Maria Flor relembra namoro com Jonathan Haagensen e desabafa sobre racismo

Maria Flor e Jonathan Haagensen. Foto: Reprodução/Instagram

Maria Flor e Jonathan Haagensen. Foto: Reprodução/Instagram

A atriz Maria Flor relatou em seu Instagram sobre o tempo em que namorou o ator Jonathan Haagensen e falou sobre racismo estrutural na sociedade. Leia abaixo:

Durante três anos eu namorei o ator @jonathanhaagensen
O Jonathan morava e ainda mora no vidigal. Ele é negro, eu sou branca.
A gente se conheceu em um filme e se apaixonou.
Isso não tinha nada a ver com a nossa cor.
E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso.
Mas estava lá, o tempo todo estava lá.
E a gente foi percebendo que não era normal a gente junto em um restaurante, que não era comum a gente fazendo compras no mercado, que não era tranquilo ele dirigir o carro porque seríamos parados na blitz se ele estivesse dirigindo e não eu.

Eu, branca, garota da zona sul do Rio de Janeiro, achei que podia fazer justiça. Mas não, eu não podia, e eu só fiz ele passar por uma humilhação que eu jamais entenderia. Jamais.

Eu lembro de um dia que fomos parados na entrada do Vidigal por policiais.
Jonathan disse que era morador, mas os policiais mandaram ele descer do carro e começaram a revistá-lo.
Aquilo era humilhante.
Eu na minha jovem arrogância desci do carro e gritei com o policial.
E perguntei indignada o que ele estava fazendo.
O Jonathan pediu para eu parar, mas eu gritei e perdi a mão. E o policial nos levou para a delegacia por desacato.
Eu nunca vou esquecer o rosto do Jonathan indo para a delegacia. Tudo que ele tinha passado a vida evitando eu tinha feito acontecer por um capricho meu, por não olhar para tudo a minha volta e perceber que a coisa era muito mais grave. Que abaixar a cabeça tinha sido a realidade dele e eu achei que poderia salvá-lo disso. Eu, branca, garota da zona sul do Rio de Janeiro, achei que podia fazer justiça. Mas não, eu não podia, e eu só fiz ele passar por uma humilhação que eu jamais entenderia. Jamais.
E mesmo tendo visto e vivido a experiência de ser olhada nos lugares por estar de mãos dadas com um negro, eu jamais entenderei.
E sim, temos que olhar para o lado e perceber que a não existência de um negro na escola do nosso filho não é normal, que não ter um negro no cinema ao nosso lado não é normal, não ter um negro num restaurante não é normal, não ter um negro no ambiente de trabalho não é normal.
E não pensamos nisso. Não percebemos nosso próprio descaso diário. E não percebemos o racismo estrutural que existe em nós.
Hoje eu acho que nosso namoro terminou pela nossa incapacidade de perceber essa gigante distância social que existe na cor da nossa pele.

A postagem de Maria Flor viralizou na rede social e outros seguidores compartilharam histórias parecidas. “Eu não consigo me adaptar com essas coisas, sou branca e namoro uma pessoa negra e percebo diariamente os olhares uns de admiração mas a maioria é de repúdio já escutei tanta coisa desnecessária que não comento e jamais iria comentar pra ele pois acho que essas coisas não precisam ser reproduzidas, jamais saberei na pele o que é ser negra jamais saberei o quão deve ser difícil, e como deve ser doloroso. Eu só posso dizer que AMO um homem que é NEGRO e que me orgulho imensamente a cada dia que passa da força e da garra dele”, desabafou uma internauta.

“Ahh q texto espetacular, quanta sensatez nas palavras. Sou filha de negra e branco, como vê nasci branca mas, meu irmão ñ. E a vida todaaa as pessoas nos perguntam se somos mesmo irmãos, se somos filhos do mesmo pai e da mesma mãe. As pessoas, q dizem ñ serem preconceituosas arregalam os olhos quando mostro foto do meu avô paterno (negão lindo) mas, juram que ñ se chocam… rss tô rindo mas, é de nervoso, é triste. Triste ainda nos dias de hj nos depararmos com situações como as q vcs viveram lá trás na década de 90, q aliás já nem era p existir. Sei q estamos no caminho certo na busca da igualdade mas, infelizmente tenho nítida consciência q ainda há um longo e doloroso caminho a ser percorrido. Maaasss… bora lá ! @mariaflor31 obrigada por compartilhar conosco sua vivência no intuito de mostrar q somos mais do q cor de pele, etc.”, escreveu outra seguidora.

 

View this post on Instagram

 

Durante três anos eu namorei o ator @jonathanhaagensen O Jonathan morava e ainda mora no vidigal. Ele é negro, eu sou branca. A gente se conheceu em um filme e se apaixonou. Isso não tinha nada a ver com a nossa cor. E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso. Mas estava lá, o tempo todo estava lá. E a gente foi percebendo que não era normal a gente junto em um restaurante, que não era comum a gente fazendo compras no mercado, que não era tranquilo ele dirigir o carro porque seríamos parados na blitz se ele estivesse dirigindo e não eu. Eu lembro de um dia que fomos parados na entrada do Vidigal por policiais. Jonathan disse que era morador, mas os policiais mandaram ele descer do carro e começaram a revistá-lo. Aquilo era humilhante. Eu na minha jovem arrogância desci do carro e gritei com o policial. E perguntei indignada o que ele estava fazendo. O Jonathan pediu para eu parar, mas eu gritei e perdi a mão. E o policial nos levou para a delegacia por desacato. Eu nunca vou esquecer o rosto do Jonathan indo para a delegacia. Tudo que ele tinha passado a vida evitando eu tinha feito acontecer por um capricho meu, por não olhar para tudo a minha volta e perceber que a coisa era muito mais grave. Que abaixar a cabeça tinha sido a realidade dele e eu achei que poderia salvá-lo disso. Eu, branca, garota da zona sul do Rio de Janeiro, achei que podia fazer justiça. Mas não, eu não podia, e eu só fiz ele passar por uma humilhação que eu jamais entenderia. Jamais. E mesmo tendo visto e vivido a experiência de ser olhada nos lugares por estar de mãos dadas com um negro, eu jamais entenderei. E sim, temos que olhar para o lado e perceber que a não existência de um negro na escola do nosso filho não é normal, que não ter um negro no cinema ao nosso lado não é normal, não ter um negro num restaurante não é normal, não ter um negro no ambiente de trabalho não é normal. E não pensamos nisso. Não percebemos nosso próprio descaso diário. E não percebemos o racismo estrutural que existe em nós. Hoje eu acho que nosso namoro terminou pela nossa incapacidade de perceber essa gigante distância social que existe na cor da nossa pele.

A post shared by Maria Flor (@mariaflor31) on

Comentários

 




    gl