Bolsonaro é visto no exterior como um presidente que mais ‘atrapalha que ajuda’

Juan Manuel Santos. Foto: Divulgação

O impacto da entrevista do ex-presidente da Colômbia e receptor do Prêmio Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, à correspondente do site BBC News Brasil, Marcia Carmo, que mora em Buenos Aires na Argentina, foi muito grande entre os políticos brasileiros. Um deles confessou que ficou envergonhado.

A péssima imagem do Brasil no exterior por causa do Governo Bolsonaro, foi reforçada pela forma enfática por Manuel Santos. Ele lamentou a forma como o Brasil trata o coronavírus.”É uma loucura. Bolsonaro é uma liderança que em vez de estar ajudando a resolver o problema, está contribuindo para piorar o problema”, disse durante entrevista exclusiva à BBC News Brasil.

Leia alguns trechos que foram objeto de comentários em Brasília. Um senador ouvido pelo SRzd disse que “o presidente Bolsonaro é visto no exterior como genocida e que causa surpresa a passividade do povo brasileiro que não faz nada enquanto o número de mortos por coronavírus só aumenta”.

BBC News Brasil – A América Latina é a região mais desigual do planeta e agora está no foco da pandemia do novo coronavírus. As economias da região, como as do Brasil e da Argentina, já mostram queda acentuada. O que fazer?

Juan Manuel Santos – A região já não vinha crescendo economicamente, já tinha uma série de problemas, antes da pandemia. A América Latina é a região com um dos sistemas de saúde mais fracos e populações muito vulneráveis, como as comunidades indígenas, os presidiários e os pobres que vivem em condições muito precárias, além dos imigrantes, como os venezuelanos aqui na Colômbia. São populações ainda mais vulneráveis à pandemia. Tudo isso se juntou. E piorou com as políticas erradas dos líderes da América Latina. Dói dizer isso, mas o Brasil não fez um trabalho positivo. E o México também não.Não existe nenhum tipo de liderança regional para fazer valer a região em nenhuma instância do mundo. Estamos um pouco à deriva. É como um barco que não tem capitão, que está no meio de uma tormenta e o que nós precisamos nesse momento são lideranças efetivas. Mas, infelizmente, ninguém está fazendo isso.

BBC News Brasil – O senhor citou o Brasil. O Brasil é o maior país da América Latina em termos de população e econômicos e faz fronteira com a Colômbia. O presidente Bolsonaro disse que o coronavírus era uma gripezinha. Hoje, o Brasil já tem mais de 50 mil mortos por Covid-19. O que o senhor opina sobre esta política do presidente Bolsonaro?

Santos – Vou ser um pouco duro. É uma loucura. É uma loucura o que está acontecendo no Brasil. É uma liderança que em vez de estar ajudando a resolver o problema, está contribuindo para piorar o problema. E isso repercute no resto da região porque o Brasil é um país muito grande. Então, essa situação no Brasil é um péssimo exemplo da região. É uma política que está produzindo um fracasso total, uma verdadeira tragédia para os brasileiros e para o mundo.

BBC News Brasil – Na Colômbia, a cidade de Leticia, que faz fronteira com o Brasil, era até poucos dias atrás a mais afetada por coronavírus no país. O Brasil faz fronteira com dez países da região. O Brasil virou uma ameaça nesta pandemia por não ter uma política contra a Covid-19?

Santos – Sem dúvida. Nós estamos muito preocupados porque essa região amazônica (onde está Leticia) não está apenas sofrendo pela pandemia, mas as comunidades indígenas, que devemos preservar, porque são os melhores guardiões de um ecossistema que é fundamental para o mundo, podem desaparecer. Estão totalmente desprotegidas.Essa falta de política por parte do Brasil repercute imediatamente, como ocorre no caso colombiano. Como você acaba de mencionar, uma das regiões com mais casos, e contágios mais rápidos, e mais mortes é exatamente a região que faz fronteira com o Brasil, na Amazônia. Por isso, a política do Brasil influencia o resto da América Latina e a influencia que está tendo é muito negativa.










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