Grupo Abril: Como sair desta encrenca?, por Sidney Rezende

Revistas da Editora Abril. Foto: Reprodução

Revistas da Editora Abril. Foto: Reprodução

O Grupo Abril acumula endividamento de R$ 1,6 bilhão, queda de vendas e patrimônio negativo de R$ 715,9 milhões . Os prejuízos recentes bateram R$ 768,1 milhões nos últimos três anos. Só em 2017, R$ 331,4 milhões. É inútil vermos o futuro com o binóculo do passado.

O que vem por aí é “desapego” ao que foi um dia o império erguido pela lenda Victor Civita. Sem dimensionar o problema, ele não será resolvido, pensam os novos gestores. Este será o mantra da nova Abril que se quer desenhar após o sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ainda no primeiro trimestre de 2019.

Não faz tempo, os analistas contratados para sanear a companhia aconselharam cortes de 600 funcionários. Reverter este ambiente perverso será o principal desafio do time comandado pelo nova gestão: “Com a venda do Grupo Abril para Fábio Carvalho, a família Civita delega a ele a tarefa de administrar os desafios e as oportunidades que estão no horizonte da nova mídia. Fábio reúne as características de empreendedor e a visão de negócio que os novos tempos exigem. Desejamos a ele muito sucesso”, declarou em nota Giancarlo Civita, esta semana.

Durante a crise, todo mundo sai correndo.

Eu conheci Fábio Carvalho quando ele enfrentava realidade semelhante na recuperação do grupo varejista Casa & Vídeo. Tivemos uma conversa pormenorizada dos passos feitos ali, e que serviram de bases para o receituário adotado mais tarde na Leader. Munido destes dados, eu o entrevistei na Casa do Saber, quando sua sede ainda era na Lagoa, no Rio. Na ocasião, eu lhe fiz uma bateria de perguntas sobre os seus métodos de trabalho. Penso que ele adotará 5 medidas logo que assumir:

1) Designar auxiliares técnicos entre os 12 mais experientes da sociedade de investimentos Legion Holdings, composta por especialistas em renegociações de dívidas e transformações operacionais;

2) Fábio Carvalho deverá reunir o máximo de executivos da própria Abril e anunciar o que pretende fazer em linhas gerais. Ele fez isso na Casa & Vídeo, e o papo foi reto: “A próxima folha de pagamentos está garantida. A seguinte, nós temos que criar”. Acredito que Carvalho irá dizer que “não adianta reclamar que tá difícil”.

Dá para arriscar o que ele poderá pensar nesta hora? Sim. Eu arrisco: “Vim para reestruturar a empresa e acabou”;

3) Anunciar para os funcionários um plano de “equilíbrio de gestão”. Ele dirá o que fará primeiro e buscará apoio interno. Carvalho costuma dizer que “crise esfacela contrato” e “justamente durante as crise é que todo mundo sai correndo”;

Veja: A tesoura direcionará suas pontas para aquele olimpo também.

4) Chamar os credores e tentar converter dívidas em capital compartilhado. Ou seja, ganhar tempo, trazer parceiros para a causa e sinalizar que todos estão no mesmo barco. Algo como, “vocês querem nos ajudar a solucionar isso como uma espécie de sócios ou deixar afundar e não levar nada pra casa?”;

5) E, por fim, é razoável perguntar: ocorrerão novas demissões? Não sei a resposta, mas quando ele assumiu a Casa & Vídeo, a rede tinha 6 mil funcionários, e não demorou estava só com a metade.

Outra coisa, não acredito que Fábio Carvalho vá poupar o templo dos deuses na Terra, a Veja. A tesoura direcionará suas pontas para aquele olimpo também. Dizem que dos 1,2 milhão de exemplares vendidos semanalmente, no início da década, hoje a revista atinja 500 mil.

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