alckmin, seu vice, entrou em cena, assumiu e reelegeu-se, em 2002.
Acervo/PSDB
Geraldo fez o sucessor, José Serra. Derrotado por Lula em 2006 na corrida ao Planalto, Alckmin voltou para a disputa doméstica com êxito. Eleito e reeleito nas duas últimas eleições, tornou-se o governador que mais tempo ocupou o cargo.
João Doria e a dinastia do PSDB
Afilhado político de Alckmin, João Doria entra como um dos protagonistas desta eleição e responsável por defender o legado do PSDB no Estado. Descumprindo o compromisso de exercer o cargo de prefeito até o fim, foi contra seu próprio discurso de negação da política e colocou em prática velhos e antigos costumes.
Com menos de um ano e meio, deixou o comando da capital para concorrer ao governo estadual. Seu estilo e suas táticas, seguem causando desconforto e rachas internos no ninho tucano. Os reflexos dessa decisão já mostram efeitos, principalmente no eleitorado paulistano. Ainda assim, ele aparece liderando as pesquisas de intenção de voto, impulsionado pelo apoio vindo de outras regiões.
As restrições nas doações de campanha, fruto da devassa contra a corrupção e o “famoso” caixa dois, atingiram todos os partidos e vão forçar, ainda mais, o uso da internet na interlocução com o eleitorado. Craque na comunicação digital, Doria tem considerável vantagem nesse aspecto.
No “ringue”, adversários que não parecem, até aqui, ter a gordura necessária para lhe fazer frente. Rogério Chequer (Novo), Lisete Arelaro (PSol) e Alexandre Zeitune (Rede), devem defender a legenda, apenas. O empresário Paulo Skaf, do agora MDB, concorrente mais próximo segundo as pesquisas, acumula sucessivas derrotas e precisa construir um discurso sólido para se fortalecer. Márcio França, atual governador e que vêm trocando farpas públicas com Doria, de quem já foi aliado, pode ser um fiel da balança, caso, ao tornar-se conhecido do grande público, emplaque crescimento.
Do lado vermelho, o histórico um terço do eleitorado paulista petista ainda precisa ser conquistado por Luiz Marinho. Amigo pessoal de Lula, foi ministro e duas vezes prefeito de São Bernardo do Campo, mas assim como a maioria dos candidatos do PT, vai ter de enfrentar o resultado da onda midiática e judicial implacável contra a legenda nos últimos anos.
Embora essa seja apenas a segunda participação, em eleições, de João Doria, diferente da primeira, terá de explicar promessas não cumpridas durante os meses de sua gestão na capital paulista e prestar contas, algo que deve ser bastante explorado pelos opositores, além de deixar claro que Alckmin está com ele, e não com França. O pleito de outubro desenha-se num cenário, até aqui, pálido, tanto pelo perfil, quanto pela ausência de novas ideias dos concorrentes, nada nitroglicerínico como outras disputas históricas no Estado.
Veja a mais recente pesquisa divulgada na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes:
PT respira na disputa do Senado:
As eleições ao Senado Federal, tem mecanismo diferente. Cada Estado conta com três representantes, com mandatos de 8 anos, com a peculiaridade que a renovação dos parlamentares da Casa muda, de quatro em quatro anos.
Em 2018, serão duas vagas em disputa, para os lugares de Marta e Aloysio Nunes. José Serra, eleito em 2014, permanece até 2022.
E as primeiras pesquisas, mostram algo curioso. Se por um lado os paulistas rejeitam o PT na eleição ao governo, no Senado, lhe conferem sucessivas vitórias. Cenário que parece se repetir agora. No levantamento de intenção de voto mais recente, Suplicy, atual vereador da cidade de São Paulo, e Marta, sua ex-mulher e identificada historicamente com a sigla mesmo depois de sua dissidência, ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente.
Essa projeção escancara a complexidade do perfil dos eleitores e alguma coerência ao apostar em petistas e ex-petistas, no caso de Marta, históricos, cuja vida pública é reconhecidamente marcada pela correção, separando a atuação e trajetória individual de eventuais ações nada republicanas das práticas de seus correligionários.
Na dianteira, aparece o apresentador José Luis Datena, que ainda não confirmou se estará na páreo. Na sequência, o pastor Marco Feliciano e os tucanos Aloysio Nunes e José Aníbal. Impressionam, mesmo com a distância que separa o levantamento do Ibope, feito neste mês, da data da votação; o astronômico índice de 46% de entrevistados que apontam votar em branco ou nulo.
Pesquisa para a disputa ao Senado:
A disputa se desenha personalista, uma vez que nenhum dos candidatos, somadas todas as dificuldades que 2018 impõe à classe política, não poderão contar também com o prestígio de seus padrinhos, em sua maioria, com a imagem bastante desgastada, seja por simples impopularidade, envolvimento em escândalos de propina e corrupção ou condenações penais.
Será uma longa e árdua caminhada, de convencimento e diálogo junto ao descrente e cada vez mais indiferente eleitor brasileiro. Terra de viradas improváveis em suas eleições, de perfis regionais completamente diversos e constituída por brasileiros e estrangeiros das mais diferentes origens, a decisão soberana dos paulistas ainda é um grande mistério.
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