‘O povo brasileiro não será cobaia de ninguém’, diz Bolsonaro sobre vacina

Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução de Internet

Menos de 24 horas após o Ministério da Saúde anunciar que tem a intenção de adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, vacina candidata contra Covid-19 do laboratório chinês Sinovac Biotech testada no Brasil pelo Instituto Butantan, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro Eduardo Pazuello e afirmou que o imunizante contra a Covid-19 “não será comprado” pelo governo brasileiro.

Bolsonaro usou as redes sociais para afirmar a suspensão do acordo com uma das vacinas mais promissoras do mundo contra o novo Coronavírus.

No perfil oficial no Facebook, o presidente escreveu que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém”, numa referência a fato de que o imunizante – assim como todas as outras candidatas a vacinas – ainda não possui autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O presidente disse, ainda, que “não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem” e, em tom oficial, finalizou a postagem afirmando que “diante do exposto, a decisão é não adquirir a referida vacina”.

Bolsonaro também disparou mensagem para seus ministros e aliados no Congresso. “Alerto que não compraremos uma só dose de vacina da China, bem como o meu governo não mantém qualquer diálogo com João Dória na questão do Covid-19. PR Jair Bolsonaro”, diz a mensagem, segundo divulgou a deputada Bia Kicis, do PSL, em uma rede social.

A declaração, no entanto, contradiz os esforços do governo Bolsonaro em divulgar, incentivar e produzir cloroquina, medicamento cuja eficácia nunca foi comprovada contra o coronavírus. O Exército brasileiro havia produzido até julho 3 milhões de comprimidos do medicamento. Os custos da produção, de mais de R$ 1,5 milhão,
são alvo de investigação do Ministério Público de Contas e do TCU.

Mais cedo, o presidente respondeu apoiadores que criticaram a compra da vacina chinesa – que relacionam a tecnologia com o regime político vigente na China – e chegou a falar em traição por parte do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello.

Comentário do presidente no Facebook

Entenda o caso

Nesta terça-feira (20), o governo federal confirmou que irá adquirir o imunizante após aprovação na Anvisa. O potencial imunizante contra o novo Coronavírus está em fase final de estudos clínicos no Brasil e se mostrou totalmente seguro nos testes realizados desde o final de julho.

Vale lembrar que desde as primeiras fases do desenvolvimento da vacina, o presidente faz declarações que criticam a tecnologia chinesa e questionam a segurança do imunizante. Até o momento, a CoronaVac é considerada a vacina mais promissora entre as que testam no Brasil.

A ação é mais um passo na estratégia de ampla oferta de vacinação aos brasileiros. A vacina, segundo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, será incluída no PNI (Plano Nacional de Imunizações).

Nesta semana, Bolsonaro afirmou a apoiadores que a vacina contra o novo Coronavírus “não será obrigatória e ponto final”, e voltou a criticar o governador de São Paulo, João Doria, do PSDB, que defende a obrigatoriedade da dose.

“O Programa Nacional da Vacinação, incluindo as vacinas obrigatórias, é de 1975. A lei atual incluiu a questão da pandemia. Mas a lei é bem clara e quem define isso é o Ministério da Saúde. O meu ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] já disse, claramente, que não será obrigatório esta vacina e ponto final”, enfatizou o presidente.

Somadas, as três vacinas – AstraZeneca, Covax e Butantan-Sinovac – representam 186 milhões de doses, a serem disponibilizadas ainda no primeiro semestre de 2021, já a partir de janeiro.

Profissionais de saúde e grupos de risco deverão ser os primeiros a receber a vacina. O Ministério da Saúde ainda acompanha mais de 200 estudos referentes à produção das vacinas contra a Covid-19 e não descarta novas compras, caso haja necessidade.

Além das divergências com o governador de São Paulo, o presidente Bolsonaro está no meio de uma guerra comercial e ideológica entre a China e os Estados Unidos, que envolve, entre outros pontos, a tecnologia 5G e a gestão da pandemia do novo Coronavírus.










Comentários

 




    gl