Crivella precisou de 100 dias para “atirar” em Eduardo Paes

Prefeito Marcelo Crivella. Foto: You Tube

Prefeito Marcelo Crivella. Foto: You Tube

Um parente próximo ao prefeito Marcelo Crivella diz que ele, como gestor, tem um estilo peculiar: “ele erra por 6 meses, até se ambientar, mas depois, só acerta”. De acordo com esta fonte, teria sido assim na África quando o então pastor e cantor da Universal do Reino de Deus ganhou a missão de implantar as igrejas no país de Nelson Mandela. “Quando ele chegou não tinha nada e quando saiu de lá deixou uma grande rede de igrejas como resultado do seu excelente trabalho”, diz o entusiasmado familiar.

Se este parente do prefeito estiver certo, ainda restam mais 3 meses para se bater cabeça em busca de saídas para os principais problemas da cidade. O Governo Crivella chega aos 100 dias na segunda-feira(10) com o desafio de melhorar sua coordenação interna, substituir definitivamente os quadros antigos por atuais e fixar um rumo que existe no topo, mas não chegou até a base.

Ainda é um governo “defensivo” e não “proativo”.

É hora de descentralizar com inteligência, mas com clareza de ação. E, cabe ao prefeito, esquecer os hábitos de pastor, o do passado, que tinha um rebanho dócil a ouvi-lo e entender que o carioca é heterogêneo e que ele tem parte da classe média esclarecida contra ele, insuflada por meios de comunicação que não suportariam a ideia do seu governo dar certo.

Uma grande rede se empenha diariamente a trabalhar pela desconstrução da imagem de Crivella e seu governo como fizeram, de forma bem-sucedida, com Lula e Dilma.

Do ponto de vista político, o governo municipal do Rio saiu do silêncio, que dava a impressão que nada estava sendo feito, e voltou suas baterias para um alvo visível: o antecessor no Palácio da Cidade, o ex-prefeito Eduardo Paes.

Isto ficou claro na cerimônia realizada nesta sexta-feira na Cidade das Artes – local que o prefeito erroneamente chamou de Cidade da Música-, titulagem dada inicialmente por César Maia e substituída pelo desafeto que o sucedeu, Paes.

A prestação de contas foi dividida em 3 partes: a realidade financeira, as primeiras realizações e a visão de futuro. Na primeira foi apresentado um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas com comentários da secretária Municipal de Fazenda, Maria Eduarda Berto, e pela responsável pela Controladoria Geral do Município do Rio de Janeiro, Márcia Andréa dos Santos Peres.

Indio da Costa. Foto: Divulgação
Indio da Costa. Foto: Divulgação

O segundo módulo foi comandado pelo secretário municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, Indio da Costa, onde se deu a primeira estocada em Eduardo Paes. Ao falar das contas não registradas nos “restos a pagar” ele foi direto: “Nunca vi isso em anos de administração pública”, afirmou Indio.

Indio, único secretário a discursar, ganha credenciais para os rumores cada vez mais fortes de que ele seria o candidato de Crivella à sua própria sucessão.

Nos bastidores especula-se que Eduardo Paes iria para o Senado e depois para prefeito daqui a 6 anos. A falência do Governo estadual hoje não apetece nenhum político que goste de realizar obras.

O secretário Indio da Costa foi duro quando se referiu a empenhos cancelados após a eleição de Crivella no fim do ano passado. As despesas tornaram-se restos a pagar para o governo Crivella de quase 1 bilhão de reais. A expectativa de arrecadação em 2017, antes prevista em 28,5 bilhões de reais, caiu 11% (agora está em 26,3 bilhões de reais). Tudo isto Indio botou na conta de Paes.

A provocação do secretário foi chancelada pelo prefeito, que veio logo a seguir, já na terceira parte. Há ainda gastos criados em 2016 para projetos na área de educação e saúde sem previsão orçamentária para este ano: “Fizeram as Escolas do Amanhã sem amanhã. Elas não cabiam nas receitas”, afirmou Crivella. O prefeito fez questão de frisar que “a herança é dura e árdua”.

O prefeito Marcelo Crivella usou o terceiro módulo para passar uma imagem de otimismo em meio a uma crise financeira terrível que atropelou a União, os estados e também a cidade do Rio. Alternando suas falas com vídeos, Crivella fez uma comparação da administração Paes com um cemitério: “Um São João Batista…ou melhor, um Caju de esqueletos”. O que o governo atual argumenta é que a cada momento aparecem despesas não computadas nos sistemas de controle, contas a pagar sem as devidas contrapartidas.

Marcelo Crivella/Cerimônia 100 dias. Foto: SRzd
Marcelo Crivella/Cerimônia 100 dias. Foto: SRzd

Os vídeos exibidos foram realizados por produtora profissional, indicação de Roberto Medina e, talvez por isso, se tenha notado um peso maior ao evento Rock in Rio do que ao desfile das escolas de samba, por exemplo, uma evidente desproporção. O trabalho foi muito bem realizado e surtiu o efeito desejado.

Slides mostraram números detalhados sobre despesas e receitas da prefeitura e o mais impactante foram os vídeos que mostraram como é e como ficará, depois de reurbanizada, Rio das  Pedras; e o calendário de eventos que a Prefeitura pretende incentivar.

Outra estocada indireta em Paes foi a substituição dos programas Bairro-maravilha e Morar Carioca que voltaram a ser chamados de Favela-Bairro, uma famosa marca criada na era Cesar Maia.

Com a secretária Clarissa Garotinho presente, filha do ex-governador Anthony Garotinho, o vídeo promocional trouxe a informação de que os restaurantes populares voltarão remodelados.

Também chamou a atenção a ideia da atual administração de concluir a revitalização da zona portuária. Agora a frase que acompanha o que será feito na região é “Porto do Rio. Porto da gente”: “Um terço da área está revitalizado. Dois terços ainda não”, dizia um vídeo exibido por Crivella.

Certamente, a nova pegada do governo Crivella exigirá reações do grupo liderado por Eduardo Paes. Fala-se abertamente que ele teria pessoas da sua inteira confiança dentro da máquina pública conspirando para a derrota do atual governo. Até mesmo passando informações. Estes servidores estão sendo mapeados.

Cenas dos próximos capítulos serão acompanhadas pelo SRzd, que ao término do Carnaval optou por cobrir mais de perto assuntos das cidades, inicialmente Rio e São Paulo. O nosso compromisso agora é ser os olhos e os ouvidos do cidadão.

 

 

 

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