Lava Jato usou site O Antagonista para interferir na escolha do presidente do BB, diz Intercept
Em um novo capítulo da Vaza Jato, uma reportagem do Intercept Brasil aponta que procuradores da Operação Lava Jato usaram o site O Antagonista para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil no governo Bolsonaro.
“Em fins de 2018, a força-tarefa municiou com documentos o site comandado pelos jornalistas Diogo Mainardi, Mario Sabino e Claudio Dantas para alimentar notícias que evitassem que o ex-presidente da Petrobras Ivan Monteiro ocupasse a presidência do banco. Monteiro era o nome mais forte entre os cotados para assumir o BB, uma escolha do ministro da Economia Paulo Guedes – a ele era dado o crédito por ter salvado as contas da Petrobrás”, diz reportagem dos jornalistas Glenn Greenwald Rafael Moro Martins, Rafael Neves e João Felipe Linhares.
“O comentarista Diogo Mainardi, dono e editor do site, acatou pedido de Dallagnol e parou de publicar notícias sobre um escândalo de corrupção que envolvia a Mossack Fonseca, um escritório de advocacia suspeito de abrir empresas offshore no Panamá”, continua o texto.
De acordo com a matéria, “Mainardi também deu dicas de investigação a Dallagnol, que seguiu as pistas do comentarista e em seguida informou-o – em tom lamentoso – de que o caso estava fora da alçada da operação”.
“Em troca do jornalismo chapa-branca, Dallagnol passava informações privilegiadas ao site. Isso fica claro numa mensagem num chat privado de 30 de agosto de 2018, em que o procurador diz o seguinte, ao entregar em primeira mão a Claudio Dantas dados que haviam sido pedidos pelo jornal El País: “Nao estamos passando pra mais ng agora”. Tratava-se de uma resposta da operação a um depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran, um crítico da Lava Jato, na Espanha”.
Confira um trecho do diálogo (28 de dezembro de 2015):
Deltan Dallagnol – 13:56:48 – Oi Diogo, como vai? Antes de tudo, desejo um excelente fim e começo de ano a Vc e família. Parabéns pelos furos do duplex e da Mosack. O colega que atua nisso na nossa FT é o Januario Paludo. Ele me pediu para entrar em contato com Vc e lhe pedir, por um bem maior do resultado do caso e em benefício do interesse social da investigação, que suspenda informações sobre a Mosack, pois veremos em janeiro o que dá para fazer em relação a isso. Compreendemos o lado jornalístico da divulgação, e Januario lhe fornecerá, assim que possível, informações sobre esse assunto de modo prioritário se Vc puder segurar essas informações, como uma forma de agradecer sua contribuição com o caso. Segue o telefone dele. Fique à vontade para contatá-lo diretamente:
Diogo Mainardi – 23:06:16 – Caro Dallagnol, como você sabe, só quero ajudar as investigações, por isso mesmo pedi ao meu pessoal para segurar todas as notícias sobre a Mossack.
Mainardi – 23:11:07 – Estou preocupado com o atraso na homologação da delação da Andrade Gutierrez. Publiquei que os executivos da empreiteira entregaram a campanha da Dilma e que o PGR preferiu ganhar tempo. Isso prejudica enormemente a Lava Jato
Dallagnol – 23:34:48 – Obrigado
Dallagnol – 23:38:00 – Acho que não é por aí. Também queremos que a PGR assine logo, porque a fila tem que andar (há outras pendências também), mas quanto aos fatos não há nada assim bombástico. Na PGR, como no STF, tudo demora. É o modo como o sistema funciona. Por isso que prerrogativa de foro é ruim. Atrasa o tempo da investigação
Mainardi – 23:50:04 – Me disseram claramente que Edinho Silva e Giles Azevedo pediram R$100 milhões para a campanha de 2014, por dentro e por fora. Isso é explosivo, sim.
Fonte: The Intercept e 247.
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