Quem tem poder no Brasil não está nem aí para educação, por Sidney Rezende

Bolsonaro anuncia novo ministro da Educação. Foto: Reprodução de Internet

Se prepare para verdades inconvenientes. Salve as exceções e siga em frente. Este ano, teremos eleições, ambiente perfeito para se liberar da jaula a hipocrisia. Durante a campanha eleitoral, todos os candidatos do Brasil dirão que Educação será uma das suas prioridades. Conversa fiada.

Neste sábado (27), um homem ficou em frente ao Shopping Leblon, localizado num dos metros quadrados mais caros da Zona Sul do Rio de Janeiro, com uma sugestiva inscrição na sua camiseta: “A Casa Grande surta quando a Senzala aprende a ler”. Os negros olhavam e baixavam a cabeça. Jovens liam e ficam em silêncio. Já os mais velhos, incomodados, fingiam que o significado daquilo e nada são a mesma coisa.

Nossa estrutura educacional é elitista e perversa com os mais pobres.

Nossa estrutura educacional é elitista e perversa com os mais pobres. Os empresários não pressionam os governantes no seu dever de garantir educação e qualidade. Os donos dos meios de comunicação deveriam ser os primeiros a exigir funcionamento exemplar desta pasta estratégica. Com analfabetos completos ou funcionais, não se têm leitores.

Um exemplo de baixa reação: o atual Governo Federal escalou Carlos Alberto Decotelli para um posto onde dois outros nada fizeram de construtivo. Para que serviram os gestores Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub?

Não estamos diante de um ano improdutivo, e sim, de meio Governo perdido. Uma confusão que crucifica o país no atraso.

Pesquisas pregressas já não eram boas para nós. Mas quem está preocupado com isso, não é?  Na comparação com 79 nações, fomos avaliados, em 2018, no ranking geral, na 68ª posição, com uma média de 377 pontos. É uma péssima colocação. O Brasil atualmente é tido como o país de menor rendimento dentre os vizinhos da América do Sul.

A iletrada “elite” brasileira gosta de citar universidades americanas, como Harvard, Princeton, Yale e a escola de Chicago, mas nem isso nos serve como comparação. A melhor área do curso universitário de Harvard, só como exemplo, é área do curso de Humanas. Por aqui, um ministro da Educação chegou a dizer que não precisamos de cientistas sociais, antropólogos e sociólogos. O presidente Jair Bolsonaro endossou.

Em todas as universidades decentes, se valoriza a pesquisa. Nós achamos formidável comprarmos pronta de Oxford. A Fiocruz foi moralmente detonada. No Instituto Pereira Passos, no Rio, foi designado um ex-comandante do Bope para dirigi-la. Pensando bem, vivemos uma guerra, mesmo.

Abraham Weintraub. Foto: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Deep Springs College, no Vale da Morte, da Califórnia, oferece um ensino público e gratuito, mas os estudantes são obrigados a devolver para a comunidade, diariamente, seus conhecimentos. Eles ajudam nos afazeres para tornar o local de ensino melhor e útil. Por aqui, os filhos dos ricos que passam para universidades públicas jogam papel no chão, sujam os banheiros, estacionam seus carros do ano em qualquer lugar e não estão nem aí para quem paga para que vivam suas mordomias. Quanto aos pobres, eles são criminalizados como se fossem aproveitadores da política de cotas. Pois é bom registrar que os cotistas são os mais aplicados e raramente desperdiçam as oportunidades, mesmo trabalhando de dia e estudando à noite.

Os professores têm lutado, mas precisam convocar a sociedade. Sozinhos não chegarão a lugar algum. Colocar no topo a reivindicação por melhores salários é capenga diante da grandiosidade do problema. A comunidade acadêmica e o povo brasileiro, principalmente a classe média e os detentores do poder, precisam assumir responsabilidades na solução dos problemas da comunidade e estimular o pensamento crítico como melhor ferramenta diante de problemas estruturais.

A verdade inconveniente é que, por aqui, se prefere ir para Disney do que enfrentar os gargalos da educação. Quem tem poder no Brasil não está nem aí para educação.










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