Novas mensagens da Vaza Jato revelam que Lula relutou em aceitar convite de Dilma para ser ministro

Os novos diálogos da Vaza Jato revelados pela Folha de São Paulo, neste domingo (8), em parceria com o site The Intercept BR, revelam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou resistência em aceitar o convite da então presidente Dilma Rousseff para ser seu ministro da Casa Civil em 2016. Na época, um grampo telefônico entre os dois foi divulgado e levou o Supremo Tribunal Federal a anular a indicação de Lula para a vaga, às vésperas da abertura do processo de impeachment contra Dilma.

No entanto, as mensagens divulgadas neste domingo mostram que os procuradores da Operação Lava Jato tinham resumos de outras conversas grampeadas do ex-presidente, que não foram divulgadas há três anos. A diferentes interlocutores, Lula disse que relutou e só aceitou o convite de Dilma por pressão de aliados. O ex-presidente falava com políticos, sindicalistas e até com o então vice-presidente Michel Temer.

Após confirmada a nomeação de Lula, o então juiz Sergio Moro mandou interromper o grampo. No entanto, as operadoras de telefonia demoraram a executar a ordem e investigadores continuaram ouvindo as conversas por mais cinco horas. A primeira pessoa com quem o ex-presidente falou após a nomeação foi com sua assessora Clara Ant. Um dos investigadores resumiu a conversa: “Diz que acabou de se foder. LILS diz que ficaram discutindo até meia-noite. LILS tem mais incerteza do que certeza. LILS diz que não tem como escapar ‘dela'”. (LILS = Luiz Inácio Lula da Silva)

A divulgação do grampo telefônico entre Dilma e Lula foi motivo de preocupação dos procuradores em relação a Moro. “Estou preocupado com moro! Com a fundamentação da decisão”, disse o procurador Orlando Martello no Telegram. “Vai sobrar representação para ele.”

“Vai sim”, respondeu Carlos Fernando. “E contra nós. Sabíamos disso.” Para Laura Tessler, o apoio da opinião pública garantiria proteção à Lava Jato: “a população está do nosso lado…qualquer tentativa de intimidação irá se voltar contra eles”. Carlos Fernando recomendou: “Coragem… Rsrsrs”.

Cinco dias depois, o ministro Teori Zavascki, relator dos casos da Lava Jato no STF, suspendeu as decisões de Moro e mandou que enviasse os autos da investigação sobre Lula a Brasília, observando que o sigilo fora levantado “sem nenhuma das cautelas exigidas em lei”.

Uma semana depois, Moro explicou sua conduta e disse que não tivera intenção de provocar “polêmicas e constrangimentos desnecessários” e pediu “respeitosas escusas”, mas não reconheceu nenhum erro na condução do processo.

Junto com os autos, Moro enviou a Teori um CD com todos os diálogos interceptados pela polícia, afirmando que mantivera em sigilo apenas conversas pessoais, com advogados ou que “simplesmente não têm conteúdo jurídico-criminal relevante”.

Em junho, Teori anulou as decisões de Moro e o repreendeu, afirmando que ele usurpara as atribuições do Supremo ao tratar a conversa de Dilma e Lula como válida, divulgar diálogos dela e de outras autoridades com foro na corte e fazer juízo de valor sobre sua conduta sem ter competência legal para tanto.

No entanto, os efeitos das decisões de Moro eram irreversíveis. Com base nas conversas divulgadas pelo juiz, o ministro Gilmar Mendes, do STF, anulou a posse de Lula dois dias depois, em 18 de março. Com o aprofundamento da crise política, a Câmara aprovou a abertura do processo de impeachment em abril e afastou Dilma do cargo.