Citado em caso Marielle, Bolsonaro pede para Moro ouvir porteiro

Jair Bolsonaro em transmissão ao vivo. Foto: Reprodução de Internet

Jair Bolsonaro em transmissão ao vivo. Foto: Reprodução de Internet

Em visita à Arábia Saudita, Jair Bolsonaro anunciou que já acionou ministro da Justiça, Sergio Moro, para que o porteiro do condomínio onde mantém residência no Rio de Janeiro possa ser ouvido novamente em depoimento na investigação que apura a morte da vereadora Marielle Franco.

“Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via PR, um novo depoimento desse porteiro para esclarecer de vez esse fato,  de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez”, disse Bolsonaro na madrugada desta quarta-feira (30) – no horário de Brasília -, segundo informações da “BBC Brasil” no Twitter.

Segundo reportagem exibida pelo “Jornal Nacional”, um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, disse em depoimento à Polícia Civil do Rio que, no dia do assassinato, um dos suspeitos se dirigiu até o conjunto de casas onde vive o presidente, horas antes do crime.

Ao porteiro, o ex-policial-militar Élcio Vieira de Queiroz teria dito que iria à casa de número 58 — que pertence ao presidente. Ao recebê-lo na guarita, o porteiro teria ligado na casa 58 para confirmar se o visitante poderia entrar, e alguém na residência autorizou a entrada do veículo, um Renault Logan. Em dois depoimentos à Polícia Civil do RJ, o porteiro disse ter reconhecido a voz de quem atendeu como sendo a do “Seu Jair”, segundo o jornal.

Uma vez dentro do condomínio, ele não foi à casa de Bolsonaro, segundo a testemunha: ele dirigiu até o imóvel 66. É onde mora Ronnie Lessa, acusado de fazer os disparos que mataram Marielle e Anderson.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos em março deste ano, um ano após o crime. Foto: Reprodução/TV Globo

O advogado do Presidente da República, Frederick Wassef, disse que é impossível Bolsonaro ter falado com Élcio ao interfone — o presidente estaria em Brasília no dia da morte de Marielle, conforme registro de votações da Câmara dos Deputados e vídeos postados por Bolsonaro nas redes sociais.

Naquele dia, Bolsonaro também postou vídeos em suas redes sociais. Nas gravações, ele aparece dentro de seu antigo gabinete de deputado federal, na Câmara, e em outro local do Congresso, de acordo com a reportagem do JN.

Bolsonaro levantou a tese de que “o porteiro ou se equivocou, ou não leu o que assinou”. “Pode o delegado ter escrito o que bem entendeu e o porteiro, uma pessoa humilde, ter assinado embaixo”, disse acusando o envolvimento do governador fluminense, Wilson Witzel: “Nós sabemos que (porteiros) são pessoas humildes, que quando são tomadas depoimento, sempre ficam preocupadas com algo. O porteiro está sendo usado pelo delegado da Polícia Civil, que segue ordens do Sr. Witzel governador.”

Bolsonaro faz duro ataque a Witzel e acusa Globo de tentar envolver seu nome no caso Marielle

Em transmissão nas redes sociais, logo após a exibição da reportagem do “Jornal Nacional”, Bolsonaro fez duras críticas à imprensa, sobretudo a Rede Globo, pelas reportagens que envolvem não apenas ele, mas também seus familiares.

Em discurso de pouco mais de vinte minutos, ele ainda insinuou que as informações do processo, que está sob sigilo, teriam sido vazadas pelo governador Wilson Witzel.

“Seus patifes da TV Globo! Seus canalhas! Não vai colar! Não tinha motivo para matar quem quer que fosse no Rio de Janeiro”, bradou Bolsonaro, que isentou o porteiro. “Tenho certeza de que o porteiro não sabe o que assinou”, acrescentou.

“Vocês, TV Globo, o tempo inteiro infernizam a minha vida, porra! […] Agora, Marielle Franco, querem empurrar pra cima de mim? Patifes, canalhas, não vai colar! Não devo nada a ninguém”, disparou.

Bolsonaro disse, ainda: “por que, TV Globo? Por que, revista Época? Essa patifaria por parte de vocês. Deixe eu governar o Brasil. Vocês perderam”.

Wilson Witzel rebateu Jair Bolsonaro e afirma que foi atacado injustamente

“Não transitamos no terreno da ilegalidade, não compactuo com vazamentos à imprensa. Não farei como fizeram comigo, prejulgar e condenar sem provas. Hoje, fui atacado injustamente”, escreveu o governador do Rio em nota.

“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil. Em meu governo, as instituições funcionam plenamente e o respeito à lei rege todas nossas ações”, emendou.

Rede Globo divulga nota em resposta às ofensas de Jair Bolsonaro

Sobre às ofensas que o presidente Jair Bolsonaro dirigiu à Globo, a emissora divulgou a seguinte nota:

“A Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações.

O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação.

A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas
palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.”

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