Deltan Dallagnol cogitou se candidatar a senador em 2018, revelam novos diálogos

Deltan Dallagnol. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Deltan Dallagnol. Foto: Fernando Frazão – Agência Brasil

O procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato de Curitiba, Deltan Dallagnol, avaliou a possibilidade de se candidatar ao Senado nas eleições de 2018 e deixou em aberto sua candidatura em 2022. É o que apontam diálogos divulgados nesta terça-feira (3) pelo jornalista Reinaldo Azevedo. As conversas foram realizadas em grupos do Telegram e entregues ao site “The Intercept Brasil” por uma fonte anônima.

Em mensagens com outros procuradores, Deltan Dallagnol avaliou que seria necessário a presença de integrantes do MPF por todo o Brasil e, um bom começo para isso, seria alguém conseguir uma cadeira no Senado.

Uma possibilidade analisada por Dallagnol em janeiro de 2018 era deixar a carreira de procurador sem abraçar a política partidária: “Lutar pela renovação enquanto cidadão, pedindo exoneração: esta seria a solução ideal pela perspectiva da credibilidade (não seria político, mas ativista) e de intensidade (“Não vote em Fulano). Perderia um pouco de credibilidade e visibilidade, por deixar a posição pública de coordenador da operação. Não teria
riscos de corregedoria. Poderia me dedicar integralmente às 10+”, calculou.

Já no diálogo do dia 14 de dezembro de 2016, o procurador Vladimir Aras, nome indicado por Deltan Dallagnol e Sergio Moro para a PGR, foi um dos incentivadores de Dallagnol, dizendo que ele poderia derrotar “inimigos” da operação, como Gleisi Hoffmann e Roberto Requião, então senadores pelo Paraná.

Durante troca de mensagens no dia 16 de janeiro de 2018, entre o procurador Diogo Castor Mattos e o empresário Joel Malucelli, acontece um convite que teria vindo do Podemos, de Alvaro Dias. O empresário pergunta se Dallagnol aceitaria concorrer. A resposta, porém, foi negativa.

Diogo Castor de Mattos – 20:06:32 – Oi Diogo, você poderia ver com o Dalagnol se ele aceitaria ser candidato ao Senado pelo Podemos?? O convite também partiu do Alvaro Dias! Abr Obr Joel Malucelli Pres do partido
Castor de Mattos –20:06:41 – Posso responder?
Deltan Dallagnol – 13:59:25 – Ele te mandou do nada ou Vcs costumam conversar?
Dallagnol – 13:59:40 – Se costumam conversar, responda sim
Dallagnol – 13:59:55 – Diga que falou comigo e que hoje eu não penso em concorrer nas eleições
Dallagnol – 14:00:16 – Mas agradeço muito considerarem meu nome, o que recebo como um reconhecimento da importância da causa anticorrupção
Diogo Castor de Mattos – 14:01:12 – Falei uma vez na vida
Castor de Mattos –14:01:26 – Mas ele joga tênis no clube.. se sentiu amigão

Em mensagens trocadas com ele mesmo, onde mantinha reflexões pessoais no aplicativo, Deltan diz que “seria facilmente eleito” e também via necessidades de o Ministério Público Federal “lançar um candidato por Estado”.

“Tenho apenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”, escreveu em 29 de janeiro de 2018.

O senador Alvaro Dias é um dos maiores apoiadores da Lava-Jato e, portanto, tem boa relação com a força-tarefa. Candidato a presidente em 2018, afirmou que convidaria Sergio Moro para o Ministério da Justiça, ato repetido por Jair Bolsonaro após ser eleito.

As mensagens mostram que Dallagnol pode ter desistido da candidatura em 2018 por avaliar que isso mancharia a imagem da operação. Ele confessa, em outra mensagem para si mesmo, que sua candidatura revelaria que a Lava-Jato tinha atuação política.

“Muitas pessoas farão uma leitura retrospectiva com uma interpretação de que a atuação desde sempre foi política. Pior ainda, pode macular mais do que a Lava Jato, mas o movimento anticorrupção como um todo, que pode parecer politicamente motivado. Por fim, a candidatura pode macular as 10+ como uma plataforma pessoal ou de Deltan para eleição, retirando aura técnica e apartidária”, escreveu o coordenador da força-tarefa.

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