Categories: BrasilPolítica

Artigo: Segunda Chance – Congresso confere novo fôlego para o governo Michel Temer

Em 2 de agosto, o Congresso impediu a abertura da primeira denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente. Michel Temer (PMDB) obteve uma vitória inconclusiva: os 263 votos foram necessários para frustrar a oposição, mas também apontaram número de apoios insuficiente para aprovar mudanças constitucionais (como a proposta reforma da previdência).

Em 25 de outubro, uma segunda denúncia contra o presidente foi rejeitada pelo Congresso. E dessa feita, a base governista cruzou o Rubicão da governabilidade. Com apenas 251 votos favoráveis, Temer dispõe de menos da metade do Congresso a seu favor – situação inédita no breve governo.

Na primeira ocasião, Temer emergiu do plenário da Câmara chamuscado, mas vitorioso. Na segunda vez, estava hospitalizado, vítima de uma crise urinária. Sua pronta recuperação não foi comparável ao quadro que emergia do painel de votação: o lento esfacelamento da base governista. Nem as promessas de uma reforma ministerial “radical” mitigaram essa sensação de desalento.

O calendário eleitoral parecia dar fôlego extra ao governo em agosto. Em outubro, de olho nas pesquisas de opinião que colocam Temer no topo da lista de governantes mais impopulares do planeta, a oposição amealhou 233 votos, enquanto aliados de primeira hora aprofundam divisões.

O PSDB sobrevive entre as agruras de Aécio Neves, abatido por denúncias de corrupção, e a disputa entre o governador e o prefeito de São Paulo pela primazia na corrida presidencial. O relator do segundo processo (Bonifácio de Andrada, responsável pelo parecer favorável a Temer) pediu seu desligamento do partido, em função da cisão interna. Animados com as possibilidades remotas de Rodrigo Maia despontar para a interinidade, os Democratas viram parte de seus integrantes votarem com a oposição. No seu próprio partido, o presidente teve 8 votos contrários ao relatório.

Temer vive uma situação paradoxal, mas comum na Nova República. Não obstante ser o presidente mais afinado com o Congresso desde os tempos da República Velha, seu governo se tornou refém de uma base parlamentar minguante. A fidelidade do consórcio que viabilizou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) oscilou sobremaneira. Denúncias contra o “novo” governo se somaram à crise política e econômica. Promessas de recuperação súbita caíram no esquecimento. Como seu colega de partido José Sarney há 30 anos, Temer se tornou figura evitada pelos pré-candidatos de 2018. Integrantes do governo relutam em participar da disputa pelas intenções de votos. Recentemente, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ser uma possível opção… para a vice-presidência.

Entretanto, o presidente se beneficia do desânimo que cerrou fronteiras na oposição pós-impeachment. A rejeição ao governo Temer parece um denominador comum insuficiente para pôr fim a esse torpor. As indecisões de Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (REDE) só são menores que as dúvidas sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Enquanto Lula percorre o país em caravana, seu partido – outrora detentor da maior bancada da Câmara – não demonstra clareza sobre suas estratégias para o pleito que se avizinha. A formação de uma frente de esquerda, proposta em 2014 pelo ex-governador e ministro Tarso Genro, permanece nebulosa. A cada semana, “novos” pré-candidatos são aventados em partidos como o PSOL.

Por inércia, Temer permanece como alternativa viável para a maioria dos partidos brasileiros. A diminuição do apoio parlamentar e as expectativas do PMDB em manter a supremacia nas eleições legislativas e estaduais empurraram o governo para os braços dos congressistas. Essa conjunção aprofunda o desalento do eleitorado brasileiro, apontado por pesquisas como o Latinobarómetro.

No abismo de esperanças que se aprofunda entre ruas e urnas, candidaturas sem quilometragem em eleições presidenciais (caso do deputado Jair Bolsonaro) florescem com discursos salvacionistas. O cenário lembra 1989. Porém, na época, estávamos a sair de duas décadas de ditadura civil-militar.

O mal-estar da democracia não dispensa o tratamento das urnas. A tensão pré-eleitoral aumentará.

Durante os próximos 14 meses, dramas do governo Michel Temer serão vistos como um mal menor.

 

*Carlos Frederico Pereira da Silva Gama é professor de Relações Internacionais e Diretor de Assuntos Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

 

Carlos Frederico Pereira da Silva Gama

Recent Posts

  • Carnaval/SP

Carnaval de São Paulo: veja a ordem dos desfiles no Anhembi em 2025

São Paulo. A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo definiu, na noite deste sábado (18), ordem dos desfiles…

1 hora ago
  • Carnaval/SP

Conheça a ordem dos desfiles do Grupo Especial do Carnaval de SP 2025

A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo abriu, oficialmente, a preparação para o Carnaval de 2025 com…

10 horas ago
  • Carnaval/SP

Carnaval 2025: Confira a ordem de desfiles do Grupo de Acesso 1 de São Paulo

A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo abriu, oficialmente, a preparação para o Carnaval de 2025 com…

13 horas ago
  • Carnaval/SP

Carnaval 2025: Veja a ordem de desfiles do Grupo de Acesso 2 de São Paulo

A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo abriu, oficialmente, a preparação para o Carnaval de 2025 com…

14 horas ago
  • Famosos

Camila Moura, ex do BBB Buda, faz revelações íntimas em podcast

Camila Moura, ex do BBB 24 Lucas Buda, faz revelações íntimas em podcast. Ela disse que Lucas foi a primeira…

19 horas ago
  • Carnaval/SP

As estratégias envolvendo a ordem de desfiles do Carnaval de São Paulo

A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo abre, oficialmente, a preparação para o Carnaval de 2025 com…

20 horas ago