Ameaça de demissões em massa agrava insegurança do trabalhador, por Sidney Rezende

Luiza Trajano, dona da Magazine Luiza. Foto: Divulgação

Não há solução fácil para a crise, mas a lentidão da tomada das primeiras medidas de socorro aos trabalhadores formais, informais e às empresas torna o que já está difícil, em algo perigosamente inadministrável. As empresas mais capitalizadas têm o dever patriótico e humanitário de não demitir e aguentar o tranco, pelo menos, por 90 dias.

Uma líder do porte de Luiza Trajano, do Magazine Luiza, quando pede aos empresários para não demitirem, assina doação de R$ 10 milhões para ajudar doentes do coronavírus no Brasil e ajuda a equipar hospitais públicos e filantrópicos em todo país, está fazendo a melhor aposta quando tudo isso passar. Além de servir de exemplo de quem não quer ficar parada vendo a banda passar.

Preocupa – e muito! – quando um grupo do porte do JCA Holding, que atua no transporte rodoviário de passageiros, cargas e turismo, começa a demitir. Estamos falando de um gigante que tem sob seu guarda-chuva a Auto Viação 1001, Rápido Ribeirão Preto, Auto Viação Catarinense (adquirida em 1995), Rápido Macaense, Viação Cometa (que foi anexada pelo grupo em dezembro de 2001), Expresso do Sul e a Expresso Kaiowa, no final do ano de 2016, no segmento de transporte terrestre.

O número de demitidos extraoficialmente é alto. Procuramos a empresa para saber a veracidade da grandeza que circula entre motoristas e nas redes sociais. A JCA, por política de gestão, não quis dar o número exato de dispensados, mas os cortes, de fato, ocorreram.

A empresa admitiu e deu a seguinte explicação: “Segue um posicionamento das Viações Cometa e 1001, vale informar que os desligamentos foram feitos na semana passada sem relação com o momento do Coronavírus”.

A nota na íntegra:

“As Viações Cometa e 1001 informam que devido à situação desafiadora que o setor atravessa, com queda acentuada no movimento nos meses de janeiro e fevereiro, houve a necessidade de adequação nos seus quadros de colaboradores anterior à redução da demanda da última semana. Quanto à pandemia do Coronavírus, que está impactando de forma direta o setor, as empresas estão buscando medidas para a manutenção dos empregos.”

É preciso tirar o setor bancário da sua bolha e exigir ajuda ao país.

Supermercados Guanabara

Mesmo num setor onde as lojas não tiveram suas portas fechadas, como o supermercadista, existe também ali, muita apreensão. Mesmo antes da chegada do coronavírus ao país já circulava nos segmentos empresariais a possibilidade do Supermercados Guanabara, gigante do setor, realizar demissões em massa.

Procurado, o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro foi explícito:  “Depois de anunciar o fechamento das lojas nos domingos, o Guanabara informou que pretende demitir 3.500 a 4 mil trabalhadores nos próximos meses. Além disso, a empresa já apresentou em negociação a intenção de implementar a jornada 12×36, banco de horas e o contrato por jornada intermitente. O Sindicato dos Comerciários do Rio abriu negociação com o objetivo de encontrar saídas para que não ocorram essas demissões e participou de uma mesa redonda na Delegacia Regional do Trabalho com a participação da empresa para tratar desta questão. O Sindicato já disse que não concorda com mudanças de jornada que não estejam na convenção coletiva e que espera da empresa uma proposta concreta para evitar um número tão grande de demissões. Para piorar, sem dar qualquer informação para seus funcionários, o supermercado cortou o adicional de 100% de quem trabalha nos feriados. Os trabalhadores só ficaram sabendo na hora que receberam o contracheque. Essas mudanças atingem duramente os ganhos mensais dos comerciários, que contam com este ganho extra para completar os salários.”

A saída racional para a crise

A forma como o governo federal administrará a crise será fundamental para se saber se um pacto em favor da manutenção dos empregos será viável, pelo menos até o fim do ano. O segundo movimento é acreditar que o controle emocional dos agentes econômicos será mantido. É torcer para o empresariado  não tomar decisões precipitadas que pareçam ser a melhor solução no presente, mas já em 2021 se verá equivocada.

A demissão dos colaboradores treinados, familiarizados com a cultura da companhia, aqueles que já conquistaram a confiança da relação capital e trabalho são fatores que não se reorganizam facilmente.

O terceiro elemento é tirar o mercado financeiro, notadamente o setor bancário, da sua bolha e exigir, em nome dos lucros escorchantes amealhados por ele nos últimos anos, muito mais do que aumentar limite do cheque especial dos correntistas já endividados. Bancos chegaram em meio à pandemia a liberar crédito com juros superiores aos que se pagavam meses antes da crise de saúde.

E, por fim, estimular que líderes da classe trabalhadora e do empresariado negociem um plano de ação que atenda as partes. Ele poderia ser modular. O mais imediato, com medidas que possibilitem a manutenção do emprego. Os demais devem ser monitorados e – rapidamente, em velocidade muito superior a tudo o que decidiu até aqui – ajustados à realidade.




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