Joaquim Barbosa: ‘Brasil deu um passo para trás gigantesco em 2016’

Para o ex-ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, “tudo o que está acontecendo esta semana no Congresso é desdobramento do controvertido processo de impeachment [da presidente Dilma Rousseff], cujas motivações reais eram espúrias”. A declaração de Barbosa foi em entrevista concedida à “Folha” e publicada nesta quinta-feira (1).

Segundo o ex-ministro, “a partir do momento em que se aceitou como natural o torpedeamento do pilar central do sistema presidencialista, abriu-se caminho para o enfraquecimento de outras instituições”.

Quanto ao governo de Michel Temer, Barbosa acha que há risco de não chegar ao fim. “É tão artificial essa situação criada pelo impeachment que eu acho, sinceramente, que esse governo não resistiria a uma série de grandes manifestações”.

Ele falou ainda sobre como deveria ser uma liderança de um país. “Uma das características da boa Presidência é a comunicação que o presidente tem diretamente com a nação, e não com o Congresso. Ele governa em função da legitimidade, da liderança, da expressão da sua vontade e da sua sintonia com o povo. Dilma não tinha nenhum desses atributos. Aí ela foi substituída por alguém que também não os têm, mas acha que está legitimado pelo fato de ter o apoio de um grupo de parlamentares vistos pela população com alto grau de suspeição. Ele [Temer] acha que vai se legitimar. Mas não vai. Não vai. Esse malaise [mal estar] institucional vai perdurar durante os próximos dois anos.

Para Barbosa, “o Brasil deu um passo para trás gigantesco em 2016. As instituições democráticas vinham se fortalecendo de maneira consistente nos últimos 30 anos. O Brasil nunca tinha vivido um período tão longo de estabilidade. E houve uma interrupção brutal desse processo virtuoso. Essa é a grande perda. O Brasil de certa forma entra num processo de ‘rebananização’. É como se o país estivesse reatando com um passado no qual éramos considerados uma República de Bananas. Isso é muito claro. Basta ver o olhar que o mundo lança sobre o Brasil hoje”.

O ex-ministro opinou ainda sobre uma possível prisão de Lula. “Eu nunca li, nunca me debrucei sobre essas acusações. Sei que há uma mobilização, um desejo, uma fúria para ver o Lula condenado e preso antes de ser sequer julgado. E há uma repercussão clara disso nos meios de comunicação. Há um esforço nesse sentido. Mas isso não me impressiona. Há um olhar muito negativo do mundo sobre o Brasil hoje. Uma prisão sem fundamento de um ex-presidente com o peso e a história do Lula só tornaria esse olhar ainda mais negativo. Teria que ser algo incontestável”.