Coronavírus é o inferno de Bolsonaro, por Sidney Rezende
O bom jornalista é o que não briga com os fatos. O bom presidente, também. Antes de Jair Bolsonaro convocar os pastores evangélicos para o grande jejum deste domingo (5) e dos marqueteiros aconselharem reforçar o sobrenome Messias mais do que outro, onde qualquer semelhança é mera coincidência, o presidente colombiano, Ivan Duque, já havia inaugurado este caminho de fé e rezado para a padroeira do país, a Virgem de Chiquinquirá, pedindo para ela proteger a Colômbia. Apesar dos apelos, a propagação da Covid-19 não recuou.
O Brasil, o primeiro país sul-americano a anunciar um paciente infectado, em 26 de fevereiro, poderia ter aproveitado o alerta e iniciado medidas emergenciais. Um mês e dois dias depois do primeiro registro da moléstia, o presidente brasileiro decidiu seguir no caminho oposto e desdenhar a gravidade do coronavírus.
O capitão preferiu vociferar contra a imprensa, – seu inimigo imaginário -, e minimizou a real força do vírus que, rapidamente, mataria grande número de compatriotas.
Enquanto no dia 24 de março o ex-atleta Bolsonaro utilizava a dispendiosa rede nacional de rádio e televisão para em pronunciamento oficial dizer que estávamos diante de uma “gripezinha” e criticar governadores do país por instituírem bloqueios em alguns dos principais estados, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, 13 dias antes, já tinha determinado que qualquer estrangeiro estava proibido de entrar no país.
No dia 16 de março, todos os voos internacionais tinham sido suspensos no país caribenho. Por aqui, o popular ministro da Justiça, Sérgio Moro, que se esconde da crise de saúde como diabo da cruz, liberou o direito de viajantes dos Estados Unidos entrarem livremente no Brasil. Os americanos hoje estão entre os que são os mais infectados pelo vírus do mundo.
Voltando a El Salvador, no dia 18 de março, com apenas um caso confirmado no país, o presidente decretou uma quarentena e o fechamento do comércio não essencial. A velocidade na tomada de decisão foi seguida por várias outras medidas, como a suspensão do pagamento de contas para qualquer serviço público como água, eletricidade, telefone e internet, além da suspensão do pagamento de aluguéis, empréstimos e hipotecas. Resultado, Bukele é o governante mais bem avaliado da América Latina, com 97% de aprovação.
Enquanto no Brasil, o pagamento de R$ 600, por trabalhador informal, ainda está travado na área técnica do governo, muitos países já fizeram esta distribuição e, com isso, diminuíram o impacto da crise financeira agravada pelo coronavírus.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, que há poucos dias fazia sua despreocupada caminhada na orla do Arpoador, Ipanema e Leblon, lindas praias cariocas, disse em entrevista coletiva esta semana que “quem critica a lentidão do governo está querendo fazer política”. O fato é que o povo faminto está sem dinheiro para levar comida para casa.
A visão de Bolsonaro sobre a importância do combate ao coronavírus, quem diria, é a mesma do equivocado presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que incentivou – e incentiva! – procissão, com máximo de aglomeração pela capital, pedindo ajuda de Deus, sem fazer sua parte aqui na Terra.
O presidente do Brasil e o seu ministro da Economia deixaram de lado os repetidos elogios do primeiro ano de governo ao Chile como exemplo a ser seguido. Nesta crise de saúde, Sebastián Piñera tem aprovação só de 19% da população do seu país. Não por acaso, ele e Iván Duque, da Colômbia, seguiram o receituário “liberal” de Chicago.
Os dois presidentes amargaram o descontentamento social, especialmente Piñera. “Devido à questão de uma matriz de pensamento neoliberal, ou pensar no bem-estar do país como se fosse equivalente ao bem-estar das empresas ou da economia, com o aumento de casos de coronavírus, perceberam o custo político e decidiram tomar outras decisões “, afirma o Bruno Dalponte, analista e pesquisador internacional da Faculdade de Ciências Sociais da América Latina (FLACSO).
No caso brasileiro, a posição do chefe de estado diante da crise de saúde tem um alto custo para sua imagem: um estudo realizado pelo Instituto Atlas Político revelou que 61% da população desaprova a administração do líder de extrema-direita diante da pandemia.
A mais recente pesquisa Datafolha aponta que a desaprovação de Bolsonaro na emergência sanitária subiu de 33% do último levantamento para 39%. Já a aprovação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, aumentou de 55% para 76%. O misto de inveja e ciúme de Bolsonaro diante dos números amealhados por seu subordinado na Saúde é a explicação do motivo que faz o presidente infernizar seu ministro para levá-lo à demissão.
Veja abaixo a avaliação geral dos governantes da América Latina:
Gráfico reproduzido do site RT
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