A Daisy Lúcidi que conheci, por Sidney Rezende

Daisy Lucidi. Foto: Arquivo/Agência Brasil

Quando se conhece alguém, formamos uma opinião que nasce daquela primeira impressão e prossegue no curso da vida e é reafirmada pelo período em que cultivamos a amizade. Não lembro do dia em que fui apresentado a Daisy Lúcidi, mas posso garantir que lá se vão mais de 30 anos. O que posso garantir é que em todos os dias que a vi pessoalmente – reafirmo, todos os dias! -, ela sempre me recebeu com sorriso, um beijo carinhoso na bochecha e uma palavra de incentivo. Ela me fazia bem.

Só me dei conta deste detalhe quando acordo e leio que Daisy morreu aos 90 anos. No curso do dia, seremos relembrados que perdemos uma ícone do Rádio (principalmente!) e TV, figura lendária da Rádio Nacional, onde por mais de 45 anos fez o Programa “Alô, Daisy!”.

Imagens mostrarão que, desde a década de 1960, ela nunca se escondeu do trabalho, sempre feito com profunda paixão. Desde a minissérie “Nuvem de Fogo” (1963), de Janete Clair, na TV Rio, marcou sua atuação na novela “Enquanto Houver Estrelas”, na extinta TV Tupi, passando pela Globo com “Supermanoela”, “Bravo!”, “O Casarão”, “Paraíso Tropical”, “Passione” e na série “Entre Tapas e Beijos”.

Foram 60 anos de carreira distribuídos por novelas, filmes, teatro e programa de rádio. Muitos jovens não sabem, mas Daisy também teve passagem pela política quando se elegeu vereadora e deputada estadual pelo Rio de Janeiro.
Mas, acreditem, não ficarão só lembranças da radialista preocupada em informar a dona de casa pela Rádio Nacional. Ela e o comentarista esportivo Luiz Mendes (1947/2011) formaram um casal querido e isso nunca esqueceremos.

Fui ao programa de rádio dela muitas vezes, e teria voltado quantas outras quisesse, porque ela sempre reafirmava o convite com um lindo e cativante sorriso.

Vou contar uma passagem divertida. Eu fui convidado para realizar um trabalho que renovaria a programação das rádios do grupo EBC e, futuramente, também tínhamos ideias para a TV Brasil, onde permaneci apenas 30 dias, já que com a entrada de Michel Temer tudo foi desmontado e meu contrato interrompido. Pois me lembro como se fosse hoje que fui recebido pela veterana Daisy com um caloroso abraço de boas-vindas. Foi um afeto muito necessário naquele momento.

Minha equipe e eu percorremos as redações e estúdios da Rádio em Brasília, São Paulo e Rio. Numa destas reuniões coletivas, após explicar como funcionaria nosso projeto, abrimos para perguntas. Todos puderam, individualmente, se expressar para dar ideias, discordar ou tirar dúvidas.

Havia um grupo de jovens repórteres que comungavam de uma mesma ideologia e convicções que achava que a função de âncora deveria ser exercida só por mulheres e não mais por homens. Eu concordei com a importância da voz feminina. Mas expliquei que defendia equilíbrio sem discriminação de gênero.

A conversa avançou. Em um momento, comentei que toda mudança precisa ser feita com planejamento e calma, até porque “a vida é como é e não necessariamente como gostaríamos que ela fosse”. E disse que como pai eu poderia até contar minha experiência de vida no trato de gerações diferentes.

E disse para uma delas que eu tinha idade para ser pai dela e, por isso, daria exemplos de acertos e erros. Ela não gostou, dizendo que era uma mulher adulta e não aceitava a comparação com minha filha. Daisy, baixinho, disse no meu ouvido com ironia divertida do alto dos seus já 86 anos: “Sidney, se você quiser me chamar de garota, não me importo…”. Daisy tinha humor. Entendo perfeitamente a dor que sentem netos, bisnetos e amigos próximos, sua morte significa a perda de muito talento numa só pessoa.










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