O Brasil em suspenso e seu ‘Day After’

Em janeiro de 2019, o Palácio do Planalto terá novos ocupantes. A ansiedade que marca o país desde o impeachment deixará de pesar sobre nossos pés. Legitimado pelas urnas, depositário de milhões de votos de confiança, o governo eleito poderá buscar novos caminhos para o Brasil se reencontrar. Provavelmente, estaremos discutindo outras questões no próximo janeiro.

Uma novidade se avizinha de nossas atenções. Em breve, estaremos ocupados com seus detalhes. O veredito que decidirá os rumos das eleições de 2018. Os dados já terão rolado, mas os resultados por demais visíveis permanecerão abertos, em nossas inquietações. Lembraremos argumentos levantados pela acusação e defesa, sem exatidão, no passo vago das possibilidades abertas e encerradas pela sentença mais televisionada da história do Brasil.

O ex-presidente que retornou, qual salvador da pátria?

O ex-presidente que foi impedido de se candidatar?

Ambas situações carregam as urnas do porvir para Porto Alegre, 24 de janeiro.

Em 1 ano, estaremos discutindo as filigranas jurídicas que os experts nos traduziam, em tempo real.

Esse evento – o de maior relevo para o futuro da Nova República, em 2018 – não tardará.

Não sabemos, a essa altura dos acontecimentos, em que pé estamos. Se estamos à altura dos desafios vindouros da democracia.

Aguardamos, com resignação.

Democracia, que nos dá escolhas. Transforma disputas e divisões em oportunidades, em algo novo.

Democracia, que nos cobra um preço. Apreço pelas regras, respeito pelos adversários de ocasião.

Dos segredos da democracia, um dos menos bem guardados é a necessidade de articular diferenças.

Outro que não se oculta facilmente é a necessidade de agregar esforços para sair do lugar-comum. Mesmos após revezes e tantas desilusões, mantemos nossa confiança na criatividade democrática. Confiança tamanha em tempos de crise, que a democracia adquiriu entre nós propriedades mágicas.

Novos nomes substituirão os velhos, empoeirados, impopulares, desmoralizados.

Cada vez temos menos interesse, menos tempo para articulações, diferenças, agregações, esforços.

Num passe de mágica, os impasses herdados e construídos pela Nova República desaparecerão.

No país do futuro, parecia garantido: as novas gerações não deitarão no berço de velhos scripts.

Iriam encontrar seus próprios caminhos, deixarão os antecedentes descansar sobre suas conquistas.

A ideia – já velha – de que a sociedade civil poderia cultivar mudanças através de contínua reflexão, debate e contestação parece obsoleta de vez em 2018. Acomodamos nossos temores, sem pudores.

Futuro em suspenso, não nos ocupamos de tantas e incômodas tarefas. No júri, meras testemunhas.

Sem pressa, aguardamos os próximos capítulos, a chegada de um prestidigitador.

Enquanto isso, a sociedade civil sumiu.

*diretor de Assuntos Internacionais, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT)