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Marília Pêra traz Chanel para o Rio de Janeiro em agosto

Marília Pêra sempre interpretou no palco divas do imaginário coletivo. Com Gabrielle Chanel não foi diferente. Ao encarnar a mulher que revolucionou a moda do século 20 e se tornou símbolo da elegância feminina no mundo, a atriz transformou ‘Mademoiselle Chanel’ em um dos maiores sucessos do teatro brasileiro dos últimos tempos.

Encenado em cidades como São Paulo, Paris e Lisboa, o espetáculo já foi visto por cerca de 200 mil espectadores e chega agora ao Rio para uma curta temporada.

Com texto de Maria Adelaide Amaral, direção, cenários, iluminação e trilha sonora de Jorge Takla e figurinos originais assinados por Karl Lagerfeld, diretor de criação da Maison Chanel, a montagem ocupará o palco do Teatro Maison de France a partir do dia 18 de agosto, em produção da CIE Brasil. As modelos Laura Wie e Elen Londero completam o elenco.

Uma mulher multifacetada

A peça flagra Chanel (1883-1971) já no crepúsculo da vida, aos 88 anos, em seu famoso estúdio da Rue Cambon. Ela odiava os fins de semana, sobretudo os domingos, porque era o momento em que tinha de se confrontar com a solidão.

A peça se passa exatamente em uma sexta-feira, quando o último cliente já foi atendido e os funcionários partem para suas casas.

As cortinas se abrem e Chanel está no alto da escadaria ladeada por espelhos. Ao ver-se refletida, sentencia: “Envelheci!” A cena inicial dá a pista do que o público verá a seguir: o balanço de uma existência extraordinária, recheada de histórias que ajudaram a forjar aquele que viria a ser o maior ícone da moda de todos os tempos.

Vestindo o tailleur branco com debruado preto e vermelho, sua célebre criação de 1954, a estilista vai desfiando reminiscências: da infância pobre até a criação do maior império fashion da época, passando pela sucessão de perdas afetivas que sofreu ao longo da vida e os muitos artistas cujas carreiras ajudou a construir.

Arrogante, impaciente, sarcástica e mitômana – sem qualquer pudor em reinventar a própria história de acordo com a conveniência -, Chanel foi também extremamente sedutora. Embora nunca tenha se casado (daí o Mademoiselle, tratamento francês dispensado somente às solteiras), colecionou amantes e amigos famosos. Sua obsessão pelo trabalho a acompanhou até o final da vida.

“Chanel sempre foi consciente da sua importância e do seu lugar no mundo”, explica Maria Adelaide Amaral, que escreveu o texto em 1993 após uma extensa pesquisa. “Procurei encontrar a mulher por trás do mito. Entendo por que ela era vista como arrogante. Saiu de um orfanato, trabalhava em uma loja de costura durante o dia e se prostituía à noite. Quase perdeu a vida muitas vezes, mas só morreu aos 88 anos, no auge. Sua altivez era típica de quem vence e não deve nada a ninguém.”

A delicada interpretação de Marília

Marília Pêra compõe o personagem para além da caracterização pura e simples. Para chegar ao resultado que encantou críticos e vem mesmerizando platéias, ela mergulhou fundo no universo da estilista. Leu tudo o que lhe caiu nas mãos, devorou biografias, estudou fotos e reviu centenas de vezes as poucas imagens em movimento que restaram de Chanel.

“Ela era enérgica, uma figura cuja personalidade não a deixava passar desapercebida. Egocêntrica, cheia de amargor, mas também espirituosíssima, dotada de um humor que destruía reputações com apenas uma palavra. Trabalhei muito em cima do desenho do corpo, tentei acompanhar os movimentos, mas sobretudo quis entender a alma da personagem para que a composição não fosse apenas uma coreografia da elegância”, explica Marília.

O resultado é uma senhora de ombros curvos, quadril projetado para a frente e cigarro sempre entre os dedos. Durante os 75 minutos do monólogo, Marília fala compulsivamente, assim como fazia Chanel na vida real. Ela trocou o registro vocal agudo pelo grave e evitou a tentação de colocar qualquer sotaque na personagem. Imprimiu, porém, o ritmo da prosódia francesa às falas. Não se esqueceu de repetir em cena pequenos cacoetes de Mademoiselle, como colocar a mão no bolso ou enfiar o dedo no cós da saia, nem de lembrar à platéia, através da maneira de andar, que, apesar dos 88 anos, Chanel ainda era, sim, uma mulher sensual.

Tanta riqueza de nuances acabou por lhe render os prêmios Shell, APCA e Qualidade Brasil de melhor atriz.

A montagem de Takla

A elegância da montagem deve-se ao diretor Jorge Takla, nome ainda pouco familiar aos cariocas mas responsável por dezenas de sucessos teatrais em São Paulo. Ex-colaborador de Bob Wilson e Andrei Serban e profundo conhecedor da cultura francesa (formou-se em Belas Artes e arquitetura em Paris), ele e Marília já haviam trabalhado juntos em três outros espetáculos: “Master Class” (onde ela interpretava Maria Callas), “Victor ou Victoria” (versão para os palcos do filme de Blake Edwards) e ‘Marília Pêra canta Ary Barroso’. A intimidade entre os dois facilitou o processo de trabalho.

“Marília é uma atriz que alcança a essência do personagem. Ela só aceita interpretar um papel quando sabe que pode recriar a sua verdade em cena”, revela Takla, que concebeu um cenário onde predomina o branco, cor preferida da estilista. Autor também da trilha sonora, ele escolheu canções francesas e americanas do início do século para sublinhar as lembranças da protagonista. Em vários momentos, projeções de fotos e filmes desvendam para o espectador a imagem dos inúmeros personagens que ela cita ao longo do espetáculo.

Enquanto evoca o passado, Chanel realiza provas de roupa em duas modelos. O momento é utilizado pelo diretor promover em cena um legítimo e exclusivo desfile de roupas e acessórios de alta-costura da grife francesa. O guarda-roupa da peça inclui tailleurs, vestidos, robes-de-soirée, sapatos, cintos, colares e bolsas, tudo confeccionado em Paris.

Foi essa alquimia peculiar – sofisticação na encenação, luxo nos figurinos e interpretação magistral de Marília Pêra – que fez de ‘Mademoiselle Chanel’ um sucesso inesperado. “Imaginávamos ficar em cartaz por uns três meses apenas. Mas já faz dois anos que estamos lotando os teatros por onde passamos”, orgulha-se Takla.

A peça estreou em São Paulo em junho de 2004, no Teatro da Faap, onde cumpriu um ano e meio de temporada. Em seguida, percorreu as cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Salvador e Porto Alegre. No ano passado, atravessou o Atlântico para nove apresentações em Paris e um mês em Portugal. Até o momento, já foi vista por 200 mil pessoas.

Temporada francesa

A ousadia de apresentar na França a visão estrangeira sobre um personagem-símbolo do país comportava muitos riscos. O resultado, porém, superou expectativas. A temporada de duas semanas no Théâtre des Champs-Elysées, em julho do ano passado, dentro da programação do Ano do Brasil na França, não só foi um sucesso de público como arrancou elogios entusiasmados da habitualmente sisuda imprensa francesa. “Paris reservou uma ovação de pé para a emocionante interpretação de Marília Pêra”, registrou o diário Le Monde. “Sua tarefa parecia impossível, mas o milagre se deu: Marília Pêra era Coco Chanel’, destacou Fabienne Pascaud, crítica do semanário Télérama.

O coro ganhou força com Karl Lagerfeld, um dos mais íntimos conhecedores da trajetória de Chanel e responsável por manter vivo o seu legado artístico. “Marília Pêra está memorável, perfeita.’, elogiou. Diretor da maison desde 1983, o ‘kaiser’ alemão se deixou seduzir pelo projeto e criou os 16 figurinos usados em cena, além de assinar a ilustração do cartaz da peça.

Entretanto, tudo isso só aconteceu graças à tenacidade do diretor e produtor Jorge Takla. Foi ele quem convenceu a Maison Chanel, detentora do espólio e dos direitos de imagem da estilista, a autorizar que sua vida fosse levada para o palco. Isso só ocorrera antes uma vez, em 1970, quando Katherine Hepburn estrelou na Broadway o musical ‘Coco’ – mas aí com autorização da própria Chanel, que morreria apenas no ano seguinte. Desde então, nunca mais se permitiu que sua história fosse contada no teatro.

Quem foi Coco Chanel

Muito do que ainda se vê na moda hoje em dia foi ditado por Gabrielle Chanel há quase 100 anos: os cabelos curtos, o pretinho básico, a bolsa com alças, o tailleur e até mesmo o bronzeado na pele. Isso explica, em parte, por que ela se tornou o maior ícone da moda no século 20 e se transformou em símbolo de elegância feminina no mundo. Além de criadora genial, Chanel era também uma visionária, possuía aptidão para os negócios e era dona de uma personalidade avassaladora. Quando chegou ao topo da moda, nem de longe lembrava a menina pobre que chegou a se prostituir para sobreviver.

Desde cedo aprendeu a diminuir a idade, mas registros históricos a desmentiam: Chanel nasceu em Saumur, a 19 de agosto de 1883, em uma família de quatro irmãos. Depois da morte da mãe, passou boa parte da infância em um orfanato, experiência que viria a marcá-la profundamente a ponto de influenciar suas criações. Os uniformes pretos de cortes retos inspiraram as roupas despojadas que revolucionaram a moda feminina.

A rotina dura de balconista de loja de dia e cantora de cabaré à noite foi radicalmente modificada quando conheceu o jovem bon vivant Étienne Balsan. Com ele, Chanel conhece o grand monde. Mas foi com Boy Capel, que depois a estilista viria a confessar ter sido seu grande amor, que obtém ajuda para abrir sua primeira butique, de chapéus, na Rue Cambon. A ameaça da Primeira Guerra Mundial a leva de Paris para Deauville, onde abre uma loja de roupas e dá um inédito status a tecidos práticos e confortáveis como o jérsei, lançando os primeiros cardigãs.

O retorno à rua Cambon, em 1921, não é mais de uma iniciante e sim a de uma já rica e famosa Chanel. Seu talento inovador não ficou restrito à moda e revoluciona também ao abdicar das essências florais e lançar o mítico perfume Nº 5.

Diaghilev, Cocteau, Stravinsky, Visconti foram algumas de suas amizades, aos quais ajudou muitas vezes financeiramente. Adorada mecenas das artes, Chanel foi por vezes também alvo de acusações. Ao se envolver com um jovem oficial nazista na Segunda Guerra, viu-se obrigada a se exilar na Suíça. No entanto, defendeu-se da mesma forma altiva e orgulhosa com que costumava responder seus detratores, saindo-se com mais uma de suas frases memoráveis: “Quando um homem se interessa por uma mulher de 60 anos, você não lhe pede os documentos”.

O retorno à França em 1954, aos 71 anos, revelou que uma década não havia sido suficiente para fechar velhas feridas. Recebida friamente, sua nova coleção foi taxada de ‘já ter nascido velha’. A redenção veio então do outro lado do Atlântico. As revistas americanas Time e Life exaltaram o talento de Chanel, afirmando que mais uma vez a estilista revolucionava a moda feminina. Seu estilo foi então copiado e vendido mundo afora. Aos 88 anos, em 1971, a ainda ‘Mademoiselle’ Chanel faleceu em um domingo – ironicamente, o dia da semana que mais detestava.

As frases de Chanel

“Luxo não é o contrário de pobreza, mas de vulgaridade”

“Uma mulher tem a idade que merece”

“A moda passa, mas o estilo permanece”

“O sucesso é geralmente alcançado por aqueles que não sabem que o fracasso é inevitável”

“A melhor cor do mundo é aquela que fica bem em você”

“Uma mulher que não usa perfume não tem futuro”

“O luxo deve ser confortável, do contrário não é luxo”

“Há pessoas que têm dinheiro e há pessoas que são ricas”

“Aos 20, você tem o rosto que a natureza lhe deu; aos 50, você terá o rosto que merecer”

“A moda foi feita para ficar fora de moda”

“Inovação! Ninguém pode ser inovador para sempre. Quero criar é clássicos!”

“Para ser insubstituível, você precisa ser diferente”

“Juventude é algo muito recente: 20 anos atrás ninguém falava nisso”

“Ninguém é jovem depois dos 40, mas pode-se ser irresistível a qualquer idade”

SERVIÉO:

Estréia dia 18 de agosto

Teatro Maison de France
Av Presidente Antônio Carlos, 58 – Centro
Tel 2544.2533
Horários: quinta a sábado, 21h00; domingo, 18h00
Preço único: R$ 100,00
Meia entrada: R$ 50,00
Pagamento em dinheiro, Visa e Mastecard – não aceita-se cheques
Bilheteria aberta de terça a domingo, a partir das 14 horas.
Reservas de ingressos e venda para grupos (011) 6846 61 66 ou na bilheteria do teatro

Serviços de entregas – 0300 789 6846

*Fonte: Informações oferecidas pela Canivello Comunicação

Redação SRzd

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