Novo livro de Cid Benjamin serve de manual para sobreviver ao avanço das milícias e do estado policial

Jornalista Cid Benjamin

O escritor e jornalista Cid Benjamin nunca passa em branco. Suas ideias sempre mexem com o status quo. Desta vez, ele está de volta com uma espécie manual de sobrevivência para ativistas. O livro “Estado Policial – Como Sobreviver” que tem lançamento marcado para os dias 23 de setembro, na Livraria Travessa do Shopping Leblon, no Rio e 26, na Livraria Cultura Conjunto Nacional, em São Paulo, traz orientações práticas para se escapar das garras do Estado Policial.

O diretor e ator Wagner Moura foi direto ao ponto: “Poucos chegaram a pensar que um dia estaríamos produzindo um manual de conduta para a proteção de militantes […] Cid, que sabe bem o que é ser preso e torturado por um Estado totalitário, nos ensina, a todos que nos opomos a esse quadro grotesco, a… simplesmente sobreviver”

Benjamin viveu sua juventude intensamente, entre os anos 1960 e 1970, quando enfrentou a ditadura militar como dirigente do MR-8, Movimento Revolucionário 8 de Outubro, organização política que participou da luta armada. No seu novo livro ele traça um paralelo com os dias atuais, em que milícias e suas ramificações em órgãos policiais se assemelham aos mecanismos de repressão do regime autoritário. A partir desta análise, Cid apresenta estratégias usadas por ativistas que conseguiram sobreviver aos anos de chumbo e novas táticas para resistir no presente.

Assista entrevista de Cid Benjamin:

 

O material de divulgação alerta que “se um dia o termo “milícia” já foi empregado como sinônimo de resistência civil, hoje esta realidade não poderia estar mais distante. É sobre estes grupos que agem como organizações paramilitares que o jornalista Cid Benjamin, autor de ‘Gracias a la vida’, escreve em seu novo livro. As milícias, defende o autor, chocam hoje o “ovo da serpente” do fascismo no Brasil e conduzem o país, de forma veloz, a um sistema de exceção com protagonismo das forças que deveriam zelar pela segurança”.

O autor detalha o avanço das milícias no Rio de Janeiro e no Brasil

A sucessão de manobras nebulosas, que se sucederam ao longo da investigação do assassinato de Marielle Franco, é o exemplo mais emblemático do que o autor, ex-dirigente do MR-8, procura mostrar. “Torço para que não tenha serventia, mas a dura verdade é que pode ajudar na proteção de ativistas em momentos em que toma corpo o Estado policial”, explica o autor.

Dicas de proteção

Nesta espécie de manual, intercalado com relatos de suas memórias, Cid apresenta uma base sólida para analisar o que se passa no Brasil de 2019. O livro recupera lições do passado e avança para os desafios do presente e do futuro. O autor revisita atentados ao longo da história e detalha o avanço das milícias no Rio de Janeiro e no Brasil.

Capa do novo livro de Cid Benjamin”. Foto: Divulgação

O avanço da criminalização de movimentos populares no Brasil também é tema de Estado policial – Como sobreviver, que não poupa críticas, por exemplo, ao governo de Dilma Roussef, durante o qual foi aprovada a Lei das Organizações Criminosas, no contexto das manifestações de 2013. A lei sancionada pela ex-presidente considera “organização criminosa a associação de quatro ou mais […] pessoas com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza”.

Ao apontar os resultados desta lei, somados ao avanço da extrema-direita do Brasil, Cid inicia a lista de dicas de proteção, ações e mecanismos de defesa para os militantes. Desde de dicas sutis verdadeiros esquemas de proteção, o livro ensina como proteger seu telefone até como resistir à tortura. Passa pelo horizonte do autor também precauções para evitar policiais infiltrados em movimentos, entidades e partidos políticos e suas reuniões, o cuidado em manifestações e atos públicos e uma série de direitos a serem resguardados em casos de prisões arbitrárias.

“Os movimentos populares devem estar atentos para não cair em armadilhas que deem pretexto a condenações”, alerta Cid na obra. “Outra providência que pode ser tomada é um pedido às seções estaduais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que, em dias de atos públicos, suas comissões de Direitos Humanos mantenham plantões de advogados que possam atender manifestantes presos”. Para além de seu caráter prático, Estado Policial – Como Sobreviver é um manifesto que alerta para o risco à democracia quando Governo Federal alinha-se a grupos paramilitares, a milícias, e quando o presidente discursa contra grupos de oposição, apoiando a ideia de eliminação física de ativistas de esquerda.

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