Caos: Principais lideranças do Rio estão sob investigação

Emoji. Foto: Reprodução Rede Social

Emoji. Foto: Reprodução Rede Social

As inúmeras operações deflagradas pela Polícia Federal sob orientação do Ministério Público e o beneplácito da Justiça estão dizimando as tradicionais lideranças da política do Rio de Janeiro, tanto da capital como do estado. Até mesmo os filhos e netos de patriarcas de famílias conhecidas do eleitor estão sendo sugadas ao ralo. Houve menção a Leonel Brizola Neto e Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson.

A lista divulgada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), é avassaladora. Além de dar nomes aos que foram delatados como tendo praticado o mal feito, recebido propina, participado de fraudes e atos de corrupção, ela não é a única fonte de denúncia. Existem as operações que estão sendo conduzidas em paralelo. O eleitor do Rio olha para o futuro e pensa consigo mesmo que não pode mais contar com os seus políticos.

Veja abaixo a lista de Fachin dos investigados do Rio de Janeiro:

– Ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Wellington Moreira Franco (PMDB)
– Senador Lindbergh Farias (PT-RJ)
– Deputado Federal Pedro Paulo (PMDB-RJ)
– Deputado Federal Júlio Lopes (PP-RJ)
– César Maia (DEM), Vereador e ex-Prefeito do Rio de Janeiro e ex-Deputado Federal
– Eduardo Paes (PMDB), ex-Prefeito do Rio de Janeiro

O noticiário informa que o ex-governador do Rio e atual ministro da Secretaria Geral da Presidência, Wellington Moreira Franco (PMDB-RJ), teria solicitado propina para ajudar a financiar campanhas eleitorais de 2014, em nome de seu partido e de Michel Temer, segundo depoimentos citados em inquérito autorizado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Moreira Franco. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Moreira Franco. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Cesena diz que o então ministro da Aviação Civil participou de uma reunião com a Odebrecht na qual foi discutida a manutenção de cláusulas que aumentariam a chance de a empresa vencer uma segunda rodada de concessões aeroportuárias.

Benedicto Barbosa da Silva conta na sua delação premiada que fez um repasse de R$ 4 milhões, solicitado por Moreira Franco ao grupo empresarial, e pago a Eliseu Padilha, a pretexto da campanha eleitoral de 2014.

Outro nome “nobre” da política fluminense também ganhou o noticiário nas últimas semanas: Marco Antonio Alencar, filho do falecido governador Marcello Alencar. Vale lembrar que ele foi indicado ao cargo de conselheiro do TCE ainda durante o mandato do pai, morto em 2014. O trabalho de Marco Antônio era de fiscalizar as contas do próprio pai.

Segundo depoimento do advogado Jonas Lopes Neto, o Joninhas, ele próprio abastecia conselheiros que recebiam propina, em espécie, em seus gabinetes no TCE. Ele subia pelo elevador privativo da Corte de Contas para molhar a mão dos conselheiros. Ele confessou que chegou a ir até à casa de José Gomes Graciosa e Aloysio Neves ou ainda na Sociedade Hípica, na Lagoa. No local, segundo Joninhas, um pagamento foi feito ao conselheiro Marco Antônio Alencar.

Em outra investigação, Anthony Garotinho, governador do Rio de Janeiro entre 1999 e 2002 e até o ano passado secretário de Governo da prefeitura de Campos dos Goytacazes, Anthony Garotinho (PR) foi preso pela Polícia Federal, acusado de compra de votos. E até hoje está se acertando com a Justiça.

A ex-governadora Benedita da Silva também enfrentou seus dissabores com a Justiça. Com base em uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, a 6ª Vara de Fazenda Pública determinou o bloqueio de bens e a quebra de sigilo bancário e fiscal da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), ex-governadora do Rio (2002-2003). A medida vale até que seja ressarcido o valor de R$ 32.094.569,03 referentes ao suposto dano causado ao patrimônio público.

Benedita da Silva. Foto: Facebook

Benedita foi acusada de improbidade administrativa enquanto gestora da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, por supostas fraudes em convênios entre a Fundação Darcy Ribeiro (FUNDAR) e ONGs com o Ministério da Justiça.

A ex-governadora e prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, foi outra que andou às turras com o poder judiciário. Em 24 de outubro de 2016, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) cassou os mandatos da prefeita de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, Rosinha Garotinho (PR), e do vice, Dr. Chicão (PR), por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. A decisão ainda os deixa inelegíveis por oito anos, a contar das eleições de 2012.

Outro encrencadíssimo é o ex-governador Sérgio Cabral. A Justiça aceitou denúncias contra Cabral e ele tornou-se réu em seis processos da Operação Lava-Jato. Na última, o ex-governador é acusado de praticar 25 atos de evasão de divisas, 30 atos de lavagem de dinheiro e nove de corrupção ativa.

Anthony Garotinho e Sergio Cabral. Fotos: Coperphoto e Agência Brasil
Anthony Garotinho e Sergio Cabral. Fotos: Coperphoto e Agência Brasil

Curiosamente, foi no seus dois mandatos em que a população acreditou que o Rio de Janeiro estava de fato se libertando do jugo de traficantes de drogas e corruptos. Ganhou notoriedade e tornou-se um nome respeitado junto à classe média o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e sua política de implantação das Unidades de Polícia Pacificadora.

Sobre ele, Garotinho escreveu em seu blog um post cruel: “Durante os quase 10 anos em que esteve à frente da Secretaria de Segurança Pública, José Mariano Beltrame foi – com exceção do último ano (2016) – aplaudido quase unanimemente pela mídia. Primeiro pela pacificação que não houve, e depois por ser um exemplo de secretário com formação em “inteligência policial”. A farsa da pacificação caiu por terra primeiro. E a partir da Operação Calicute, que prendeu Cabral e os primeiros integrantes de sua quadrilha, ficou claro que Beltrame em matéria de “inteligência policial” também foi uma negação.

Nada que surpreenda os leitores do blog, que devem lembrar que revelei aqui, que Beltrame foi reprovado no concurso para delegado federal (ficou na nada honrosa 896ª colocação). Mas impressiona que, como afirmou nesta terça (11) o procurador da força-tarefa do MPF no Rio, Eduardo El Hage, “o governador Cabral roubou dos cofres públicos em todas as áreas” e Beltrame não viu nada. Até seus filhos pegavam emprestada a lancha de R$ 5,3 milhões de Cabral, mas o ex-“xerife” diz que nunca percebeu nada errado na vida de luxo do seu então chefe. Aliás, morava de favor no apartamento de um “laranja” de Cabral, Paulo Magalhães Pinto, mas também diz que não sabia do envolvimento dele.

Bem, deixo para vocês a escolha. Ou Beltrame é o Mr. Magoo, aquele personagem de desenho animado que não enxergava nada, ou o atrapalhado inspetor Clouseau, das Aventuras da Pantera Cor de Rosa.

Gozação à parte, Beltrame ainda tem que explicar, entre outras coisas, o caso do superfaturamento milionário no aluguel das viaturas da PM à empresa Júlio Simões, caso em que é réu por improbidade em processo que corre na 7ª Vara de Fazenda Pública do Rio”.

O atual governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, do PMDB, além de ter que administrar a maior crise financeira da história do estado, também viu seu nome envolvido em denúncias. Em delação premiada, o advogado Jonas Lopes Neto disse ter ouvido o subsecretário estadual de Comunicação do Rio, Marcelo Santos Amorim, afirmar que usou R$ 900 mil arrecadados em esquema de corrupção para pagar despesas pessoais do governador. A informação foi divulgada no dia 3 de março, pela TV Globo. Segundo a emissora, o dinheiro foi entregue por empresas da área de alimentação que mantinham contratos com o Estado do Rio.

Nos últimos 30 anos dois prefeitos deixaram marcas por causa das suas gestões à frente do governo municipal: César Maia e Eduardo Paes. Maia foi prefeito em 1993, 2001 e 2005. O seu filho, Rodrigo Maia (DEM-RJ), agora não sai do noticiário, até porque exerce um cargo relevante, o de presidente da Câmara dos Deputados. Ele é suspeito de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo inquérito do ministro Fachin. Ele teria recebido, pelo menos, R$ 1 milhão em três anos eleitorais.

Muitos imaginavam que o ex-prefeito César Maia iria ter uma aposentadoria tranquila e não teria seu nome envolvido com temas mais afeitos ao universo policial. Eis que surge mais uma surpresa. Maia é citado em dois inquéritos como suspeito dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, corrupção praticada contra a administração pública e lavagem de dinheiro.

César e Rodrigo Maia.Foto: DEM

O filho de César, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também está enrolado. Em entrevista, Rodrigo Maia afirmou que confia na Justiça e vai continuar confiando sempre. Declarou que as citações de delatores são falsas e os inquéritos serão arquivados. Segundo ele, o Ministério Público e a Justiça estão fazendo seu papel de forma competente.

Em um dos inquéritos, baseado na delação de Benedicto Barbosa, João Borba Filho, Cláudio Melo Filho, Carlos José de Souza Filho e Luiza Eduardo da Rocha Soares, tanto Rodrigo Maia quanto seu pai, César Maia, são suspeitos de receber repasses da Odebrecht em três anos eleitorais diferentes.

Em 2008, quando nenhum dos dois concorria a cargos eletivos, Rodrigo Maia teria solicitado e recebido R$ 350 mil do Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht “a pretexto de auxílio à campanha eleitoral”. Esse departamento da empresa ficou conhecido como “setor de propina”.

Em 2010, durante as eleições, ele teria solicitado um novo repasse para a campanha de seu pai. O valor do repasse, segundo os delatores, foi de R$ 600 mil, sendo que R$ 400 mil foram novamente pagos por meio do Setor de Operações Estruturadas. De acordo com o inquérito, o atual presidente da Câmara constava no cronograma de pagamentos do Drousys, um sistema de informática utilizado pela Odebrecht entre 2008 e 2014. João Marcos Cavalcanti de Albuquerque, assessor de Rodrigo Maia na Câmara, foi apontado pela empreiteira como o intermediário das operações.

No segundo inquérito, tanto Rodrigo Maia quanto César Maia são citados como suspeitos, ao lado do atual presidente do Senado Federal, Eunício Lopes de Oliveira, do ex-presidente do Senado Renan Calheiros e do senador Romero Jucá, de receber vantagem indevida para aprovar leis favoráveis à Odebrecht.

De acordo com o documento, os delatores afirmaram que as medidas provisórias 470/2009, 472/2010 e 613/2013 foram aprovadas após a Odebrecht pagar milhões de reais a diversos políticos do Executivo e do Legislativo. Rodrigo Maia é suspeito de receber R$ 100 mil. De acordo com os delatores, o codinome de Maia no sistema Drousys, na lista de beneficiários de propina, era “Botafogo”.

Eduardo Paes. Foto: Paula Johas/ PCRJFoto: Paula Johas/ PCRJ
Eduardo Paes. Foto: Paula Johas/ PCRJFoto: Paula Johas/ PCRJ

O ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB), que aparece em listas da Odebrecht com o pseudônimo “Nervosinho”, teria recebido R$ 15 milhões em propina pelos Jogos Olímpicos, segundo a delação premiada de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, do Departamento de Propinas da empreiteira. Segundo matéria publicada pelo jornal “O Estado S. Paulo” nesta terça-feira (11), as solicitações teriam sido feitas em 2012.

Secretário municipal de Saúde na primeira gestão de Eduardo Paes à frente da capital fluminense, Hans Dohmann pediu exoneração do cargo em fevereiro de 2013, quando foram denunciadas irregularidades em relação à empresa de esterilização Form Steril, que abastecia hospitais da rede pública do município com materiais irregulares.

O Estadão teve acesso a despachos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin assinados eletronicamente no dia 4 de abril.

“Dessa quantia, R$ 11 milhões foram repassados no Brasil e outros R$ 5 milhões por meio de contas no exterior. O colaborador apresenta documentos que, em tese, corroboram essas informações prestadas, havendo, em seus relatos, menção a Leonel Brizola Neto e Cristiane Brasil como possíveis destinatários dos valores”, relata Fachin.

O jornal destaca ainda que o ex-prefeito do Rio também foi delatado pelos executivos da Odebrecht Leandro Andrade Azevedo e Luiz Eduardo da Rocha Soares. Paes também teria negociado repasse de R$ 3 milhões da Odebrecht para a campanha a deputado federal de Pedro Paulo (PMDB) em 2010, segundo Leandro Azevedo. Pedro Paulo foi candidato de Eduardo Paes à prefeitura do Rio em 2016, porém, foi derrotado no primeiro turno. Benedicto Júnior delata que, em 2014, Pedro Paulo teria recebido R$ 300 mil, ‘de maneira oculta, para a campanha à prefeitura’.

“Essas somas seriam da ordem de R$ 3 milhões, tendo a transação sido facilitada por Eduardo Paes, ex-prefeito do município do Rio de Janeiro, por meio de contato com o diretor Benedicto Júnior. Afirma-se, nesse contexto, que, no sistema ‘Drousys’ [a rede de comunicação interna, uma espécie de intranet, dos funcionários do “departamento da propina” da Odebrecht], há referência a diversos pagamentos a “Nervosinho”, suposto apelido de Eduardo Paes”, conta Fachin em decisão que mandou investigar Eduardo Paes.

Todos os citados em delações e em investigações negam que tenham praticado qualquer ilícito. O problema é como eles convencerão os eleitores em próximos pleitos, se a descrença neles é enorme?

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