Laboratórios emitem boletim técnico sobre a mortalidade atípica de botos no Rio

Boto. Foto: Divulgação

Boto. Foto: Divulgação

Mais de 170 botos-cinza (Sotalia guianensis) morreram nas baías de Ilha Grande e de Sepetiba, no
Rio de Janeiro, desde o final de novembro de 2017.

Pesquisadores dos laboratórios LAPCOM e do MAQUA identificaram uma das causas. Trata-se de um surto da doença conhecida como morbilivirose dos cetáceos.

É importante salientar que os vírus dessa família não costumam ser transmitidos dos animais para os humanos, ou seja, cada um tem seu grupo próprio de hospedeiros. É a primeira vez que um surto causado por morbilivírus dos cetáceos é detectado na América do Sul.

Desde o final de novembro, a cada semana, dezenas de animais têm sido encontrados mortos
boiando ou encalhados nas praias. Não se sabe quanto tempo o surto pode durar. Tipicamente os
surtos duram enquanto houver animais suscetíveis. Os fatores que contribuíram para o início do
surto ainda são desconhecidos e estão sendo investigados.

PERGUNTA: O que é morbilivírus?

RESPOSTA: Morbilivírus (Morbillivirus) é o gênero de um vírus da família Paramyxoviridae. Algumas espécies de morbilivírus são muito estudadas por causar doenças conhecidas, como o sarampo (nos humanos), a cinomose (nos cães e focas) e a peste dos pequenos ruminantes (em cabras e ovelhas). Recentemente, o morbilivírus também foi associado à doença renal em gatos. O morbilivírus dos cetáceos afeta botos, golfinhos e baleias. No Brasil, o vírus foi detectado em golfinhos da espécie boto-cinza (Sotalia guianensis).

PERGUNTA: O morbilivírus dos cetáceos está causando o evento de mortalidade atípica dos botoscinza
no Rio de Janeiro?

RESPOSTA: Sim, com base nos testes diagnósticos realizados e discussão com especialistas, a causa principal da mortalidade está sendo atribuída ao morbilivírus dos cetáceos. No entanto, é possível que, devido a ação do vírus, que compromete a imunidade dos animais, outras doenças possam estar associadas. A investigação ainda está em andamento para identificar quais outros fatores podem estar contribuindo com a mortalidade.

PERGUNTA: Quantos botos-cinza foram afetados durante este evento de mortalidade atípica?

RESPOSTA: Até o momento, cerca de 170 animais morreram na baía de Ilha Grande e de Sepetiba. A tendência é que este número aumente nas próximas semanas.

PERGUNTA: Qual é o risco dos humanos serem infectados pelo vírus?

RESPOSTA: Até o presente momento não há casos relatados de infecção humana com morbilivírus dos cetáceos. Cada espécie de morbilivírus tende a infectar apenas os hospedeiros aos quais estão adaptados, e os seres humanos têm o seu próprio morbilivírus, que é o vírus responsável pelo sarampo.

PERGUNTA: Quais os sintomas/sinais do morbilivírus nos botos e golfinhos?

RESPOSTA: O morbilivírus dos cetáceos afeta os pulmões, cérebro e o sistema imunológico. Vários animais que se mostraram positivos para este vírus apresentaram lesões cutâneas, orais e
pulmonares; além disso, alguns tiveram infecções secundárias causadas por bactérias, fungos e
parasitas.

PERGUNTA: Há quanto tempo o vírus é conhecido?
RESPOSTA: O morbilivírus dos cetáceos foi detectado pela primeira vez no final da década de 1980 /início da década de 1990, quando surgiram surtos em populações de golfinhos do Atlântico Norte e Mar Mediterrâneo.

PERGUNTA: O morbilivírus havia sido detectado anteriormente em botos ou golfinhos do Brasil?

RESPOSTA: Sim, o primeiro caso confirmado de morbilivírus dos cetáceos foi detectado em um
filhote de boto-cinza encontrado em Guriri, Espirito Santo, em 2010. Esta é a segunda vez que o vírus é identificado no Brasil, e a primeira vez que um surto da doença é detectado.

PERGUNTA: Como o vírus se espalhou entre os botos?

RESPOSTA: Os golfinhos se infectam preferencialmente por via respiratória uma vez que os
morbilivírus geralmente são transmitidos por meio da inalação de aerossóis contendo partículas
virais, ou então por contato direto entre os animais. Os animais também podem ser expostos ao
vírus através de outras vias de entrada, como conjuntiva, boca, feridas na pele e trato urogenital.
Como nas baías de Ilha Grande e Sepetiba os botos formam grandes grupos, às vezes com mais de
200 animais, a transmissão deve ocorrer rapidamente e em grande escala.

PERGUNTA: Há algo que se possa fazer para proteger os botos do vírus?

RESPOSTA: Atualmente não há como parar a disseminação do vírus em populações de botos ou
golfinhos suscetíveis, e não há vacinas ou medicamentos antivirais disponíveis que possam ser
administrados de forma eficaz em populações de golfinhos em vida livre. Um outro aspecto muito
importante é que, como os animais estão vulneráveis devido à doença, é necessário que não haja
aproximação excessiva de embarcações de grupos de botos. Botos, baleias e golfinhos são protegidos por lei (PORTARIA Nº 117, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1996 – Proíbe a ação de molestamento de cetáceos em águas jurisdicionais brasileiras).

PERGUNTA: O que devo fazer se encontrar um golfinho nadando desorientado ou encalhado em uma praia?

RESPOSTA: Evite tocar ou aproximar-se do animal, vivo ou morto. Contate a equipe de monitoramento de praias de sua região ((21) 99784-0777 / (21) 2334-0795). O morbilivírus dos cetáceos não é infeccioso para as pessoas e animais de estimação, mas os golfinhos podem ter outros patógenos bacterianos ou fúngicos secundários que podem colocar em risco animais domésticos e as pessoas.

PERGUNTA: Existe algum fator ambiental (ou antropogênico) que desencadeia um surto como este, tornando os golfinhos mais suscetíveis à infecção?

RESPOSTA: Ainda precisamos de mais estudos para determinar se existem fatores ambientais ou provocados por humanos que possam influenciar a ocorrência de surtos.

PERGUNTA: Há algum risco quanto à ingestão de frutos do mar?

RESPOSTA: Não há evidências documentadas de morbilivírus de cetáceos em peixes ou mariscos.

As coletas e monitoramento dos botos estão sendo realizada no âmbito dos projetos PMP-BS (MAQUA/UERJ, CTA Meio Ambiente, Instituto Boto Cinza e Petrobras) e Programa de Conservação dos botos-cinza (Sotalia guianensis) e outros cetáceos das baías da Ilha Grande e de Sepetiba: proteção, educação ambiental e avaliação de riscos (MAQUA/UERJ, Associação Cultural e de Pesquisa Noel Rosa, INEA e Transpetro).

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