Chefe da polícia gaúcha admite racismo, mas diz que ‘crime precisa de provas’

Homem negro é espancado até a morte por seguranças no Carrefour. Foto: Reprodução

A delegada Nadine Anflor, chefe da Polícia Civil (PCRS) do Rio Grande do Sul, declarou que “é evidente que há um racismo estrutural na nossa sociedade; agora, para isso se transformar em crime, eu preciso de provas”.

A chefe da PC gaúcha garante, porém, que caso a investigação aponte para racismo como motivação para o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos espancado até a morte por dois seguranças de um Carrefour na capital gaúcha, na noite de quinta-feira (19), o crime será considerado como por “motivo torpe”.

“Agora eu não posso dizer nem que há nem que não há (racismo), porque eu não tenho esses elementos. Se ao final eu tiver esses elementos, vou indiciar por motivo torpe. Se eu conseguir identificar que ele foi agredido pelo fato de ser negro”, disse ao site Metrópoles.

O motivo torpe é a razão repugnante, abjeta, vil, imoral, “que demonstra sinal de depravação do espírito do agente”, um agravante que faz a pena aumentar para de 12 anos a 30 anos de prisão, em caso de condenação.

A postura da chefe de Polícia é levemente diferente, mas não desautoriza a avaliação da delegada responsável pelo caso, Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, responsável pela investigação sobre o assassinato de João Beto, que disse, na tarde dessa sexta-feira (20), Dia da Consciência Negra, que não via, “até o momento, alguma conotação racista”.

Os dois envolvidos no ato – um deles, policial militar temporário, em contrato de emergência na Brigada Militar gaúcha – foram gravados espancando com socos e chutes repetidos João Beto. Ambos ouviram repetidos apelos, inclusive da mulher da vítima, que o acompanhava no mercado para comprar pão, e implorava para que o soltassem.

“Até o presente momento não há nenhum indicativo de que tenha alguma conotação racista. O inquérito policial se iniciou hoje. Nós temos vários dias para apurar esse fato, de forma bem ampla, podendo, nesse período, vir à tona algo nesse sentido ou não. O racismo é um outro fato criminoso completamente diferente do que aconteceu aqui. Não tem nada a ver”, afirmou Bertoldo, a delegada da 2ª DHPP, em entrevista ao Metrópoles.

De acordo com ela, os dois seguranças, que espancaram o homem negro na frente de uma unidade do supermercado Carrefour, foram indiciados inicialmente por homicídio triplamente qualificado.

A chefe de Polícia, Nadine Anflor, explica as três razões: motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Apesar de não afirmar que o crime tenha tido motivação racista, a delegada reconheceu que o caso não escapa do preconceito, ao citar o “racismo estrutural” na sociedade brasileira.

Assim que a morte de João Alberto, conhecido como João Beto, ganhou repercussão começaram a circular em grupos de WhatsApp alegações sobre ocorrências policiais envolvendo a vítima. Nadine Anflor deixou claro que o passado da vítima não tem importância no caso: “Neste momento não interessa, ele é a vítima.”

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