O atrito do governo federal com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também é um teste para os jornalistas da imprensa especializada na cobertura econômica no país. Existe uma compulsão em parte dela, dada a viés ideológico liberal e proximidade com as chamadas “fontes” do mercado, a induzir o público consumidor de conteúdo a acreditar que banqueiros, corretores, analistas de agências privadas que operam aqui e no exterior estão sempre certos. O que pode contaminar a compreensão real de cada acontecimento.
Nesta segunda (6), em dois canais de notícias dedicados ao all news, os comentaristas tomaram posição em favor de Campos Neto no seu embate com Lula e o ministro Fernando Haddad, como se fossem árbitros do que está acontecendo e do que está por vir.
Num determinado programa que finge ser isento, chegou-se a constatação que quando o presidente Lula indicar dois próximos diretores para a composição do BC, conforme determina as atuais regras do jogo, já de antemão seriam dois “capachos” e que trabalharão para desprestigiar a gestão do atual presidente do Banco Central. Esta afirmação é perigosa e desrespeitosa com os indicados que ainda não foram anunciados. Esperamos comentaristas íntegros e não a adoção do estilo “mãe Dinah”.
Imprensa tem que evitar a militância que agrada ao mercado financeiro, mas não ao bom jornalismo.
Os jornalistas que deveriam trazer a notícia como ela é, comentar com dados relevantes elucidativos precisam ser equidistantes do peso de cada personagem envolvido e fugir de militância que pode até agradar esta figura poderosa que se chama mercado financeiro. Caso contrário, estaremos estimulando um modelo absurdo eternizado pela ficção, campeão de bilheteria, o filme “Minority Report”, de Steven Spielberg, protagonizado por Tom Cruise.
A história que se passa em 2054 mostra que existe um sistema de alta tecnologia que permite antecipadamente prever a existência do fato, que crimes sejam descobertos com precisão mesmo que não tenham acontecido, o que faz com que a taxa de assassinatos caia para zero. O problema começa a acontecer quando o detetive John Anderton, agente da lei, descobre que foi previsto um assassinato que ele mesmo irá cometer, colocando em dúvida sua reputação ou a confiabilidade do sistema.
Como acreditar que jornalistas econômicos, ainda que bem equipados, dizem que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está certo em tudo. Se permitam pelo menos informar que existe o contraditório?
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