Paulo Guedes nega conflito de interesses: ‘Offshore é uma faca. Pode ser usada para o bem ou para o mal’

Comissões ouvem Paulo Guedes sobre empresa em paraíso fiscal. Foto: Reprodução/YouTube

Comissões ouvem Paulo Guedes sobre empresa em paraíso fiscal. Foto: Reprodução/YouTube

As comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados ouvem nesta terça-feira (23) o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Em pauta, explicações sobre suas movimentações financeiras no exterior através de offshore em paraíso fiscal. Offshores são empreendimentos ou contas bancárias abertas fora do país de origem do proprietário.

Em seu depoimento, Guedes afirmou que sua empresa offshore, que mantém nas Ilhas Virgens Britânicas, é “absolutamente legal” e “usada para o bem”. Segundo ele, conselheiros econômicos recomendaram “por motivos sucessórios” o investimento da renda no exterior para evitar imposto sob herança.

“Se você tiver uma conta em nome da pessoa física, e você falecer, 46% é expropriado pelo governo americano. Mesmo você sendo estrangeiro, todo seu trabalho de vida ao invés de ir para um herdeiro ou para um familiar vira imposto sob herança, então é melhor usar uma offshore”, disse o ministro que defendeu a manutenção de parentes no registro da empresa, mas negou conflito de interesses. “A offshore é como uma faca, você pode usar para matar alguém ou pode usar para cortar uma laranja”, brincou.

Guedes também declarou que perdeu grande parte de seu patrimônio antes de assumir seu cargo.

“Me disseram que o governo Bolsonaro seria muito difícil, muita contestação. Então, o ideal era desinvestir de tudo o que estava fazendo. Eu desinvesti com enorme prejuízo, perdi mais que o valor dessa offshore. Abri mão de mais de 10 anos de trabalho. Tudo o que minha mão alcança eu abro mão. É um sacrifício pelo país”, afirmou.

Guedes acrescentou que não enviou remessas ao Brasil durante seu período no governo e que declara anualmente os valores à Receita Federal, e para a Comissão de Ética da Presidência da República, que exige a Declaração Confidencial de Informações (DCI), que serve, segundo especialistas, para abranger dados sobre potenciais conflitos de interesses decorrentes de relações familiares.

Segundo o deputado Elias Vaz, a documentação encaminhada pelo ministro à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, da qual o parlamentar faz parte, prova que Paula Drummond Guedes, filha do ministro, não constava na declaração , o que caracterizaria omissão de conflito de interesses.

Paulo Guedes classificou como “narrativa política“, “covardia” e “desrespeito” a acusação de Vaz. Isso porque a pergunta não se trata sobre ter ou não parentes na empresa, mas sobre possível improbidade. Nesse caso, Guedes disse que “marcaria mil vezes não”.

A notícia sobre a offshore de Paulo Guedes foi publicada pelos sites da revista Piauí e Poder360, que integram o consórcio internacional de jornalistas investigativos que teve acesso a milhões de documentos sobre offshores em paraísos fiscais (Pandora Papers).

O ministro da Economia pode ter lucrado cerca de R$ 14 milhões com a valorização do dólar, somente durante o seu mandato à frente da pasta. Segundo a revista Piauí, em setembro de 2014, quando fundou a Dreadnoughts International, nas Ilhas Virgens Britânicas, Guedes tinha US$ 9,55 milhões. Esse montante correspondia a quase R$ 37 milhões quando foi nomeado para comandar a economia brasileira pelo presidente Jair Bolsonaro. Na época, a cotação do dólar era de R$ 3,85. No câmbio atual, cada moeda americana equivale a R$ 5,37. Assim, hoje, a Dreadnoughts vale cerca de R$ 51,3 milhões.

Sobre essas acusações, Guedes disse que não fazem sentido, já que ele lutou pelo Banco Central independente.

“Se eu quisesse manipular o câmbio ficava com o Banco Central sob meu controle e mandava fazer uma coisa ou outra”, justificou. “É algo que eu não tenho alcance, nenhuma atitude que eu tomo aqui tem efeito lá”, completou.

O ministro justificou seu o montante no exterior como “sua história de vida”, passando pela fundação do Banco Pactual, da Abril Educação e do Ibmec, bem como seu período como professor, além de seus investimentos pessoais.

“Meu patrimônio tem origem, é só ir ao Insper, ao Pactual, você vai ver uma parte de onde vem meu patrimônio”, disse. “Tive oportunidade de vir ao governo antes e não vim. Se fosse para usar informação privilegiada, conflito de interesses eu teria vindo antes”, completou adicionando que foi convidado para integrar o Banco Central durante o governo de Tancredo Neves.

A convocação do ministro foi pedida pelos deputados Kim Kataguiri (DEM-SP), Paulo Ramos (PDT-RJ), Elias Vaz (PSB-GO) e Leo de Brito (PT-AC). Os requerimentos para a convocação foram aprovados no mês passado pelas duas comissões. Por ter sido convocado, o ministro é obrigado a comparecer.

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