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Pesquisa diz que o hábito de consumo cultural do brasileiro é leitura de livro. Será?

Sou apaixonado por livros. Foram neles que encontrei a base do que sou hoje. Os livros forjaram o que penso e me trouxe as convicções que trago na minha longa vida. Sou grato por isso. E gostaria muito, de coração, que todos os meus patrícios pensassem igual. Não é o que vejo por aí.

Esta “paixão” não pode turvar minha visão. Por que digo isso?  No período da Bienal do Livro de São Paulo, em maio de 2016, foi divulgada a pesquisa “Retratos da Leitura”, onde, lamentavelmente, sobressaiu o número que considero alarmante: 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro.

A jornalista Maria Fernanda Rodrigues, na ocasião, com base nesta pesquisa, chamou a atenção para algumas informações que compartilho aqui: ” Em 2011 eles (os leitores)  representavam 50% da população, em 2015 eles são 56%. Ainda é pouco. O índice de leitura, apesar de ligeira melhora, indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e 2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros lidos por ano”.

Livraria Cultura. Foto: Divulgação
Livraria Cultura. Foto: Divulgação

Fiz questão de citar estes números do ano passado para falar, justamente, do mesmo assunto em 2017. Acabamos de tomar conhecimento de um novíssimo levantamento.  “Quando o assunto é hábito de consumo cultural, a principal atividade mencionada pelos brasileiros é a leitura de livro. Em 2016, 37% dos entrevistados informaram que leram no mínimo um livro, contra 36%, em 2015”, registra a pesquisa nacional e anual realizada pela Fecomércio RJ.

Em 2016, os consumidores informaram estar dispostos a pagar menos do que em 2015 para adquirir, por exemplo, um livro ou e-book, em média, cerca de R$ 41.

“Após o item leitura de livros, aparece cinema (34%), shows de música (29%), espetáculo teatral, espetáculo de dança e exposição de arte, todos com 11%, respectivamente. Ir ao museu foi citado por 10% dos entrevistados. Abaixo, um resumo dos principais dados da pesquisa nacional sobre Hábitos Culturais:

– 56% dos brasileiros afirmaram ter realizado alguma atividade cultural ao longo do ano de 2016 (crescimento de 3 pontos percentuais ante o ano anterior);
– principal atividade mencionada é a leitura de livro, mencionada por 37% dos entrevistados (alta de 1 ponto percentual);
– Na sequência, aparece o cinema (34%), seguido de shows de música (29%), espetáculo teatral (11%), espetáculo de dança (11%), exposição de arte (11%) e museu (10%);
– Em nove anos, dobrou o número de brasileiros que frequenta as salas de cinema;
– proporção semelhante é verificada no item “peças de teatro”, passando de 6% em 2007 para 11% em 2016;
– No período, o preço médio considerado justo para cada uma das atividades segue em queda, ou seja, os brasileiros estão dispostos a pagar menos para cada um dos serviços culturais mencionados”, conclui a pesquisa.

Façamos uma reflexão aberta sobre os percentuais apresentados. Primeiro, vamos confiar que o consultado realmente lê os livros e consome cultura, como informou ao pesquisador. Mesmo ele, o argumento principal é que isso manter o hábito custa caro e ele gostaria que os preços dos produtos culturais fossem menores.

Segundo, ele mentiu para a pesquisa e, neste caso, a culpa não é do pesquisador, é de quem forneceu os dados. Ou ainda, ele disse uma verdade parcial. Qual seja? Ele não tem o hábito da leitura e não compra livros justamente por causa disso. Mas é chato admitir em público que você não lê nada no curso de 365 dias ou 366 se o ano for bissexto.

Pensemos pelo lado bom, sem vermos fantasmas atrás do armário: o brasileiro está mudando e o livro parece ter se tornado o seu melhor companheiro. Tomara.

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